10. Luísa e Henrique - Encontrando Romance

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Mudei-me há pouco para uma casinha pequena na beira de um riacho a 20km de qualquer centro urbano

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Mudei-me há pouco para uma casinha pequena na beira de um riacho a 20km de qualquer centro urbano. São duas pequenas salas, um banheiro e dois quartos. A casinha é toda avarandada e bem ventilada. Tenho um beagle que me acompanha para todo lado que vou – Botão -, um cavalo manso, um jardim vasto e um caseiro – Sr. Paulo. Passo os dias em minha varanda com a máquina de escrever em cima d'uma mesa de madeira e um pilha de papéis embaixo de um peso para papel redondo e de vidro. Dentro dele há um pequeno redemoinho de cores vivas e veranis.

Um dia desses, sem inspiração que me bastasse para retornar aos meus escritos, atirei-o sobre o gramado logo a frente de mim. Afundou na grama fofa. Peguei-o de volta e lavei no riacho. Daí veio a inspiração de escrever sobre ela. Luísa. A nova-senhora do outro lado do rio, com as cochas de fora e os cabelos presos em um coque desalinhado. O caminhar mudo e sem rumo, o olhar distante e incerto, o vento soprando os fios soltos de seu cabelo e fazendo o vestido hora dançar, hora passear sobre as pernas grossas. Andava distraída quando a vi pela primeira vez e também da segunda. Na terceira vez que a avistei, ela descia a suave colina que dava da casa dela para o riacho com galochas brancas e uma calça jeans, um chapéu de jardinagem e uma blusa de flanela vermelha. Olhou em minha direção uma ou duas vezes, mas não me viu. Botão traiu-me e foi ter com ela do outro lado. Voltou para o lado de cá com um perfume único no pelo.

Dia desses, Luísa parou do outro lado do riacho e chamou: "Ei! Vizinho!" Assustei-me, afinal as linhas corriam aceleradas na máquina de escrever e as folhas em branco preenchiam-se de letras e riscos no que pareciam ser segundos. Luísa chamou-me. Olhei para ela verdadeiramente pela primeira vez. Ela estava do lado de cá, olhando para mim do gramado com Botão a pular em suas pernas pedindo afago e atenção. Um "Oi" sufocado saiu da minha garganta. Ela perguntou se o cachorro era meu, disse que sim, e ela perguntou o nome. Disse-lhe "Botão" e ela reiterou dizendo que havia me perguntado sobre o meu nome, o nome do cachorro estava na medalhinha da coleira. "Henrique". Foi o que consegui dizer. Ela me convidou para um chá do outro lado do riacho, na casa dela. Pus-me constrangido como um menino de 15 anos que vê uma mulher bonita com os peitos de fora pela primeira vez. E Luísa era linda, apesar de nunca tê-la visto com os peitos de fora. Disse que sim e ela marcou para o dia seguinte às 4, pouco antes dos britânicos. Ela despediu-se e a vi caminhar com meu cachorro ao seu encalço até o flamboyant que ficava na passagem para o trecho raso do riacho. Ela atravessou por ali mesmo, enquanto Botão latia ansioso do lado de cá. Eu estava em pé com as mãos espalmadas no corrimão da varanda vendo esta cena aparecer e desaparecer num pedaço de entardecer que pareceu melodioso e melancólico. Fez-me lembrar a descrição que fiz de Lorena em meu texto de maior importância.

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"Morena de cabelos negros que lhe desciam as costas até pouco abaixo da cintura. Uma pura Gabriela de Jorge Amado se não fosse pela essência sagaz e nem um pouco inocente que lhe fazia as feições de mulher feita. Lorena exalava um perfume de aroma doce e confortante. Tinha o corpo esguio de uma dessas modelos de passarela e o rosto de um dessas donzelas de mármore, as ancas das pinturas renascentistas e a voz delicada e vertiginosa."

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Na tarde seguinte, às 4 da tarde, Luísa me esperava do outro lado de riacho compartilhado. A feição suave e o olhar atento. Não estava perdida. Parecia não estar. Levou-me ao pé de acerola do lado de lá do riacho. Enquanto Botão latia e exigia atenção, ela deu-lhe algo com o que se distrair. Minhas mãos tremiam, enquanto ela parecia não se importar com meu já aparente nervosismo. Havia estendido no chão um cobertor quadriculado e uma caixa rasa com uma pequena refeição que nos esperava. Acendeu o fogareiro e colocou água para ferver. Serviu-nos de bolos e bolachas enquanto a água começava a fazer barulhos de que já fervia.

Serviu-nos chá.

Enquanto minhas mãos paravam de tremer, ela me fez sentir confortável e perguntava sobre como tinha encontrado a casinha (era herança de família), e sobre o que fazia para viver (era escritor), se era casado (não), se pretendia ficar muito tempo (até terminar o livro), se amigos viriam visitar-me (ocasionalmente) e se gostaria de um pouco mais de chá (sim).

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Gabriella Almeida

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