ANO NOVO - PRÓLOGO

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Quinta-feira, 22:45

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Quinta-feira, 22:45

Henrique não chegou em casa, pensa avançando mecanicamente os canais da TV à cabo. Acaricia a cabeça e a orelha do seu cachorro repousada em seu colo.

Um mês depois:

Henrique deveria estar em casa.

A TV está em um volume agradável, sintonizado num Especial de Nat King Cole.

Luísa acaricia distraidamente a cabeça de Príncipe, seu cachorro.

Seus olhos estão perdidos fitando a reprodução do especial em preto e branco.

Seu coração para um segundo. Lágrimas ameaçam cair. Respira fundo.

Dois meses depois:

Henrique não está em casa.

A porta dos fundos está aberta. Um saco-peso a segura firmemente para que não bata com a força da brisa. Luísa está sentada numa das cadeiras do conjunto de jantar que comprou propositadamente para ficar do lado de fora.

Príncipe corre alegremente atrás de uma borboleta durante seu passeio matinal.

Luís, seu Chef, traz o almoço e volta para a Pousada, dando-lhe um beijo terno na testa antes de sair.

- Volto à noite com o jantar, Ok? - ela não responde. Seus pensamentos livremente vasculham os cantos de sua memória. Um lágrima solitária ameaça sair. Ela não permite.

Três meses depois:

O bip da secretária eletrônica não provoca nenhuma reação imediata em Luísa. Há dias que seus familiares ligam para perguntar a mesma coisa: "Você está bem?" ou "Por favor, me liga..."...

Sentada no chão com as costas apoiadas num dos balcões de sua linda cozinha, ela tem os braços defensivamente ao redor dos joelhos e o queixo encaixado no vale entre eles. Seu olhar se perde entre as cores primaveris das portas do outro balcão a poucos metros de distância.

"Nalu, é Camila. Estou preocupa. Me liga. - há um suspiro abafado - Te amo."

A voz de sua irmã é gentil e a faz despertar por um segundo ou dois. No terceiro ou quarto, seu olhar se perde novamente entre a aquarela das suaves cores. Príncipe levanta do seu cantinho ao pé do sofá e caminha cabisbaixo pelo meio da cozinha. Senta-se lenta e docemente ao seu lado, primeiro as patas traseiras, depois arrasta as dianteiras e acomoda a cabeça entre elas.

Quatro meses depois:

- D. Luísa? - Joana chama uma vez. - D. Luísa? - e uma segunda.

Joana, a senhora que cuida da limpeza da casa, entra no enorme quarto com carpete cinza claro e encontra Luísa enrolada como um pequeno feto no divã na parte leste do quarto. Ela dorme... Cobrindo-a com um cobertor macio e quente, Joana sai, deixando sobre a mesinha de madeira entalhada uma porção de torradas com geleia e um copo de suco de frutas.

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