9. Carolina e Bento - Amor Maior ou Um forró pra nós dois

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Ponha teus braços ao redor de minha cintura e me leve pra dançar.

Pus meu vestido rodado e minha sandália rasteira, pus na bolsinha de mão meus documentos e meu batom rosa-chá. Quem dera tivesse encontrado aquele cinto largo e pudesse acrescentar. Não interessava mais, aliás, pois já escutava teus passos no corredor e em seguida te vi encostar o rosto na moldura da porta e sorrir aquele sorriso ingênuo e tão genuinamente teu. "Tá pronta, moça?", eu disse "Tô".

Você pôs sua sandália de dedo que estava no tapete da porta. Com uma mão já na maçaneta você se virou e com a outra me puxou de supetão, envolvendo teu braço em minha cintura, me puxando pra perto, com teu jeito moleque, esbanjando charme e um ar sedutor que você tem de me olhar e me intimidar... "Você tá linda". Você disse cheirando e beijando e tirando uma casquinha do meu batom. "Grata", sorri sem jeito.

No hall do elevador, você olhava pro meu vestido não sei se pensando se estava curto ou comprido ou se somente olhando o balanço do tecido ou se apenas admirando o conjunto. Aquele olhar de quem me olhava vestida e me via nua a cada piscadela.

Enquanto aguardávamos o elevador, com as mãos entrelaçadas, você beijou as costas de minha mão, se demorando um pouco sentindo o cheiro de minha pele, me olhando por cima de um sorriso faceiro. As portas se abriram e dissemos em uníssono "Boa noite" para os vizinhos do andar de cima enquanto entrávamos e você me olhava como quem estava desapontado por não estarmos sozinhos. Você decididamente estava mais romântico aquela noite. Era sábado. Devia ser isso.

Éramos felizes com a vida de recém reunidos que tínhamos. Namoramos por um ano e meio antes de decidirmos morar juntos, escolhemos um apartamento legal, num prédio decente um pouco distante do centro, mas perto o suficiente para mantermos nosso conforto de não precisar sair de carro a noite. Com o trânsito daquela cidade, sempre achávamos melhor caminhar ou pegar o metrô. Seriam, por exemplo, 25 minutos até chegarmos ao "Salão", entre dois metrôs e uma quadra de caminhada, mas não conseguiríamos fazer o mesmo percurso em menos de 50 minutos se estivéssemos de carro.

O caminho todo você não largou a minha mão enquanto falava entusiasticamente sobre o seu dia. Eu me sentia realmente satisfeita ao ver o quanto você gostava do que fazia, o que era bom e gostava também de manter nossa amizade viva sempre me contando das coisas e dos fatos, o que era ainda melhor.

Contou do Gustavo que era hiper criativo, mas estava sem conseguir cumprir os mapas da Zona 2 e da Sofia que estava grávida de uma menina e que já tinha assinado o chá de bebê que seria próximo dia 13. Falou do jantar com sua mãe e que não fazia a mínima ideia se seria nesse domingo ou no próximo, mas que iria ligar pra ela amanhã e que se tivéssemos que levar alguma coisa a gente dava um jeito ou comprava na deli ou na Padaria do Franco.

Já estávamos caminhando a quadra que antecedia o Salão e você parou na lojinha de conveniência da esquina. "Quer chocolate?", falou enquanto me puxava pra dentro sem nem esperar que respondesse. Comprou um chocolate e uma garrafa d'água que acabou abrindo ali mesmo e bebendo metade quase num só gole. Abriu o chocolate, quebrou um pedaço e me deu na boca, seguido de um beijo longo. Senti seu coração pulsar acelerado como há tempos não sentia. "Vamos".

De mãos entrelaçadas caminhamos como um casal de novos namorados, sorrindo e trocando beijinhos e completando as frases um do outro. Engraçado como depois de certo tempo juntos esses dias românticos me lembravam nossos primeiros encontros.

Daquela primeira vez que fomos ao Salão e você ainda morava do outro lado da cidade e mesmo debaixo de muita chuva você cumpriu com o combinado. No dia seguinte, me ligou, rindo, dizendo que estava gripado e teria que ficar em repouso se quisesse trabalhar no dia seguinte.

Uma outra vez na qual fomos em um daqueles parques de atividades indoor e pulamos juntos de banging-jumping e ainda fomos numa daquelas corridas de lama e obstáculos e no final do dia, depois de um bom banho no seu apartamento – com quem compartilhava com mais 3 caras, aliás – rolou nossa primeira vez e foi tão bom como se já nos conhecêssemos há mais tempo.

Chegando ao Salão, deixamos as sandálias no balcão e fomos dançar como gostávamos: de pé no chão e tão juntinho que os quadris se alinhavam em um só movimento. Cê me girava pelo salão pondo minha saia pra rodar solta e contente, brincando com nossas pernas e se rendendo a sua maneira doce de me conduzir.

Era uma dança de um só dançada por dois corpos, como em uma peça de ballet. Você não me deixava perder a postura e eu não te deixava trombar acidentalmente nos casais vizinhos. Ao som da zabumba, da sanfona e do triângulo, todo o Salão ia se abrindo numa roda encantada de baião. Eram duas rodas: mulheres na roda de fora e homens do lado de dentro, a ciranda de saias rodando ao sabor do bater de palmas e o sanfoneiro comandava a cadência, o som da zabumba marcava o passo e o triângulo fechava a harmonia. "Casa comigo?" cê falou no meu ouvido em meio da ciranda de palmas e rodopios. Como numa quadrilha, os casais trocariam de parceiros por um momento e num giro a dama seria recebida por um próximo parceiro, até que finalmente voltasse para seu par original.

Não sei quantos casais éramos aquela noite, mas as permutas de casais pareciam não ter fim. Meu coração se acelerava a cada giro no qual podia te ver, com um sorriso divertido e satisfeito me olhando ansioso e confiante. Meu coração acelerado começava a perder o compasso da dança, mas era você o próximo da roda e me segurou firmemente sem me deixar vacilar e segurou minha cintura contendo meus tremores de se mostrarem. Numa nuvem clara de pensamentos felizes e desejados há tempos, entre um soluço contido e uma batida da zabumba, tudo que consegui dizer foi "Sim".

Foi nesse forró que você me pediu pra compartilhar uma vida contigo, não apenas as despesas e a cama, o banheiro e os almoços de domingo, mas compartilhar uma caminhada juntos. Sentia um misto de emoção e alegria e satisfação e contentamento.

A roda se abriu novamente e estávamos no centro do salão, a sanfona chorando e as palmas da mão marcavam o compasso, você se ajoelhou e me pediu em casamento, pôs a aliança dourada em meu dedo e beijou minha mão. Não me contive de tanta felicidade, meu coração acelerado, se ritmando com a zabumba e voltando bater numa batida só minha e tua. As palmas batidas ao sabor da música se transformaram em aplausos enquanto eu me recompunha em teu abraço afetuoso e apertado.

Foi um sonho de poucos minutos que faríamos durar uma vida inteira de sorrisos e palmas e nossos corações palpitando no ritmo cadente de uma zabumba.

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Gabriella Almeida

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