IX. Não sou gay, sou Turner

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TURNER

Sorri levemente ao sentir a mão macia em meu peito nu e a voz risonha em meu ouvido. Fechei os olhos e me deixei levar pelo cheiro de sabonete que vinha do corpo em mim colado.

Estávamos deitados, pude perceber. As pernas alheias estavam enroladas com as minhas e o corpo quente e macio em meu lado direito parecia invadir meu espaço pessoal. Senti braços rodearem-me a cintura enquanto o ser risonho deixava um leve roçar de lábios em meu ombro.

Abri os olhos, podendo então vislumbrar a luz inebriante da lua que entrava pela janela. Pelo canto de olho, pude ver os olhos verdes concentrados em mim.

Will tinha um sorriso no rosto que iluminava seus olhos, mesmo no escuro. Seus braços estreitaram-se em minha cintura, enquanto eu acariciava os cabelos claros bagunçados, mais compridos que o normal. De perto, podia ver a covinha afundar-se em sua bochecha esquerda antes dele baixar a cabeça e juntar os lábios ao meu ombro novamente.

Já virado em sua direção, abracei-o com os dois braços, enquanto sentia os lábios macios subirem em meu pescoço, mais atrevidos que antes. Ergui a cabeça involuntariamente enquanto ele subia os lábios molhados até meu queixo, deixando escapar um leve riso. Will deixou os beijos para me encarar. Baixei a cabeça devagar, com o mesmo objetivo.

Quando nossos olhos ficaram na mesma altura, não hesitei em juntar meus lábios com os avermelhados de Will, que sustentava uma das mãos em meu rosto. Então abri a boca, sentindo nossas línguas úmidas se unirem, me trazendo a leve sensação de finalmente estar...

— Rich?

De repente, alguma coisa em meu braço esquerdo passou a me incomodar. Aos poucos, passei a ficar consciente do meu corpo e das sensações ao redor. O cheiro de comida invadiu minhas narinas ao mesmo tempo em que pude sentir uma leve brisa em meus braços desnudos.

— Rich! — A voz familiar repetiu, desta vez um pouco mais alto.

Abri os olhos rapidamente, vendo o rosto franzido de Jay. Este estava sentado na beirada do sofá onde me encontrava deitado, e chacoalhava-me o braço esquerdo de forma nada delicada.

— Onde é o incêndio, Jay? — perguntei depois de resmungar, sentando-me no sofá, onde havia adormecido.

— Em lugar algum, espero — respondeu-me, com um sorriso debochado. — Hoje está frio e você está todo suado, cara. Que sonho era esse? — perguntou, trocando o deboche pela malícia.

Alguns fragmentos de memória do que eu havia sonhado voltaram subitamente à minha cabeça, enquanto eu sentia todo o sangue do meu corpo subir ao rosto. Caralho!

A risada de Jay inundou o apartamento, como de costume. Me deu um leve tapinha no braço, como se soubesse de tudo, antes de levantar do sofá e caminhar em direção à cozinha.

— Mas bom — falou ao andar —, eu prefiro não saber, na verdade. — disse, com uma risada. — Você pode apreciar dos detalhes sozinho — completou, inundado de malícia.

Revirei os olhos, tentando inutilmente afastar a imagem do meu aluno – meu aluno! – com o corpo nu – nu! – colado ao meu. Era tão vergonhoso que cogitei a ideia de não ir à universidade amanhã.

Pisquei algumas vezes, olhando a porta da varanda aberta e atrás desta, a lua inebriante visível no céu noturno. Sim, já era noite. E estava mesmo frio, concluí, esfregando os braços nus. A leve brisa era o suficiente para fazer balançar as cortinas de cor bege postadas em frente à porta de vidro da varanda.

Made of FireOnde histórias criam vida. Descubra agora