XVI. Tão singelo quanto um beijo de despedida

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WILL 

As gotas d'água caíam incessantemente lá fora, em uma velocidade tão alta que eu mal as podia ver. Escorriam pela janela com gana, como se disputassem entre si. O cheiro de asfalto molhado chegava dentro da sala, apesar de estarmos no segundo andar. O vento frio seria impedido de entrar em poucos segundos, percebi, ao ver todos os estudantes que sentavam ao lado da janela inclinarem-se com o intuito de fechá-las.

Era como se o mundo estivesse juntando-se à mim na tristeza.

Desviei o olhar para meu lado direito, onde Gabe apoiava-se na classe de Laurel rindo de algo que ela dizia sobre as festas do fim de semana. Ele sempre sentava-se na classe à frente de Laurel, enquanto que eu sempre sentava do lado esquerdo deles. Soltei um resmungo, vendo-os dirigirem os olhares à mim.

— Eu não acredito que ele* morreu — reclamei para eles, vendo-os revirar os olhos.

O começo da temporada havia estreado no dia anterior, finalmente mostrando quem morreria nas garras farpadas do vilão.

— Querido — pronunciou-se Laurel, com o tom falsamente meigo —, quantas vezes mais você pretende falar a mesma porra? — completou, a voz transformando-se a cada palavra em um tom irritado.

Desta vez fui em quem revirou os olhos.

— Vocês não entendem — resmunguei, virando a cara.

A risada de Gabe reverberou pela sala, chamando a atenção das outras pessoas ali dentro. Laurel encarou-o com um olhar sinistro antes de voltar os olhos à mim.

— Pelo menos não foi o coreano que morreu — disse Laurel, apertando os lábios, como quem não quer nada.

As palavras da garota de cabelos vermelhos atingiram meus tímpanos de forma ensurdecedora. Virei bruscamente em sua direção, sentindo a indignação tomar conta de meu corpo.

Não, ela não podia estar falando sério!

— Mas ele é o coreano! — retruquei, indignado, em um volume mais alto que o planejado.

A troca de olhares entre eles durou apenas um segundo antes dos sons engasgados saírem de ambas as bocas. Só percebi que Laurel pressionara os lábios justamente para não rir quando o som de sua gargalhada juntou-se à de Gabe, ecoando pela sala de forma nada delicada. Os dois inclinaram-se sobre os próprios corpos com o intuito de tentar, inutilmente, fazê-los parar de chacoalhar. Bufei pesadamente.

Inacreditável!

— Você viu a... — tentou Laurel, voltando a rir antes de respirar fundo para continuar: — Você viu a cara... — começou mais uma vez, sendo impedida pela própria risada. Desatou-se a rir, apoiada na mesa, quando a gargalhada de Gabe reverberou praticamente em seu rosto. Ambos estavam da cor dos cabelos de Laurel enquanto limpavam as lágrimas.

Francamente, qual o motivo da felicidade dessa gente em um dia chuvoso?

Mal tive tempo de abrir a boca para protestar quando vi o pessoal começar a entrar na sala de aula. Além da gente, haviam mais umas oito pessoas dentro da sala, enquanto o resto conversava do lado de fora. Vi a cabeleira ruiva de Cenoura antes de ver seu rosto, no meio dos alunos que entravam apressados. Sentou-se atrás de mim, franzindo o cenho para o casal ao nosso lado, que dizia coisas incrivelmente idiotas um para o outro e postavam-se a rir ainda mais.

— O Dragão chegou — avisou à eles, acalmando as risadas levemente.

Senti meu corpo inteiro entrar em alerta, virando para frente com rapidez, em uma postura mais ereta do que o necessário. Desviei o olhar da porta somente para ver Gabe passando os olhos por mim, estudando minha reação, antes de virar para frente também. Então, a criatura mística entrou na sala, abalando a todos com sua beleza de outro mundo.

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