XIII. Algo tão lindo quanto fazer-te sorrir

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TURNER

Alguma coisa estava acontecendo.

Eu não podia dizer o que era, mesmo pensando muito, mas alguma coisa estava errada. Algo além do que meus olhos podiam ver. Algo além do que minha intuição podia sentir. Algo além do que meu tempo como professor podia decifrar.

Porém, definitivamente, alguma coisa estava acontecendo.

Estreitei os olhos ao observar meus alunos por mais um tempo.

Jessica acabava de inclinar-se em direção à sua amiga, também principiante em minha matéria, e cochichar algo que fez a segunda rir. Mais adiante, Laurel parecia fuzilar as duas com os olhos e batia o pé no chão sem parar. Não virou para participar da conversa com seus amigos durante minutos, concentrada em fazer a outra explodir em pedaços com seu olhar. Ao menos, era o que parecia.

Desviei os olhos para o lado esquerdo do lugar. George tinha um sorriso malicioso no rosto ao falar alguma coisa para os amigos. Seu sorriso malicioso, no entanto, não era nada como o de Will. Era maldoso. E eu tinha certeza de que as palavras que saíram de sua boca poucos segundos antes também eram maldosas.

Ao lado destes, estavam Garrett e outros repetentes – pela terceira vez, a propósito – que também conversavam entre si. No entanto, pareciam indiferentes em relação ao que diabos fosse que estava acontecendo por ali. Ao contrário do grupo de amigos de Naomi, que parecia completamente alheio à situação.

— Sr. Turner? — A voz à minha esquerda tirou-me da concentração. — Está tudo preparado — foi anunciado pelo homem loiro de uniforme, com um aceno de cabeça. Agradeci e desviei os olhos ao senhor que vinha em minha direção e tomava o posto ao meu lado.

— Tudo certo? — perguntou-me Edwards. Assenti levemente.

— Pessoal, está tudo preparado para irmos agora — disse ele, virado para os alunos. — Então arrumem suas coisas, peguem o que falta e, se necessitarem, corram para o banheiro, porque partiremos em dez minutos, sem falta — sentenciou, entrando no ônibus de viagem às nossas costas.

Em seguida, me dirigi em frente à porta deste. Havíamos distribuído fichas com numeração para que nenhum engraçadinho viesse sem ter pago o valor da viagem.

— Vou precisar que façam uma fila indiana — disse à eles e, ao ver a careta de alguns, prossegui: — Isso mesmo, exatamente como no colégio. Vamos lá!

Eu havia chegado ao nosso prédio alguns minutos antes das cinco horas da manhã. Hoje era sexta-feira e era o dia da viagem até a empresa da minha família. Tive que chegar antes com Edwards para organizar o que era necessário. Os alunos começaram a chegar alguns minutos após nossa chegada.

Desviei os olhos para eles, que agora sustentavam a fila indiana em frente à porta do ônibus. Assenti para Karen, que logo entrou nele com a mochila nas costas.

Voltei a mente para o que estava acontecendo alguns minutos antes.

O clima tenso não estava presente quando os alunos começaram a chegar e se preparar para a viagem. Não estava presente até depois do momento em que estávamos todos postos em frente ao prédio, esperando o ônibus que viria até nós. Foi depois. Depois que todos já haviam arrumado algum lugar para sentar e depois de reclamarem incessantemente de sono.

Em algum momento, os cochichos reinaram junto das encaradas entre si. As risadas vieram junto e os olhares raivosos - como o de Laurel - também. Eu não soube dizer como começou nem o porquê. Porém, me incomodava profundamente. Não porque eu sou ótimo professor e me preocupo por meus alunos. Pelo contrário. Porque eu sou péssimo professor – e cheguei à essa conclusão alguns dias atrás - e me preocupo com um aluno específico.

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