XVII. Cara, você está tão na minha

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TURNER 

— Estou ficando tonto — ouvi a voz entediada de Jay inundar meus ouvidos. Ignorei-o deliberadamente.

Alguma coisa estava seriamente errada, afinal.

— É sério, Rich! Pare de andar em círculos que não vai ajudar em nada — disse ele, fazendo-me finalmente encará-lo. As sobrancelhas estavam erguidas e o rosto estava contorcido em uma careta. Os olhos castanhos me observavam com atenção.

Suspirei, finalmente sentando ao seu lado no sofá.

— Ele se deu conta — falei, verbalizando meus pensamentos. — Ele com certeza deu-se conta de que isto não vai funcionar. Ou pior — lembrei arregalando os olhos —, deu-se conta de que não quer nada comigo. Estou muito velho, afinal. Ele definitivamente deu-se conta — resmunguei, afundando no sofá com um suspiro — de que era só da adrenalina que ele gostava.

Quando o silêncio tornou-se desconfortável, virei na direção de Jay. Este me encarava com uma carranca e, assim que nossos olhos se encontraram, ele revirou os seus olhos castanhos.

— Você não disse que só vê ele na segunda e sexta-feira? — perguntou, com uma cara de entediado.

Bufei, encarando a televisão ligada no volume baixo.

— Minhas aulas são na segunda e sexta-feira — expliquei —, mas eu vejo Will nos outros dias também — resmunguei. Eu via Will nos outros dias, corrigi mentalmente.

Jay manteve-se imóvel ao meu lado por um tempo, antes de voltar os olhos para seu livro, folheando uma das páginas.

— A coisa está mais séria do que pensei, então — falou ele, reprimindo um sorriso.

Levantei do sofá, caminhando de um lado para o outro na sala novamente.

— Não, não está — falei, irritado. — Isto é o que estou tentando te dizer! Will não apareceu em minha sala nestes dias, provavelmente arrependido de tudo que aconteceu entre nós.

Com certeza Will estava arrependido.

Repassei mais de cinquenta vezes nossa última conversa em minha mente, pensando se eu havia dito ou feito algo errado. Ele havia ficado envergonhado por me dar um beijo de despedida, mas não pareceu tão envergonhado a ponto de evitar-me pelos próximos dias. Afinal, este era Will. Não é como se ele deixasse a vergonha – ou qualquer coisa – afetar seus objetivos. O que me levava à mais óbvia conclusão: eu já não fazia parte de seus objetivos. Ele já não me queria.

Dirigi-me para a cozinha, determinado em fazer alguma coisa para esvaziar a mente. Abri a geladeira, aliviado ao encontrar algumas garrafas de cerveja.

Álcool, dei-me conta com alívio.

Jay seguiu-me até o cômodo e parou ao meu lado. Estava usando pijama e tinha os pés descalços, assim como eu. Entreguei-lhe uma das garrafas para abrir a minha logo após. Virei a garrafa, bebendo praticamente metade da conteúdo nela contido de uma vez só.

Jay insistiu tanto que finalmente conversei com ele a respeito de Will. No entanto, nos outros dias ele não apareceu em minha sala. Não esbarrei com ele nos corredores e não o vi em nenhuma das salas pelas quais passei.

Não que eu o tivesse procurando, mas eu o estava procurando.

— Rich — Jay pronunciou-se —, ele provavelmente está ocupado com a faculdade. Ou confuso. Ou apavorado — falou, como se melhorasse a situação. Estanquei no lugar, minha mente voando.

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