XX. Te quero, te recruto

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 WILL 

— Não precisava me levar — falei, desconfortável ao remexer-me no banco de carona.

Turner havia me buscado em casa às sete da manhã para me trazer para a universidade. Por pouco minha mãe não o vê, já que ela estava desperta, tomando café na cozinha. Cozinha esta que contém uma janela. Janela esta que mostra uma visão perfeita da rua. Rua em que o lustroso carro de Turner – apesar do meu professor não aceitar o dinheiro da família e não conter o melhor salário do mundo, ele fazia questão de ter um carro potente – estava estacionado. Com ele dentro!

Respirei fundo novamente, deixando o ar entrar em meus pulmões de forma mais abrangente.

— Depois da cena que o George fez ontem no corredor — disse ele, preocupado — eu não penso em deixar você fora de vista. Não quando posso estar de olho em você — completou, com determinação.

Fechei os olhos com raiva ao lembrar de George. Aparentemente, ele não havia se importado com a maior parte dos estudantes que o odiavam agora. Empurrou-me contra a parede mais uma vez, cuspindo o chão ao me observar. Bom, pelo menos ele não cuspiu em mim. Isso que importa.

— Will... — A voz de Turner invadiu o carro novamente, fazendo com que eu abrisse os olhos. — Pode ter sido ele — falou, receoso ao me olhar rapidamente. — Não vou deixar que toquem em você de novo.

Turner devia ter interpretado minha raiva como dirigida à ele, e não à George.

— Tudo bem, não se preocupe — falei, tentando conter as batidas do meu coração.

Não gostava de vê-lo preocupado, mas gostava mesmo assim. Não importa que isso fizesse de mim uma pessoa ruim, mas me encantava ver que meu professor se importava tanto comigo.

Levei uma mão à sua perna e apertei levemente, sorrindo quando ele desviou o olhar da estrada para mim. Era uma forma de confortá-lo, já que podia ver os nós de seus dedos brancos ao apertar o volante devido ao assunto George. Turner sorriu de volta, relaxando aos poucos. Suspirei.

Eu ainda não me acostumara com seus sorrisos.

Eu não me acostumara com nada relacionado à Turner. Passei a balançar a perna novamente, sentindo o desconforto voltar ao meu corpo enquanto observava a rua passar rapidamente pela janela. Havia certa quietude alarmante naquele horário da manhã, em toda a cidade.

O que eu diria à minha mãe se ela visse meu professor buscando-me em casa?

Eu não havia contado ainda que eu sou gay. Não quero ver as reações, então estou adiando essa conversa o máximo que posso. Porém, mesmo que dê tudo certo, explicar que eu estou saindo com meu professor é outra história. Também não sei como Turner contaria à sua família. Não havíamos conversado sobre isto, talvez pelo receio de ambos os lados.

Ter alguém como Turner me beijando e se preocupando comigo era um privilégio, com certeza. Mas eu não fazia ideia de como faria minha mãe entender isto. Ou meu irmão.

Mordi o lábio inferior com força ao observar a universidade tomar forma à minha frente. Havia mais isto: a universidade. Mais um problema. Mais um obstáculo.

Não é como se estivéssemos cometendo um crime, mas os outros podem ter uma opinião diferente. Pessoas são idiotas.

— Will? — perguntou-me ele, me tirando dos devaneios. — Tudo bem? — perguntou, relanceando-me com o cenho franzido antes de virar uma curva em direção ao nosso prédio.

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