XXIV. Uma dose de valentia, por favor

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TURNER

Não? — Rob perguntou pelo telefone. — Como não?

— Não, Rob! Eu não penso ir para casa neste fim de semana ou no próximo, ok? — deixei claro, já irritado, ao sair da loja de xerox da esquina de casa.

Rich, eu não falo por mim, tá bom? Nossos pais estão reclamando que você não aparece aqui faz tempo — falou ele, logo mastigando alguma coisa.

Rolei os olhos.

— Eles estão reclamando mais agora porque você abriu essa boca grande e contou sobre o Will! — xinguei, vendo o olhar de algumas pessoas sobre mim na rua.

Ah, então o nome dele é Will? — perguntou, como se eu nada houvesse dito. — Bom saber.

— Robert, eu vou socar a sua cara! — grunhi, desviando de uma mulher.

Desculpa, Rich — disse ele, sincero. — Mas pelo menos eles não sabem que seu romance é com alguém que não tem seios. — Sua gargalhada repercutiu pelo celular.

Tampouco sabem que é meu aluno, pensei, Rob incluso.

Desculpa, desculpa — repetiu novamente quando a risada cessou.

Robert podia ser tão esperto quanto uma pedra, às vezes. Deixara a porta aberta ao tagarelar com Becca sobre meu relacionamento com Will - o que, a propósito, eu não havia permitido -, fazendo com que minha mãe ficasse ainda mais atazanada com a ideia de eu ir visitá-los o mais rápido possível. Me ligara, dizendo que estava ansiosa para conhecer a nora e que eles preparariam um jantar especial para isso.

Óbvio que eu não iria.

Por que você não vem neste fim de semana com o cara e arranca o band-aid de uma vez? — perguntou ele quando o silêncio reinou. — Você não pode esconder isso para sempre, Rich, ainda mais se esse relacionamento é sério. Uma hora eles vão acabar descobrindo, de uma forma ou de outra.

— Eu sei, eu sei — resmunguei, chutando uma pedra conforme caminhava os últimos passos até a entrada de meu prédio. — Mas eu não posso lidar com isto agora. Não agora.

Qual o problema de agora? — perguntou ele, com a boca cheia.

Abri a porta que dava para as escadas, subindo degrau por degrau sem ânimo algum.

— Nada — falei, lembrando do rosto triste de Will. — Olha só, Rob, eu vou alguma outra semana, ok? Não falta muito para as aulas acabarem, quem sabe nas férias apareço por...

Nas férias? — perguntou, incrédulo. — Você vem no Natal, pelo menos, não é?

Abri a porta final das escadas e fechando atrás de mim. Logo que ergui o olhar, encontrei os cabelos semi loiros que tanto gosto.

— Will — murmurei ao vê-lo sentado com as costas na porta de meu apartamento. Usava uma camiseta cinza e tinha uma mão na testa, exibindo a pulseira que lhe dei. Ele aparentemente nunca a tirava do pulso. Ergueu o rosto em minha direção, um sorriso murcho em seus lábios.

Rich? — Rob chamou-me, pelo telefone.

— Rob, tenho que desligar agora. Depois a gente se fala — falei, já tirando o celular do ouvido. Não tão rápido para impedir-me de ouvir a voz de Rob, no entanto:

Espera, o que eu falo para...

Desliguei o celular, guardando-o no bolso. Will soltou um suspiro, ainda no chão, o sorriso em seu rosto. Ergueu os ombros.

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