XI. O que eu quero de presente

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WILL

Abri os olhos devagar ao ouvir o celular gritar desesperadamente para que eu acordasse. Resmunguei um pouco ao desligá-lo e me revirar na cama. Podia sentir minha consciência esvair-se novamente quando o maldito passou a despertar novamente. Resmunguei mais um pouco. E mais um pouco. Até finalmente desistir e levantar devagar.

Meu corpo estava pesado, minhas pernas se recusavam a andar. Resmunguei novamente.

Droga, por que eu não podia dormir pelo resto da minha vida?

Suspirei ao dirigir-me ao banheiro e tirar a roupa, logo adentrando-me debaixo do chuveiro. Girei o registro e senti a água morna juntar-se à minha pele. Soltei um suspiro satisfatório, para logo perceber com desânimo que a água me deu ainda mais sono.

Já enrolado na toalha, escovava os dentes com a pressa de uma lesma, de olhos fechados. Suspirei uma vez. E mais outra. Mais outra.

Será que eu tenho que ir na aula mesmo?

Tentei raciocinar por um tempo que aulas teria hoje e se eu já não havia faltado muitas vezes. Talvez eu pudesse faltar e ninguém daria minha falta. Hoje é quarta, não é como se fosse um dia importante.

Foi então que abri os olhos bruscamente, parando com a escova na boca, vendo a espuma da pasta de dente escorrer por meu queixo.

Que tipo de imbecil esquece do próprio aniversário?

O tipo de imbecil que tem mais sono que água no corpo, respondi a mim mesmo.

Tão logo dei-me conta de que hoje eu completaria vinte anos, terminei de escovar os dentes e saí praticamente voando do banheiro, agora completamente desperto. Passei tão rápido pela sala que não percebi a movimentação que havia ali, tampouco as conversas. Ao chegar no quarto, me vesti com a rapidez de um raio, colocando a primeira roupa que vi e olhei-me no espelho. Ponderei por um segundo, vendo os cabelos úmidos apontando para todas as direções menos a certa, e a roupa frouxa igual de muambeiro. Fiz uma careta, virando em direção ao guarda-roupa novamente.

Saí do quarto dez minutos depois, já pronto para sair. No entanto, assim que pus os pés para fora de meu quarto, uma buzina – sim, uma buzina! – gritou na minha cara, fazendo-me dar um pulo e arregalar os olhos, tonto com o barulho que reverberava em minha cabeça. Senti também, antes de ver, os leves papeizinhos recortados que se espalhavam em mim e se amontoavam aos meus pés.

— Feliz aniversário!! — Ouvi o coro de minha família gritar, rindo alegremente.

Não pude evitar sorrir, tentando manter a pose de bravo. À minha frente estava minha mãe com um vestido florido e o famoso coque acima de sua cabeça, com os olhos brilhando. Ao seu lado estavam tia Kira, com um sorriso no rosto e Kaori, que não parava de tocar a droga da buzina irritante. Atrás delas, no sofá, estava Caleb bocejando e segurando um pacote nas mãos.

— Que tipo de gente louca resolve me surpreender às seis horas da manhã? — perguntei, incrédulo. Tudo bem que não era uma festa surpresa, mas mesmo assim tinha papéis picados e uma buzina que berrava. Todo mundo na vizinhança dormia a esse horário, o que me fez encará-los boquiaberto antes de rir.

— Ah, Will! Deixa de ser resmungão! — exclamou Kaori, dando-me um empurrão para logo puxar-me em um abraço. — Feliz aniversário, bocó! — desejou, enquanto eu ria.

— Parabéns, querido! Eu e Sarah fizemos aquele bolo de chocolate que você tanto gosta. — Ouvi tia Kira falar, afastando Kaori de mim involuntariamente para também dar-me um abraço apertado.

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