Bônus

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Enquanto escuto Thomas tagarelar sem parar sobre as minhas ações, tento reprimir a minha indignadade, com as palavras ridículas que saem cruelmente da sua boca. Ouvir as suas acusações calada, me faz parecer tão culpada, porém, renego a discutir sobre algo, que para mim, é normal. Várias vezes tentei pensar como o Thomas, me colocar no seu lugar, pelo menos, por alguns momentos. No entanto, com as suas escolhas para discussão, isso nunca chega a nos ajudar, só piora a situação. Nunca conseguirei pensar como ele.

Inclino minha cabeça para cima, me perguntando mentalmente como chegamos a esse fase no nosso casamento. Um encontro entre amigos, não deveria ser tratado como uma traição ou algo próximo a isso. Eu só quero sentar e conversar sobre nossas vidas, tentar manter novamente uma relação com pessoas que foram muito importantes para mim. Eu só quero voltar a ser a Ashley. A verdadeira.

Quero voltar a ser a mesma pela qual Thomas se apaixonou. Ele deveria querer isso também, aliás, ele se apaixonou por aquela? Então porque está querendo me tornar outra pessoa?

Suspiro.

— Merda. — Thomas rosnou. — Você não vai falar nada? — se dirigiu a mim raivosamente, com um olhar que muitas vezes já tive o desprazer de vê-lo estampado no rosto de uma das pessoas que eu mais amo.

Esfrego minhas mãos umas nas outras, em seguida, descendo-as para a camiseta simples que estou a vestir. Percebo que além de me sentir indignada, sinto-me desconfortável com o seu olhar acusador.

— Não me olhe como se.. — suspiro, já perdendo a noção do que eu iria falar.

— Como se o que? — falou, tão baixo que por um momento, achei que eu tinha escutado errado. — Como se você estivesse me traindo?

Abro minha boca perplexa, pelo que acabei de escutar.

— Você está mesmo comparando uma conversa de amigos, apenas amigos, como uma traição? — exclamei, sentindo minha falsa calmaria sumir.

— E não é isso que você está fazendo, Ashley? — respondeu, se aproximando arrogante. — Você vai voltar a dá aos seus "amigos" a prioridade que só eu devo ter. Vai voltar a me tratar como se eu fosse um louco, a me deixar de lado novamente. Você vai me julgar mais ainda, de novo. Percebo que você não lembra de como às coisas funcionavam antigamente. — olho dentro dos seus olhos, vendo pela primeira vez em meios as nossas brigas, medo escondidos dentro deles.

— É claro que eu lembro. — um pouco incerta, falo. — Eu já pedi desculpas pelo que eu fiz a você. Muitas vezes. — acrescento.

— Me deixar plantado te esperando para um jantar no dia do meu aniversário, um jantar que eu mesmo tinha preparado, mesmo dizendo a mim mesmo que era ridículo, eu fiz. Você tem ideia do quanto aquilo era importante pra mim? Eu ia te pedir em casamento naquela noite, mas você não apareceu e eu fiquei te esperando que nem um idiota, justificando o seu atrasado, enquanto você estava em uma boate, bêbada enchendo a porra da cara, sem nem sequer lembrar que eu existia. — grita, com o dedo erguido apontando para algo imaginário atrás de nós.

Fungo. Eu sei. Pela primeira vez, em ano de namoro, eu vi as lágrimas escorregarem pelo seu rosto, por culpa minha. Eu não tinha esquecido do seu aniversário, mas tivemos uma briga um dia antes. No entanto, já tínhamos marcados de ficar juntos, porém, eu me deixei levar pelos comentários feitos pelos meus amigos, e acabei não indo ao nosso encontro, preferindo beber em um boate estúpida, enquanto o homem que eu amo, estava cozinhando para mim.

— Você me deixou sozinho, Ash. — resmungou, desconcertado. — Eu não quero que você me deixe de novo.

E de novo. Raro, mas, não impossível. Thomas está a chorar, bem aqui na minha frente.

— Tom... — sussurro.

Em todos esse anos, essa é a terceira vez que o vejo se deixar levar tanto pelos seus sentimentos, para chegar a chorar por eles.

Eu, certamente o magoei muito naquela noite.

— Desculpa. — sussurrei, chorosa, segurando seu rosto entre minhas mãos.

Planto um beijo em seus lábios, demorando tempo suficiente para que meu rosto se encharcasse de lágrimas. Aquela noite, como foi dita; era para ser a minha vingança, só que, tudo voltou para mim, me fazendo sentir culpada e triste.

— Nada disso irá acontecer novamente. — afirmo confiante.  — Acredita em mim, eu nunca mais faria isso com você.

Passo meus dedos pelo seu cabelo, com um sorriso reconfortante. Eu já tinha ouvido muitas vezes o seu sarcasmo sobre aquela noite, mas nunca cheguei a ouvir o que se passou pela sua cabeça e essas poucas palavras me fizeram sentir que nós estamos no caminho certo.

— Eu disse para Ryan que você tinha mudado. — sussurrei. — E de certa forma, eu estava certa. — sorrio.

— Você falou de mim para aquele babaca? — questionou, afastando minha mãos e, em seguida, limpando seu rosto grosseiramente.

— Não muito. — respondo, esperando não voltamos a brigar. — Ele meio que tirou as suas próprias conclusões, e só me questionou sobre elas e eu respondi, não totalmente sincera, mas sim, nós falamos sobre você.

Vejo seu olhar anteriormente ganhar força, voltando como se nunca tivesse saindo. Suspiro. Já era de se esperar, isso me ensina a não comemorar antes da hora.

Observo-o a andar em direção a porta, estranhando o comportamento, mas logo entendo.

— Você vai ligar para ele, e irá desmarcar qualquer compromisso que vocês tenha feito. — falou, após retornar rapidamente, erguendo seu celular para mim.

Nego. Eu disse que as coisas iriam mudar, e por mais que eu veja que isso o machuque, eu não posso mais me deixar ser comandada por ele.

Abaixo sua mão, com suspiros cansados saíndo da minha boca.

— Se eu pegar esse celular, não será para desmarcar nada, mas sim, para confirmar. — falo.

Pela primeira vez não me sinto intimidada com os seus olhares, respondendo os seus desejos com um não, coisa que meus pais almejaram muito antes deu vim para cá.

— O que você disse? — perguntou arrogante, formando um sorriso forçado.

Inclino minha cabeça para olhá-lo melhor e falo com toda clareza.

— E você irá comigo. — digo, ainda mais confiante. — E dessa vez, quem dirá o que devemos ou não fazer, será eu. — respondo sua pergunta imaginária, de quem manda aqui, saindo da sua frente e do quarto, mesmo não parecendo, eu estava desejando desesperante sair da sua frente.

Um Dia Tudo MudaráOnde histórias criam vida. Descubra agora