Coração Vingativo (RELEITURA)

Capítulo 01- Nunca Beijei Tracy Stuart

CORAÇÃO VINGATIVO (RELEITURA)
Capítulo 01 一 Nunca Beijei Tracy Stuart. 

"We are the champions - my friends
And we'll keep on fighting
Till the end"

Sempre odiei essa música. Jesse Dark e sua turma de meninas super populares e fúteis sempre fizeram questão de esfregar na minha cara o fracasso de pessoa que eu era pra elas. E agora ela toca por todos os lados do colégio. Parecia uma pandemia. Viral. Eu não queria fazer as honras, mas deixe-me apresentar Jesse Dark. Saibam que ela é o tipo de garota que é comentada em todos os lugares, que é adorada por todos à sua volta, que namora o cara mais bonito e popular do colégio, e que tem uma alma apodrecendo a cada segundo, mas isso sou eu noto.

Tudo que ela veste, escuta, fala vira modinha. Tudo que ela faz ganha uma repercussão enorme. Hamptons é dominada por uma elite massacrante, rica e metida. Me mudei para cá faz uns dois anos. Nunca me senti parte desse lugar. Não sou rico. Não visto Dolce & Gabanna, ou uso Channel number Five. Agora imaginem vocês, a música Young Folks do Peter Bjorn & John tocando enquanto lojas luxuosas, barcos, iates, vitrines e garçons chiques servem um champanhe dourado espumante são exibidos numa tela, sei lá, imaginária. Um episódio de Gossip Girl praiano, você imaginou? Palpite. Você verá no que isso irá se tornar.

Me chamo Carter, Carter Bristol e hoje é segunda-feira. Fomos todos convocados para comparecer ao colégio Sean e assistir aos ensaios das líderes de torcida e jogadores de beisebol que vão se apresentar no baile de homecoming hoje à noite. Aliás, o baile de homecoming não passa de uma tradição idiota da cidade. É uma festa para comemorar a volta às aulas. Que legal, mais um ano nesse entediante colégio. Agora estou sentado nas arquibancadas de um grande ginásio com centenas de pessoas gritando enquanto eles cantam rebolando a bunda. As líderes de torcida, claro. Até nisso a cidade é entediante.

"We are the champions... We are the champions..."

一 Ah! Isso é tão empolgante! É tão empolgante! Ai, meu Deus, eu já disse que é empolgante? Não tem problema, eu digo de novo!

Fawcett não conseguia se conter. Achava aquilo demais realmente. Pulava feito uma louca como se estivesse num show do One Direction. Acho que qualquer garoto que tivesse mais de cinco gominhos na barriga era uma celebridade para Fawcett, minha melhor amiga desde quando cheguei nessa droga. Não era popular, nem chegava perto. Ela fazia parte do grupo do jornal da escola, considerado o suicídio social. Mas foi o jeito que ela encontrou de ser notada, mesmo que somente quando lessem seu nome assinado embaixo da matéria. O que eu duvido que aconteça.

一 Fawcett, se existisse uma premiação para garota mais desesperada por um namorado, você ganharia. E não seria um namorado, acredite.

一 Maldade. Se você não curte esses eventos, por que ainda vem?

Sorrio. Não era muito difícil adivinhar os meus motivos para ter agüentado isso desde o fundamental. Acho que muitas pessoas só suportam esse inferno adolescente pelo mesmo motivo que eu suporto: Tracy Stuart, o garoto mais lindo que eu já conheci. Repara nele jogando basket, vai. O jeito que ele joga o cabelo, mas nada comparado àquelas cenas ridículas em câmera lenta com garotos artificiais balançando o cabelo. Embora goste de imaginá-lo em câmera lenta. Crush desde os treze anos de idade, quando enfim me descobri gay. Acho que já sabia, mas não tinha coragem de dizer.

Agora vamos falar um pouco mais sobre Tracy Stuart. Nunca beijei Tracy Stuart, mas as meninas que beijaram disseram que ela guarda o melhor beijo do mundo. Quando me apaixonei perdidamente por ele, estava no banco reserva de um jogo de basquete. Não queria jogar. Não tenho jeito para essas coisas. Recostei-me na cadeira e me encolhi, abraçando minhas pernas. Torcia para ninguém se machucar, eu não queria entrar no estádio. Mas numa fração de segundos, Charlie torce o pé e quebra o nariz com a colisão da queda. Naquele momento, não estava nem aí para o nariz dele e sim que eu teria que entrar em campo. Coincidentemente, Tracy estava do meu lado, sentado na cadeira. Nessa época ele nem era popular ainda. Lembro que queria jogar, mas para meu azar, o treinador Philips. Guardem esse nome. Enfim, o treinador fechou o time com meu nome na lista e ele ficou de fora. Loucura, né?