Capítulo 09.
Um Milhão de RazõesUm café na mesa. A casa já estava velha e a praia já não era mais a mesma. Eu agora com 60 anos de idade. Eu leio milhões de livros, eu vivi o suficiente para saber que lembranças persistem, mesmo que as pessoas não existam mais. Nada do que eu fiz valeu à pena. Nem ter destruído Jesse, nem ter continuado com a maldita vingança mesmo sabendo que isso seria o fim de tudo, inclusive de mim. Se eu não tivesse ido naquele homecoming de começo de ano, se eu não tivesse o encontrado naquela loja e nós não tivéssemos conversado sobre a tal barra... É. Talvez nada disso tivesse acontecido. Eu o teria aqui.
Claro que eu duvidava que ele estivesse ainda em minha casa no dia seguinte aquela noite de quase morte. Eu acordei quando o sol bateu em meu rosto e as cortinas das janelas balançavam com a brisa fria do mar. O cheiro de comida me corria por dentro e eu estava mesmo com fome. Levantei-me, afaguei a cama em busca de respostas do porque de sua ausência. Ilusão minha acreditar, acreditar que sim, que ele estaria ali quando acordasse. Ele não estava e naquela noite tive a certeza de que nunca estaria.
Pus os pés no chão. Era confortante. - e libertador. - Caminhei um pouco e vi o mar da janela. Respirei tudo o que podia antes de continuar a caminhar e direcionar-me a cozinha. Tinha algo fritando, ouvi os estalos quando cheguei perto. Imaginei que alguém tinha entrado. Alguém que eu não conhecia.
Agarrei um jarro, o primeiro que vi e adentrei num impulso na cozinha.
Estava de costas, mas o reconheceria em qualquer lugar do mundo e em qualquer ângulo também. Era Tracy e ele fritava ovos no fogão inox da minha cozinha. Deixei o jarro de lado. Ele finalmente virou-se para mim, ainda abotoando a camiseta branca - quase que transparente. - com a mão livre. Ele me olhou e sorriu delicadamente. Eu retribuo mesmo sem saber muito bem o que estava acontecendo e principalmente o porquê de estar acontecendo. Ele põe um ovo num prato. Havia comida suficiente para umas três pessoas em cima da mesa.
- Achei que talvez estivesse com fome. - e estava. - Achei que devia agradecer depois do que fez por mim ontem.
- Não ligaria se agradecesse todo dia.
Ele sorriu.
- Hã... Não tenho como voltar, talvez pegue uma balsa...
- Pode ir com meu carro.
Agarrei a chave logo à frente e entreguei a ele.
- Eu mal uso. Não tenho carteira.
Ele andou para perto de mim e agarrou minha mão. Um calafrio percorreu todo o meu corpo e paralisou naquele instante meus sentidos.
- Escute. Eu não vou poder dar o que você quer. Talvez... Talvez eu possa me arrepender mais tarde. Pode durar dias, meses, talvez anos... Mas hoje não. Carter eu queria muito retribuir tudo o que sente por mim, mas não posso. Eu simplesmente não consigo. Amar talvez seja complicado demais para eu entender. Eu não quero machucar as pessoas que querem o meu bem.
As lágrimas que percebi estarem ali. Nunca teria um "eu te amo" e nunca diria "eu também".
- Você vai encontrar alguém melhor. Isso vai funcionar.
- Eu não funciono direito sem você.
- Não se prenda a memórias, Carter. Nós nunca estivemos aqui.
Seco as lágrimas, não era a primeira vez que eu fazia isso.
- Acho que isso é um adeus.
- É... Acho que sim.
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Coração Vingativo (RELEITURA)
Teen FictionUm assassino misterioso comete crimes brutais na cidade de Hamptons, porém seu principal alvo é Carter Bristol e as pessoas à sua volta. Quais suas motivações? É o que Carter tentará descobrir enquanto nutre uma paixão explosiva pelo cara mais bonit...