Eu estava indo de encontro a toda aquela multidão de pessoas. Duas semanas haviam se passado desde o imprevisto com Brandon. O furor e a surpresa das pessoas tinha se dissipado e agora a novidade da vez era o baile de formatura. Quando eu ia imaginar que o ano estava acabando?
- Carter!
Selena chamou e veio até mim seguida por Becky. Eu via que ela tentava parecer normal e se esforçava em esquecer que escondemos um crime.
- Animado?- perguntou Becky.
- Na verdade, eu nem sei o que vou fazer depois do colégio- respondi.
- Que tal Yale, Brown... ?
- Não penso muito nisso, e vocês? Com esperança de serem coroadas rainha do baile?
- Todo mundo sabe quem vai ganhar- diz Becky.
- Jesse Dark e Tracy Stuart? Já nem tem mais graça. Virou tradição, caiu na rotina. - diz Selena.
- Quer saber? Acho que as pessoas não deviam se preocupar tanto com baile de formatura. Todos sabem como isso acaba em alguém bêbado, um poste caído e várias fotos no livro anual.
Todos rimos. Coincidentemente nossos celulares tocam de só vez. Trocamos olhares estranhos e mesmo sorridentes olhamos a mensagem. Os sorrisos agora foram embora.
- Presente de formatura para vocês. -leio.
- Tem uma foto minha aqui- fala Selena.
Realmente havia uma foto dela. Li a legenda e tudo ficou mais assustador e macabro.
- Tic, tac. Corra ou a bomba explode dentro de você.
Nos entreolhamos rapidamente. Uma contagem regressiva se faz nas telas. Selena larga o celular num impulso e olha para mim desesperada.
- O que está acontecendo?- grita Becky.
Bastou eu ler o final da mensagem. QR. Não sei como ele fez isso, mas conseguiu pôr uma bomba relógio dentro de Selena. Ao que eu entendi, era uma sentença de morte certa. Ela tinha que correr, caso parasse, a bomba explodiria dentro dela.
- Corre!
Eu grito e Selena sai em disparada. Eu estava procurando uma saída para aquilo, mas nada conseguia pensar. É um jogo e eu tenho que jogar se quiser as pessoas vivas.
- Você quer jogar?- grito.- Eu sei que está me observando agora!
Becky fez uma cara apavorada de quem não estava entendendo nada. Olho para cima da escola, lá no alto. Saio correndo, empurrando as pessoas à minha frente. Selena precisava continuar correndo até eu conseguir o que queria.
Corro pelos corredores, incansável e encontro uma porta de saída de emergência. Sei que vai dar no topo da gigante caixa de água. Uma altura de mais ou menos 20 metros, qualquer pessoa que caísse ali morreria. Subo umas escadas velhas, muitas. Chego no topo e saio por uma porta velha e gasta de madeira não pintada.
Vento sopra forte e gelado. Quase não conseguia respirar.
- Você quer jogar, QR?- olho a tela do celular. Selena estava parando e a contagem acelerando. Quanto mais ela estava lenta, mas perto de explodir a bomba estava. Era assim que funcionava. - Só que um jogo não se faz com uma pessoa apenas. Quer me desafiar? Saiba que estou cansado de ser fantoche! Eu vou te mostrar que quando quero, eu posso manipular a minha própria vida!
Ando até as grades de segurança e com cautela ultrapasso, e sento nelas. Deixo o celular de lado e abro os braços. Tremendo, ameaço saltar de lá.
- Deixei que brincasse de Deus esse tempo, agora chega!- a tela do celular indicava 20 segundos para a bomba explodir e só contava.- Se eu saltar, você perde, porque não vai ter mais quem ameaçar. - 5 segundos. - O jogo acabou pra você, QR. Você escolheu errado. Fim de jogo!
3, 2... Flexiono meu corpo com intuito de me jogar, mas paro imediatamente quando escuto um clique no celular. O tempo tinha acabado.
- Bomba desligada.
Escuto uma voz robótica me informar. Respiro, aliviado. Eu venci QR hoje, e hoje quem dá as cartas sou eu.
Mandei uma mensagem para Selena e ela voltou assustada e cansada.
- Quem é QR?- perguntou Selena. Estávamos sentados na cantina.
- Eu também não sei! Estou sendo ameaçado desde a festa de Jesse em minha casa.
- Seja quem for, já deixou claro que é perigoso e não quer apenas brincar com nossas vidas, Carter... Se ele te ameça, talvez você o conheça, ou ele possa te conhecer. - Becky tinha razão.
- Ele vai nos deixar em paz por enquanto. - disse.- Se tem uma coisa que aprendi nesse tempo, é que QR leva um termo pra planejar seu próximo passo.
- Eu tô com medo.- Selena se escolheu no banco.
- Não fique. Agora você tem que ir no hospital e tirar essa bomba. Provavelmente é uma micro bomba. Não vai precisar de cirurgia.
- E se QR tentar me explodir de novo?
- Não vai!- falei.
Minha estranha certeza incomodava até mesmo a mim, mas tinha que passar confiança, ou ela ficaria paranóica pelo resto da vida.
Entre desatinos e pessoas assassinadas, notei que durante essas duas semanas, não pensei muito em Tracy. Na verdade, não havia pensado nele em nenhum momento, nem em minhas horas vagas de pensamentos. Me senti feliz por um momento, não pensar nele já aliviava muito da minha dor.
E ela quase não existia agora.
Assistimos as aulas e o intervalo tocou. Procurei Zac por toda parte, mas não o encontrei em lugar algum. Então decidi ir para o refeitório. Foi lá que eu o encontrei. Estava sentado no banco do lado das grades de segurança. O sol iluminava seu rosto. Ele levantou a cabeça. Carrega consigo um semblante sério.
- Oi. -disse
- Oi. - respondeu.
- Você sumiu.
- Eu sei.
- Senti sua falta. - tentei parecer menos apreensivo.
Zac sorriu, ainda que disperso demais para demonstrar qualquer emoção. Algo o incomodava. Ele arrastou por cima da mesa um pen drive e me entregou.
- O que é isso?
- O "Algo explosivo" contra Jesse que você me pediu. - disse meio que engolido em seco.
- Pensei que... Não ia me dar. - falei, sentido.
- Eu acho que estou te amando.
Ele disse. Essas palavras entraram como um jato dentro de mim. Ele esperou eu dizer o mesmo, mas não podia mentir (?). Ele se negou com a cabeça, decepcionado.
- Eu não quero que se machuque.
- Se me disser a verdade nunca vai me machucar.
Eu parei e pensei, pensei mesmo no que eu ia dizer. Definitivamente, eu não sabia que desculpa inventar e ligeiramente descobri que não precisava inventar desculpa alguma. Ele estava certo. Se eu lhe disesse a verdade, seria rápido e indolor.
- Eu não estou apaixonado por você, mas poderia estar.
Esperei uma reação diferente do que ele me mostrou. Sorriu.
- Bom, pelo menos eu ainda tenho uma chance, mesmo que remota. - ri.
- É, quem sabe.
Nos entreolhamos por um tempo e logo depois ele despediu-se. Sai andando pelos corredores do colégio quando de repente tomei em alguém. Quando dei por conta, era Tracy.
- Olá. - ele disse.
Demorei em responder, olhando fundo em seus olhos. Foi aí que percebi algo novo.
- Você está bem?- pergunta Tracy.
- Sim, o que chega a ser muito engraçado já que grande parte do meu tempo eu não tô bem. - mordo os lábios e riu.
Tracy chegou perto de mim, perto demais. O Carter de antigamente estremeceria apenas com um olhar, o de hoje sentia apenas calor.
- Olha. Eu sei que é difícil pra você e... Eu não dei muitas explicações da noite em que te deixei em minha casa, mas... Eu só não queria te machucar. - diz Tracy.
- Por que eu me machucaria?- pergunto.
- Você sabe. - ele diz, sem jeito. - Eu tô com a Jesse.
- Tracy. - continuo. - fica tranquilo. Eu não estou mais obcecado por você.
- Não?- ele sorri.
- Não. Eu percebi que eu estava passando por uma fase difícil. Você foi essa fase difícil, mas passou. Puff!
Eu não sentia mais arrepios e vontade de cair e flutuar quando estava perto dele. Não sentia mais seu perfume tão perto como antigamente. Não conseguia me deixar mais tonto. Eu não estava mais apaixonado por Tracy e demorei pra perceber uma coisa que não estava escondida, e que ele fazia questão de me mostrar.
- Eu fico feliz por você. Sinto muito não ter retribuído isso tudo que sentiu por mim. - ele disse.
- Eu pararia de respirar por você, Tracy.- eu falei. - Mas você não deixaria de viver por mim.
Aperto seu ombro e sorrio, saio andando pelo corredor agora vazio. Era estranho não vacilar cair por pensar que, talvez, Tracy estaria me olhando. Era estranho... Mas eu estava aliviado. Eu superei você, Tracy Stuart. As coisas mudaram e eu não sou mais o mesmo. Seu tempo passou e o meu só tá começando.
Olho o pen drive que Zac me deu e o aperto nas minhas mãos. Estava chegando a hora de Jesse. Pois saiba, querida, que para me vingar, eu teria que retroceder e voltar no tempo do Homecoming. E te digo querida, o protagonista da vez não ia ser eu.
Farei Jesse pagar por tudo. Do mesmo jeito que ela me humilhou, eu a humilharei. Da mesma forma, usando as mesmas armas que um dia usou para me atingir. Então, querida, eu estou aqui e eu sobrevivi. Suas armas agora estão tão fracas. Você está caindo aos poucos e eu vou subir na pilha de corpos com várias versões de você.
É o seu fim Jesse Dark. Você já era. Virou cinza, mas eu renasci delas.
#04CapítulosParaoFim
#Coração Vingativo
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Coração Vingativo (RELEITURA)
Ficção AdolescenteUm assassino misterioso comete crimes brutais na cidade de Hamptons, porém seu principal alvo é Carter Bristol e as pessoas à sua volta. Quais suas motivações? É o que Carter tentará descobrir enquanto nutre uma paixão explosiva pelo cara mais bonit...