Coração Vingativo (RELEITURA)

Capítulo 19- QR é...

(PARTE I)

Coração Vingativo
Capítulo 19- QR é...

O sino da igreja tocou. Parecia que toda a cidade estava ali, dando o último adeus à Tracy Stuart. Seu corpo pálido estava no caixão. O time da escola relembrava os bons momentos, eu também. Rosas vermelhas, olhos molhados, tudo parecia muito cinza agora, e vazio.

O padre orava por sua alma como de praxe, mas eu não prestava atenção. Estava bem longe dalí e bem perto ao mesmo tempo. Eu nunca poderia imaginar tudo tão rápido, sempre pensei que as coisas me viam e me iam, lentamente, só pra pôr à prova o meu descontrole e me fazer cair de novo, daí eu levantaria e caia novamente, mas agora eu não queria levantar, eu não queria nem tentar. Desss vez não.

Bom, o corpo de Zac não foi encontrado. Nem iria, ele era QR. Ele matou as pessoas que eu amava, ele me destruiu por dentro. Tudo por conta da merda do bullying? É só perseguição ou ele é realmente um psicopata que provavelmente está fazendo outra vítima por aí?

- Para sempre, Tracy Stuart.

Alguém havia terminado de dizer suas últimas palavras e o sino tocou novamente. Eu despertei. Todos se levantaram quando uma mulher entrou. Ela usava um véu preto para cobrir o rosto e se aproximava do caixão. Ninguém ousou se quer dizer uma só palavra. Enfim chegou no caixão e tirou o véu.

Tinha o rosto completamente deformado, como se tivesse sido queimado. As pessoas cochichavam entre si. Ninguém reconhecia e tampouco a tinha visto na cidade antes.

- A senhorita Jesse Dark quer dizer algo sobre Tracy Stuart. - o padre falou.

Jesse? Aquela mulher era Jesse Dark? Seu rosto estava irreconhecível. O que tinha acontecido? E de repente a garota mais bonita da cidade tinha sido engolida por um monstro. Promessas de uma beleza eterna que tinham sido quebradas.

Olhe Jesse agora, 18 anos, uma pessoa sem rosto. Ela chorava, não sei se era de dor externa ou interna. Pela perda de Tracy ou de sua própria identidade. As feridas eram recentes, não sararam e aquilo devia doer muito. Acontece que por mais que eu odiasse Jesse, aquilo tinha sido um choque e pela primeira vez, eu desejei o seu bem e não o seu mal, eu desejei uma segunda chance para consertar as coisas.

- Quando eu conheci Tracy, a gente não sabia de muita coisa um do outro, mas essas poucas coisas nos fizeram acreditar um no outro. Tracy foi quem mais acreditou em mim. Eu sei que eu não merecia metade do que ele me dava, mas do meu jeito torto e errado, eu o amava muito.

Jesse até parou de falar e por um momento apenas deu choro poderia ser ouvido na igreja.

- Eu só que o tragam de volta.

Quando dei por mim, estava fora da igreja. Eu não suportaria ficar. Eu não podia. Sinto algo dolorido dentro de mim, algo apertado. Eu sinto como se estivesse sozinho, como se todas as coisas que vivi se resumisse em nada, que estava enlouquecendo com tanto silêncio e anestesias. Eu estava cansado de lutar, cansado de me levantar quando a vida me derrubava.

Eu não queria voltar pra casa. Tudo me lembrava coisas que lutava o dia pra esquecer. Os moveis, o cheiro, tudo. Era desesperador e angustiante, era eterno e queimava. Depois de tando procurar um lugar para me fixar, acabo que por voltando a vagar por aí sem rumo. Eu pensei que suportaria, que a dor e tudo que vinha junto não ia chegar até à mim, que as manhãs em que acordo sozinho não me prenderia à cama, que os finais de semana, mesmo que todos tristes demais, não me matariam por dentro. Eu me enganei. Estão me matando.

Depois de andar muito, encontro pessoas amontoadas e sirenes de ambulância por toda parte. Um corpo passou por mim sendo carregado numa maca, com uma lona preta por cima. Paro uma senhora e pergunto o ocorrido.