Capítulo 18- A Hora Em Que As Máscaras Caem.
- Alguém! Alguém, por favor! Eu tô com sede...
Minha voz falhava na medida em que aumentava o tom. Eu estava com frio e com sede. O chão era gélido. Estava me sentido um animal, uma atração de circo enjaulada.
Era assim que estava, numa jaula, numa gigante jaula de prata escondida dentro do que parecia ter sido uma industria farmacêutica. Tinha infiltrações nas paredes, máquinas e esteiras velhas. Uma forte dor se fazia em minha cabeça. A última coisa de que me lembro, foi de estar vagando sem rumo até chegar em minha casa e de fora ver meu pai, a quem não via a anos, na janela, falando aos berros no celular. Aí ele me viu e logo depois senti algo bater com força na minha cabeça. Eu fui ao chão, zonzo, com a visão turva, mas pude ver os pés do meu suposto agressor. Ele se agachava e pôs os joelhos na areia da praia.
QR usava a mesma máscara de coelho assustadora. Provavelmente checava se ainda estava vivo. Eu lutei para continuar consciente e ver o que ele ia fazer, onde ia chegar.
Então tirou a máscara que cobria seu rosto, mas minha visão escureceu antes que pudesse vê-lo.
Acordei aqui, sem qualquer roupa que cobrisse meu corpo. Os pés estavam atados com uma corrente, eu não podia ir muito longe. A gaiola estava trancada, mas a chave para abrí-la estava jogada no chão poucos metros longe de mim, mas eram esses poucos metros que a conrrente me impedia de chegar. Quando tentava, ela retinha e parecia que meu pé ia ser arrancado. Eu ia ao chão de joelho.
- Preciso de água.
Engolia minha própria saliva. Minha garganta corroia por dentro, ardia e queimava. Choraria se as lágrimas descessem. Então o barulho me fez levantar. A porta da sala se abriu e QR entrou com seu rosto coberto, pra variar.
- O que quer?
Falei, mas ele não pareceu se importar. Vi ele quebrar o vidro da pequena cabine de emergência onde tinha uma mangueira gigante caso um incêndio ocorresse. Ele a puxou até bem próximo a gaiola e ligou-a. Não pude pensar direito e um jato pesado de água invadiu minhas narinas e me deixou inconsciente.
Mas isso veio depois, depois do que aconteceu no Baile de Formatura, daquele macabro Baile de Formatura.
Dois Dias Depois...
Os alarmes de emergência haviam soado alto o suficiente para a cidade em peso ouvir. Já havíamos treinado antes caso ocorresse uma emergia, mas isso não era treinamento. Existia uma ameaça real dentro do colégio, que estava pondo a vida de todos em risco. Cabia à mim pará-lo, impedir que QR pudesse chegar ao o que ele queria. Eu não sabia o que era, estava correndo sem rumo pelos corredores na direção contrária a de todos. Mas eu sabia que se eu não o encontrasse, ele me encontraria.
Não vi Becky e nem Selena entre os adolescentes correndo. Jesse também tinha sumido depois do grito que assustou a todos. Alguém pegou em meu braço, me obrigando a parar.
- Onde está indo? A saída é para lá!- disse Zac aos gritos.
- Preciso achar Selena e Becky! Eu preciso, Zac!- falei quase que desesperado.
Saio andando, deixando-o parado no corredor enquanto me afastava. Ao menos era o que eu pensava.
- Então eu vou com você! - surpreendeu-me quando apareceu do nada ao meu lado. - Eu não vou te deixar sozinho nunca... A menos que eu morra.
- Tirou minha mãe de mim! - minha voz saiu falha e de surpresa.
- E é por isso que se for preciso ser seu anjo da guarda por hoje e por mais alguns anos, eu vou ser.
Zac continuou correndo ao meu lado. Logo em seguida ouvimos gritos de socorro. Parecia ser a voz da Selena.
- Ouviu isso?- ele disse.
- Ouvi. Parece ser Selena.
Procuramos com olhar para ver de onde vinham os gritos, daí eu lembrei do corredor que ninguém vai.
- Elas devem estar no corredor esquecido!- falei exaltado.
- Claro! É de onde parece vir os gritos.
- Vou até lá!
- Espere!
Zac me parou e entrou no banheiro masculino dos meninos que jogam baseball, demorou cerca de um minuto para que saísse, mas entendi que ele tinha ido pegar um taco.
- Talvez precizaremos de um.
Eu concordei. Nós seguimos pelo caminho até o corredor, atravessamos umas duas portas até que as vimos atrás das portas, presas no corredor. Corremos depressa até lá, mas estava com o cadeado. Alguém as trancou por fora.
- Se afaste!
Zac me pediu e deu com o taco no cadeado, de novo e por mais que a madeira fosse resistente, acabou que alguns pedaços se soltaram até que ele conseguisse romper o cadeado.
- Selena, Becky!
Nós entramos e elas nos abraçaram.
- O que aconteceu?
Elas não tiveram tempo de responder. As portas se feicharam no automático, trancando-nos no corredor novamente. Tentei abrí-la, desequilibrado.
- O que está acontecendo, Carter?- Zac me perguntou.
- É ele, Carter. - Selena disse.
- É QR. - Becky também sabia.
- Quem é QR?- Zac perguntara.
Uma voz saiu das duas caixas de som que se encontravam na parede.
- Apenas duas pessoas podem sair com você, Carter. - a voz era modificada, não reconhecia.
- O quê?
- Você só pode sair com duas pessoas apenas desse corredor. Escolhe quem.
Ele me mandou escolher entre Zac, Selena e Becky. Eu só podia levar dois deles. Eu não tinha que escolher, eu não queria escolher.
- Então... Eu dou o meu lugar a Zac e ele sai com Becky e Selena.
Nesse momento eu tinha assinado um contrato com a morte. Zac não tinha salvo a vida da minha mãe, mas eu estava salvando a dele. Eu salvaria mil vezes se preciso fosse, porque eu o amava e só tinha descoberto isso agora.
Selena e Becky protestaram, desesperadas.
- Carter, não!
Zac gritou. Eu estava tão decidido. Afinal de contas, eu não estava vivendo, minha vida tinha acabado algumas horas atrás, quando minha vingança com Jesse tinha se concretizado. Não tinha mais nada que me ligasse aqui.
Depois de um momento de silêncio e tensão, a voz voltou a falar.
- Negativo. - aquilo me socou o estômago. - Você precisa sair e levar consigo duas pessoas. Se decidir ficar, todos morrem, mas você continuará vivo e verá eles morrerem.
- Não!
Eu me sentia encurralado e cai no chão não podendo mais suportar. Parece que tudo que vivi até agora estava caindo sobre mim, desmoronando e eu estava soterrando. Eu não estava aguentando mais. Eu estou tão quebrado e seria difícil colar os cacos depois.
- Eu fico.
Levantei a cabeça. Zac tinha dito.
- Não!
- Diga!
- Não, por favor.
- Eu prometi que seria seu anjo da guarda, porque é isso que eles fazem... Morrem por você.
Abracei forte Zac.
- Selena e Backy saem comigo.
E minhas lágrimas desceram sem meu consentimento. Quando dei por mim estava molhando o ombro de Zac. A porta se abriu.
- Eu te amo.
Pena que eu disse isso tarde demais. QR surgiu no fim do corredor. Uma forte pontada em meu peito me fez ter medo, medo real em muito tempo. Zac me beijou por um longo momento. Senti o gosto de suas lágrimas salgadas e dolorosas.
- A menos que eu morra. Lembra?
Um sorriso de dor foi o que pude fazer. Ele havia me tirado uma vida e agora estava me devolvendo ela. Então ele levantou com o taco, apertou firme enquanto QR andava em sua direção. Eu gritei a cada momento em que ele se aproximava, mas estava sendo contido por Selena e Backy.
- Vai, vai, vai!
Zac gritou, então eu e as meninas corremos para fora. A porta atrás de nós se fechou. Vi Zac sendo arremessado contra ela momentos antes de sairmos em disparada e o ar m faltar enquanto corria. Já mais longe, vacilei a olhar para trás, antes não tivesse feito. Vi sangue respingando no vidro da porta e uma mão encostar no vidro e deslizar, deixando rastros de sangue nele.
Adeus Zac.
Agora tudo parecia lento demais e depois de tanto correr, encontramos a luz da porta de saída. Alguns policiais entraram, mas vi tudo em câmera lenta. Na realidade, eu não estava ali. Senti apenas um bombeiro jogar um lençol em meu corpo e dizer que iria ficar tudo bem, mas não estava. Nada nunca ficaria bem de novo.
Os raios de sol surgiram no céu. Depois do atendimento médico, eu fiquei sentado na escada perto dos portões. Ouvi os policiais falarem que QR não estava mais ali. Estava inerte, olhando para algumas árvores de uma floresta logo em frente ao colégio. Foi aí que Zac apareceu, se escorando nelas para ficar de pé.
- Zac?
Me levantei depressa e notei que sua barriga estava sangrando. Sem pensar duas vezes, atravessei correndo a pista aos gritos até chegar onde ele estava. Ele caiu de cansaço e dor.
- Zac! Ei, você está vivo!
Eu sorri e o beijei, mas logo tratei de estancar o sangue com o lençol que os bombeiros me deram. Ele estava tentando ficar consciente, mas sorrio por um momento. Era como se eu tivesse revivido naquele momento, que meus olhos trascendeceriam uma luz tão forte capaz de queimar tudo.
- Fica aqui, eu vou chamar ajuda.
Uma forte chuva começou a cair. Eu passei a mão por sua cabeça. Me levantei na hora e sai correndo. Avisei Tracy saindo de dentro do colégio, assustado.
- Tracy!
Ele desceu as escadas e estava andando depressa em minha direção. Eu continuava.
- Eu descobri uma coisa sobre Zac que você precisa saber. - ele disse.
Há essas alturas, estávamos encharcados e algums metros nos separavam um do outro.
- Zac?
Olho para trás e para a minha surpresa, Zac não estava mais lá. O lençol tinha ficado. Uma máscara estava jogada no local onde seu corpo estava, a máscara de QR. Um desespero me bateu profundamente. Volto para Tracy, aproximando-me ainda mais.
- Ele...
Antes que ele pudesse completar, ouvi um barulho estridente e então o peito de Tracy estava sangrando.
Foi um tiro.
E Tracy foi ao chão.
- Não!
Corro até ele. Tracy está pálido, a bala lhe tinha atingido o coração, sua boca estava vazando sangue. Ele tossia.
- Tracy, não, não, não.
Eu o vi morrendo aos poucos.
- Não, não, não, não!
Coloquei as duas mãos em seu peito e apertei, tentando estancar todo o sangue.
- Tracy! Volte! Não, não, não. Por favor! Tracy!
Seus olhos se apertaram e se fecharam enfim... Para sempre.
- NÃO!
Gritei tão alto e tão forte que todos os policias e bombeiros, as pessoas fora e dentro da escola escutaram. Era um grito de dor, de desespero e de socorro. Só que ninguém podia me ajudar. Ah! Eu estava sufocando, sufocando.
A chuva se misturava com seu sangue. As pessoas se chegavam, horrorizadas.
- Onde está você, Tracy?
Tracy Stuart morreu naquele começo de manhã, no meio de um temporal arrebatador, que saiu levando tudo que viu pela frente, inclusive a vida dele.
Tracy se foi...
De novo...
Ele escapou pelas minhas mãos
...
Para sempre...
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Coração Vingativo (RELEITURA)
Roman pour AdolescentsUm assassino misterioso comete crimes brutais na cidade de Hamptons, porém seu principal alvo é Carter Bristol e as pessoas à sua volta. Quais suas motivações? É o que Carter tentará descobrir enquanto nutre uma paixão explosiva pelo cara mais bonit...