Capítulo 05- Quem Está Rindo Agora?

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Capítulo 05-Quem Está Rindo Agora?

Era além da noite quando resolvi esfriar e pensar em tudo que estava prestes a fazer. Era realmente o certo? Para mim, não importava. Certo ou não, eu ia fazer. Quando decidi esqueci da minha santidade e vendi minha alma para o demônio.

Estava à beira do cais, com os pés naquela água gelada, vendo o meu reflexo. Espelhos que não refletem mais quem eu era antes. O agora havia tomado conta de mim. Esfrego os braços, estava frio e eu nunca tive tanto medo, nunca havia me sentido tão desprotegido e tão determinado a seguir em frente como agora. Fechei os olhos. Esperei os primeiros raios de sol invadir meu ser, e ele saiu queimando tudo que encontrava e devastando o que tinha restando do meu antigo eu. Jamais seria o mesmo de antes. Me perdi justamente quando tentava me encontrar e agora... Nunca, nunca me encontrarei novamente.

Voltei para casa. É irônico, pois sai determinado a nunca mais voltar. E quando me dou conta estava novamente em meu quarto. A carta que escrevi para mamãe ainda estava sobre a cama. Ela não havia acordado ainda e por isso não chegou a ler. Peguei e rasguei. Não precisava mais dela. Pus o alarme para tocar em dois minutos. Deitei na cama, me enrolei e ele tocou na hora em que havia previsto. Fingi que estava dormindo. Tinha certeza que mamãe viria me acordar. E foi o que ela fez, um minuto depois, bateu na porta do meu quarto e ficou me observando, sei, pois demorou muito até que ela fechasse a porta novamente. Decidiu não me acordar. Sorri. Estava tudo como deveria ser. Isso era uma coisa que eu não mudaria em meu destino. Acabei adormecendo sem querer. Quando acordei eram 16 e 30 da tarde. Tomei um banho, me arrumei e sai. Mamãe já tinha ido trabalhar e eu precisava me encontrar com Tracy, ele precisava me dar uma resposta.

- O que fez com o cara ontem à noite?

Tracy perguntou. Estávamos num café em Southampton. Tracy estava com uma tipóia no braço.

- Eu... Ele foi embora.

Menti.

- Disse que não queria mais confusão.

Menti de novo.

- E então? Pensou na proposta que eu te fiz?- fui direto ao ponto.

- Pensei- ele disse.

- E o que decidiu?- pressionei.

- Você tem problemas, é doente...

- Me poupe dos comentários sobre o que você acha de mim. Não foi essa a minha pergunta.

Tracy cerrou os dentes e seus músculos se contraíram. Achei que fosse me dar um soco.

- Escuta aqui, se você acha que vai conseguir alguma coisa com isso, se enganou. Eu posso até ser um fantoche na sua mãe, mas você nunca escute bem, nunca vai ser alguém pra mim. E eu sequer vou lembrar de você quando isso acabar.

Como se lembrasse antes.

- Tudo que temos- continuou- é um acordo. Não se esqueça disso, por que eu não vou esquecer. Merda!

Ele bateu com força na mesa. Estremeci. Saiu com tudo, quase levando a cadeira junto. Sinto que algo quente escorre por meu rosto ao vê-lo partir. Queria que ficasse para sempre, mas era escolha dele ir embora. Me doeu o jeito que falou, mas já ouvi tantas coisas que essas embora me afetassem, não chegavam a me derrubar, não mais. Tiro do bolso um frasquinho pequeno com algumas pílulas. Engulo uma. Ajudavam-me a suportar aquilo tudo.

"Passe em minha casa amanhã. Vamos juntos ao colégio".

Enviei a mensagem para Tracy. Ele poderia não se lembrar de mim depois que isso passasse, mas nesse meio tempo, eu ia fazer da vida dele um inferno.

Coração Vingativo (RELEITURA)Onde histórias criam vida. Descubra agora