Capítulo Doze- O Mapa-Astral de Raquel

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Para ser honesto, eu nunca entendi o sentido dos signos. Eu chegava a dar uma checada no meu horóscopo de vez e nunca e é claro, já julguei pessoas pela má fama de seu signo, mas conforme eu fui crescendo, com mais ou menos dezesseis anos eu repensei em muita coisa da minha vida, uma delas foi nisso.

Raquel era uma cliente difícil de aparecer, mas quando dava as caras sempre carregava um livro de horóscopos ou ouvia num volume absurdo Cindy Lauper – aquela de Girls Just Want to Have Fun – em seus fones de ouvidos pretos.

Com certeza, ela é uma cliente difícil de especificar. Eu não conversava com ela, e ela não ligava pra mim. Simples, não?
Mas de sorrateiro – ou melhor, curiosidade – eu já havia visto ela fazer o mapa astral de diversas pessoas. O que mais me chamou atenção foi de um cara nomeado carinhosamente de Gabe. Provavelmente seu pretê da escola, provavelmente seu primo odiável, ou provavelmente a hipótese mais avançada da minha cabeça, seu primo odiável que pode ser seu pretendente. Tá, eu sei, eu viajo as vezes na maionese, mas gente, na vida há de tudo!

O fato é que Raquel – o nome que eu a nomeei no momento que pisou nessa cafeteria – era um viciada nesse negócio de mapa-astral, algo surpreendente criativo pois é mais fácil você ver garotas fazendo despacho do que mapas-astrais para seus pretendentes. Mas não podemos ignorar o fato dela considerar aquele livro como se fosse um verdadeiro Death Note, algo que atiçava a minha curiosidade e minha habilidade nível dez de travessuras.

Quando fui levar um simples cappuccino em sua mesa, eu dei uma olhada, aí eu dei meia volta e olhei de canto, e aí eu fingi olhar para fora da janela de vidro e dei outra espiada naquele maldito livro. Em algumas páginas tinha detalhes de cada signo, outras as costelações e nas últimas folhas apareciam os mapas-astrais. Gabe, Charlie, Summers, Iris, Esther e...hum...Tobin? – Tobin G, para ser específicar a sua assinatura no papel.

Eu quase pirei, só não pirei pelo sino da porta do café ter tocado suavemente, noticiando um novo cliente, ou melhor, uma velha cliente e uma grande amiga. Sim, Mari cruzou a porta do café e logo tratou de me dar um aceno animado.

Seus olhos castanhos puxados se reviraram quando cruzaram com o de Thomas, que estava atrás do balcão e ignorou a presença da garota, enquanto eu, quase pulei de alegria ao vê-la. Não aguentei, à puxei para o canto e contei sobre Raquel e o meu nome no seu caderninho da morte astrológica, algo que fez Mari rir nasalmente. Se eu fosse representar aquele nosso diálogo, ele seria exatamente assim:

" O que eu ganho em troca se eu conseguir te ajudar? " — ela indagou colocando uma mecha de seu cabelo longo castanho atrás da orelha, encarando descaradamente Raquel que sequer notou a presença da estrangeira.

" Que tal um Frappuccino? " — ofereci com certo charme, o que fez Mari negar com a cabeça.

" Quero algo único. " — murmurou.

" Tá, eu vou num encontro com você! " — sorri canalha e ela deu um leve soco no meu braço.

" Que? Não! Eu quero aprontar com o Thomas! " — sussurou em meu ouvido. Eu admito, eu me arrepiei todo com aquelas palavras proferidas por ela.

" Aprontar como? "

" Pichando o carro dele. " — deu um tapinha em sua própria bolsa.

" Mari, eu te amo. " — sorri de canto e ela retribuiu convicta.

Naquela hora, Mari simplesmente me largou e foi em direção a Raquel, e a cada passo, a cada milímetro de aproximadamente eu acompanhei. Até um vulto passar por Mari e fazê-la parar.

Uma segunda pessoa se juntou a mesa de Rachel, e ela era pálida, cabelos pretos, fã de guerra nas estrelas e não parecia nada abatido como estava a meses atrás. Era Isaac. O romântico incurável Isaac, em carne e osso e pela primeira vez não parecia um adolescente necessitado por uma namorada.

Mari virou-se para trás e me encarou, mas sem esperar uma resposta minha a garota avançou até a mesa do casal que sorria e estavam de mãos dadas. O sorriso de Isaac morreu ao vê-la e o de Raquel se tornou um sorriso indeciso, do tipo: " Quem é ela?"

Isaac aproximou-se do ouvido de Mari e sussurou por mais ou menos dois minutos não-sei-o-que em seu ouvido, ganhando um sembrante irritado de sua mais nova namoradinha. Quando tentei me aproximar para ouvir alguma parte da conversa, Thomas me chamou a atenção e pediu para que eu voltasse ao trabalho. Eu bufei e depois que eu entreguei o pedido da mesa cinco, Mari se apoiou em meu ombro e me informou da maneira mais natural possível.

Ele estava usando o meu nome e o meu signo para impressiona-lá. Tudo bem, Tobin é um nome diferente e bonito – na minha humilde opinião – e Aquário até que era um signo legal, mas se aproveitar do meu mapa-astrológico era demais para uma pessoa só.

Antes mesmo que eu pudesse caminhar até eles Mari me parou, com um olhar sereno até demais em seu rosto.

" Você sabe que não vai dar certo pra ele isso, Tobin. E agora você tem duas opções. Você pode ficar aqui e ir tirar satisfação com um garoto que quer se sentir amado nos braços de alguém, ou pode vir comigo dar um trote no seu chefe. " — ela sorriu convidativa. Thomas não estava mais no balcão, provavelmente estava na sua sala. E sem pensar duas vezes eu saí dali com Mari e fomos até o estacionamento de trás do Aquarius Café, e logo que encontramos o carro de Thomas, desenhamos com a tinta spray azul de Mari uma cadelinha nas portas direitas do carro e no capô deixamos bem claro nossa atitude com um "Nós estivemos aqui" em letras desajeitadas e enormes.

Então Thomas, se você estiver lendo o meu blog, nessa página, em qualquer momento, saiba que você realmente estava merecendo isso.

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