Capítulo Três- A Indiferente Holland

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Achei que ela me odiasse, sempre achei.

E não é por suas monosílabas e secas palavras, e nem pelo seu jeito rude de tratar as pesssoas, e sim pela frieza presente em seu olhar quando me via.

Eu a considero a cliente mais difícil de se servir, pois além dela fazer uma pessoa se cagar de medo com uma palavra, ela me fazia ter um infarte com apenas seu olhar que parecia um iceberg.

Eu achava que ela não ia com a minha cara, ou que talvez eu a irritasse com o meu jeito quieto, mas a verdade, é que eu não sabia pelo que ela me odiava tanto.

Se eu trazia um chá gelado, ela reclamava que não estava tão gelado, se eu trazia um brownie, ela dizia que estava sem gosto, e se eu trazia um expresso tradicional, ah cara! Ela dizia que pediu expresso com baunilha.

Era difícil agrada-la, e era mais difícil ainda arrancar um obrigado de sua boca ou até mesmo um simples e simpático "Bom-Dia" que provavelmente eu nunca ouvirei na minha vida.

E eu admito, eu a odiava.

E não era por tudo isso, era por toda aquela frieza em seu olhar, no seu modo de agir, e no seu modo de falar. Aquilo me estressava.

Holland era o tipo de mulher que parecia que a menopausa havia a atingido bem mais cedo do que era esperado para uma mulher na faixa dos trinta e tantos anos que a representava.

E seu jeito calculista e rude me mostrou que ela não era má, só mal-agradecida. E por mais que eu pensasse sobre o mistérioso motivo que fazia ela me odiar com tanta força, acendeu uma chama de curiosidade em meu peito.

E a cada dia que se passou, eu comecei a puxar papo com ela, mas sempre era ignorado ou esculachado pela senhora que me olhava com a testa franzida de raiva e que me dizia para eu parar de ser relaxado e preguiçoso. Sempre usando a desculpa de que eu estava "gastando-tempo" no trabalho. E nossa! Como eu xinguei aquela mulher, de tudo quanto é nome eu pronunciei, até os que não existe e eu acabei inventando.

E aí eu percebi que Holland não só me odiava como também queria fazer à minha no trabalho ser um inferno. E você fez. Mas foi na última visita dela ao Aquarius Café, que minha visão mudou.

Pela primeira vez quando fui lhe entregar um cappuccino para a viagem, ela me agradeceu, disse um baixo "obrigada" e se foi.

Deixando em cima da mesa, a conta, com uma pequeníssima gorjeta, algo muito gentil – e surpreendente – da parte dela. Sem contar um bilhete, pois é amigos! A mau-humorada decidiu se despedir. E em grandes letras garrafais, Holland mostrou que não me odiava, que apenas era indiferente. Talvez por que não se importava com os outros, sua opinião, ou sei lá! No fundo ela estava certa, a indiferença era apenas um escudo, que a protegia do mundo e das pessoas – seja por qualquer motivo.

"O amor está mais perto do ódio do que a gente geralmente supõe. São o verso e o reverso da mesma moeda de paixão. O oposto do amor não é o ódio, mas a indiferença..."
-Érico Veríssimo

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