— Ele é o Tobin de que eu tanto te falei! – Me lembro da fala de Mari junto com seu suave toque em meu ombro.
O garoto branquelo, assim como um leite azedo, piscou maravilhado não-sei-pelo-que enquanto rodava olhares pela pequena Mari e por mim. Minha cara de tédio estava perceptiva, mas como se tratou de um favor para a pequena decendente de asiaticos, decidi aumentar minha dose de humor e animação. Afinal, amigos ajudam uns aos outros, certo? – e a pergunta é retórica, okay?
Ela queria que eu entregasse o currículo do adolescente para Thomas, e assim eu fiz. E foi assim que Oliver Riggs entrou para a vida do Aquarius e para a minha vida da maneira mais sorrateira possível.
A benevolente Mari não pode conter o sorriso em seus lábios quando soube da notícia, e Oliver por si só revelou um gigante, alegre e esperançoso sorriso de orelha à orelha pela notícia. No momento fiquei feliz por ele, Mari havia me dito que ele não via a hora de sair da casa dos pais por causa de problemas em que estava passando, e tê-lo ajudá-lo com pelo menos uma fonte financeira foi algo que me fez fechar o expediente com uma paz interior.
Eu nunca fui o senhor santidade nem da minha casa, nem da minha familia e muito menos do bairro em que eu morava. Pelo fato de eu observar até demais, eu preferia permanecer calado vendo o mundo se acabar em chamas do que me meter no meio do fogo onde eu não era chamado. Mas sabem o que dizem sobre todas as famílias, certo? Todas tem uma ovelhinha negra, e a da minha sou eu.
Mas recapitulando...
Na época com o blog parado por um tempo, me dediquei as primeiras duas semanas auxiliando e ensinando as regras da casa para o tímido e calado garoto. Que ora respondia com: "sim, entendi." E outras com "Tudo bem, acho que dou conta disso." Esforço seria a palavra ideal para o branquelo Riggs.
Ele passou pela louça, dispensa, higiene, desempacotamentos, até que depois de um mês e meio conseguiu revezar entre o balcão comigo e como garçom como os outros.
E eu lembro como hoje da primeira vez que o enxerguei mais profundamente...ou pelo menos tentei. O rádio interno do Aquarius quebrou e no final do meu último expediente daquela semana, ficou eu e Oliver para deixar tudo arrumado para o próximo dia. Virado de costas para mim, ele cantava em sussuros "You" do The Pretty Reckless, algo até que bem agradável para o momento.
Me juntei do seu lado secando a louça enquanto o mesmo lavava com sabão em abundância. E naquele vai e vem de água contra sabão, seu branquelo pulso exibiu marcas profundas de cortes finos ainda não-cicatrizados. Vermelhos e inchados, típico de serem feitos com giletes. E eu não pude pensar outra coisa a não ser: "Porquê você fez isso?"
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Aquarius Café
Short StoryEntediado com a vida de barista, Tobin cria um blog onde a cada dia narra a vida e as peculiaridades de seus clientes mais importantes do famigerado e muito comentado Aquarius Café. Vencedor do prêmio Wattys 2017 na categoria Contos. 24/09: Capa atu...