— Como andam você e o Tony? — Steve ouviu a voz de Bucky um pouco distanciada, estava perdido em pensamentos.
— Hum? Bem, eu acho. — Bucky olhou-o preocupado.
— Isso é por minha causa? Se for, é melhor... — Steve meneou a cabeça, voltando a fitá-lo sério.
— Não, Bucky. Não importa se é por sua causa ou não, isso é entre eu e ele. Não vou deixar de ajudar você por conta dos ciúmes dele — Bucky lançou-lhe um olhar reprovador, cruzando os braços.
— Não acho que você deva diminuir tudo que causei a ele a ciúmes. É mais do que isso, Steve, e você sabe. — Steve desviou o olhar, suspirando.
— Eu sei. Eu sei. Só estou preocupado com ele, desculpe. — Bucky assentiu e relaxou sua expressão.
— Tudo bem, Steve. Entendo o seu lado, mas você não parece ter entendido o lado dele ainda. Sabe, talvez Tony não tenha sido mais afetado pela verdade sobre a morte dos pais, mas sim por você ter escondido a verdade dele. E potencialmente tê-lo trocado por mim. — Steve ficou em silêncio, voltando a ler alguns papéis para se distrair. Mas não funcionou.
— Se fosse esse o problema, ele não teria tentado matar você. — Bucky olhou-o indignado, querendo voar no pescoço do amigo.
— Steve, o que você faria se acabasse de descobrir que o seu tão clamado amigo mentiu pra você porque tentou proteger o melhor amigo dele, sendo que este para todos os efeitos matou seus pais?! Você é mais inteligente do que isso, eu sei. Só pare de me pôr em um patamar maior do que o Tony, porque eu não sou melhor que ele. E eu entendo todas as atitudes que ele tomou até agora, basta se colocar no lugar dele. Você sabe que errou e ele só estava sendo humano. Às vezes todos vocês parecem esquecer que por trás do homem de ferro existe um homem de carne e osso. Que tem sentimentos, medos, mágoas, um coração. — Steve ficou em silêncio novamente, dessa vez sequer dignando-se a contestar mais alguma coisa.
Era isso. Ele sabia que havia errado. E por todo esse tempo, ele pôs em sua cabeça que Tony havia errado também. Mas não fora isso que aconteceu — era mais complexo do que isso, ainda que tão simples. Toda ação tem uma reação. Toda ferida tem uma causa, toda mentira tem como resposta uma verdade. E a verdade de Tony, naquela situação, era a raiva. A mágoa. A impulsividade — sentimentos humanos. Porque era isso que ele era, um humano como qualquer um deles. Ele não errou, apenas fez jus à sua condição natural. E Steve sentia-se tolo ao perceber isso só agora.
Era, de fato, a primeira vez que Bucky e ele tinham aquela conversa. Não parecia certo trazer à tona tudo pelo que seu amigo passou apenas para tratar de seus dramas com Tony — não era justo. Mas às vezes Steve estava tão preocupado em ser justo com uns, que se esquecia de ser justo com outros. E os outros geralmente eram somente Tony. Apesar de amá-lo tanto, ele não fora capaz de entendê-lo quando fora preciso. Preferiu fugir — preferiu culpá-lo por algo que qualquer um teria feito em seu lugar. Preferiu deixar-lhe pra trás com um telefone e uma carta deixando em aberto a explicação para todo o mal que havia-lhe causado. Por egoísmo. Por falta de empatia — e que triste, o Capitão América sendo tão impiedoso e incapaz de tomar as dores de quem mais amava. Tudo em prol da justiça pessoal — da justiça que dizia respeito só e somente a si.
Talvez Tony estivesse certo em chamar-lhe de babaca tantas vezes. Parecia ser o único adjetivo correto para Steve descrever a si mesmo agora que percebia quão estúpido e injusto estava sendo com o menor. Por vezes Stark alertou e deixou clara a imagem prepotente e apática que Steve expressava por meio de suas atitudes e palavras meramente disfarçadas de boas intenções — em busca do “bem-estar social”. Antes do acordo Tony disse milhares, se não bilhares de vezes quão ele poderia tentar ser mais empático. Pensar no outro lado, tentar compreendê-lo. Claro que Steve nunca levou em conta os conselhos do gênio, sempre mudando de assunto ou apenas acabando a conversa para começar uma nova sessão de amassos sem fim.