desde o começo

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Uma vez sozinho no carro, Tony deixou que um longo e audível suspiro transpassasse seus lábios por pelos menos cinco segundos. Havia algum tempo que não tirava um momento para respirar e pensar no que periodicamente acontecia em sua vida. De fato, desde que retomara a relação com Steve, ele havia esquecido a sensação de não ter ninguém por perto — quase que de maneira instantânea. Às vezes era bom, lógico, mas estar sozinho era como um ritual para que seus resquícios de sanidade não desistissem dele de uma vez por todas.

Bucky estava por aí de novo — e “por aí” significava entre Steve e Tony. E mesmo que Tony tentasse não pensar muito sobre o assunto, visto que nunca levava a resolução alguma, lá estava ele perdendo-se em especulações e “e ses” da vida. Ele sentiu seus pulmões ficarem menos receptivos ao ar só de lembrar dos eventos que seguiram o acordo de Sokovia. Já fazia tanto tempo, Deus, por que aquilo ainda o atormentava tanto? Nem mesmo Nova York havia perseguido-o por tanto tempo, nem mesmo Extremis, nem mesmo Ultron! Talvez fosse o fato de nenhum desses eventos envolverem Steve como seu direto causador — ou Bucky, em outras concepções.

O fato era que pensando bem, olhando para alguns meses atrás, ele havia sido fraco em ligar para Steve e implorar que ele não continuasse a fugir. Mesmo que fosse contra os princípios, os malditos princípios do Capitão América. Ainda que tivesse de deixar de lado as suas convicções apenas para fazê-lo feliz. Então, ao receber sonoros perdões seguidos de negações, Tony deveria ter simplesmente desistido de tudo. Devia ter deixado como estava — devia ter continuado a desmoronar em silêncio, enquanto tentava juntar os cacos que restavam seus para servir de suporte a quem tinha ficado por ele. Ou por simplesmente não ter pra onde ir.

E Tony sentia agora uma breve onda de arrependimento crescer em seu peito, pensando que talvez em vez de fraudar o acordo ele devesse ter se distraído no laboratório como sempre fazia, para tentar esquecer Steve. Ele sentiu seus olhos lacrimejarem ao lembrar de absolutamente tudo que havia feito para estar ali, tentando recuperar uma felicidade que no fundo ele sabia que não pertencia-o por direito. Bucky estar novamente entre eles dois não era somente um sinal do universo para alertá-lo do inevitável, mas também um aviso de que as mentiras mais cedo ou mais tarde transbordariam e afogariam não só ele, trazendo também Steve ao fundo do poço.

Steve não devia ter escondido a informação em suas mãos, mas Tony fizera o mesmo com Ultron. Bucky não tinha culpa de nada — ele foi a única vítima na história toda, desde o começo. Ele não matou os pais de Tony, a Hidra o fez. E Tony tinha consciência disso, ainda que lhe fosse difícil esquecer a imagem de sua mãe sendo estrangulada por uma mão de metal. Já não era mais raiva que morava em seu peito, e sim arrependimento por tudo. Ainda que só houvesse tentado proteger a todos assinando o maldito acordo — que logo mais ele fraudou devido à sua enorme carência e saudade de Steve —, ainda que houvesse finalmente se rendido aos encantos do Capitão, ainda que Bucky novamente fosse um assunto a se tratar entre os dois... Tony simplesmente não conseguia mais. Eram tantas coisas pra lidar, ele nunca teve estrutura suficiente pra isso. Desde o começo — desde o Afeganistão. Ele se sentia fraco por pensar em desistir de tudo por basicamente ciúmes e arrependimento, mas a verdade era que ele sempre foi um fraco. Um homem aos pedaços, que se escondia atrás da mídia, do sarcasmo e do título de playboy para tentar compensar o recente nome de Homem de Ferro.

A verdade era que Tony não merecia Steve. Ele nunca mereceu — Steve era bom demais. Perfeito demais, de uma forma que ele nunca chegaria perto de ser. A verdade era que o universo não mentia nem se enganava quando mostrava-lhe que nada do que ele fez para tentar ser feliz novamente traria-o, de fato, a felicidade de que ele tanto sentia falta. Porque a verdade era que ele nunca houvera sido feliz. E buscar de volta o que ele nunca teve, sinceramente, não fazia sentido nenhum. E ele sabia desde o começo. Desde o Afeganistão — nada fazia sentido. Nunca fez. Desde as Indústrias Stark. Desde a falta de uma figura paterna que ele sabia que tinha, mas nunca teve de fato. Desde viver na sombra da magnitude e perfeição, dos feitos incríveis e a bravura inquestionáveis do Capitão América. E agora, aqui estava ele, sentindo-se o lixo que sempre teve consciência de ser. Sentindo-se impossibilitado de chegar aos pés de Steve Rogers — um cenário que nunca foi-lhe estranho.

BABACA | 𝘀𝘁𝗼𝗻𝘆Onde histórias criam vida. Descubra agora