O silêncio pairou pelo quarto por mais alguns minutos, enquanto o olhar perplexo de Tony caía naquela profunda mágoa que Steve tanto temia. Não queria que fosse daquele jeito, mas sabia que não poderia ser de outro que não aquele. Ele amava Tony, verdadeiramente, mas Bucky era seu amigo. Ele esteve com ele desde o começo. Até o fim da linha. Não poderia simplesmente deixá-lo estar. Seria insensível de sua parte — e falso, pois ele queria muito ajudá-lo. Mas Tony estava em jogo. E era uma merda. Que situação mais babaca.
— Tony. Por favor, escuta. — Steve pediu devagar, aproximando-se do menor que continuava na porta, em silêncio. Seus braços estavam cruzados e sua cabeça erguida, apesar de seus olhos denunciarem quão estava prestes a desmoronar. Steve suspirou e continuou: — Foi só uma ligação. Ele queria saber se posso ajudá-lo. — Tony continuou calado, olhando Steve com atenção. Ele estudava cada palavra que saía da boca do Capitão, como se montasse uma teoria para saber se eram verdadeiras ou não. Rogers deu mais um passo, ficando com o rosto de frente para o seu. — Tony?
— A comida está pronta. Vamos comer. — fora tudo que dissera antes de virar as costas e deixar Steve sozinho no quarto. Bucky ainda estava na linha quando ele pegou novamente o telefone. Rogers lhe disse que ajudaria no que precisasse e a ligação fora encerrada.
O Capitão ainda possuía os olhos perplexos, mas pouco surpresos. Talvez devesse ter esperado a “não reação” do gênio. Ele já havia mostrado sentimentos demais nos últimos dias em que estavam juntos, algo pouco comum na relação dos dois apesar de Steve sempre ter em mente quão sensível era o menor. Sabia que a mais corriqueira das situações poderia trazer à tona toda falta de afeto que Tony carregava constantemente em seu peito, e entendia-o perfeitamente. Mas pouco era o tato que tinha com palavras, ainda mais para confortar alguém em um oceano tão profundo de mágoas. Principalmente quando era um alguém que amava tanto. Tinha medo de piorar tudo e quebrar Tony sem querer, nunca se perdoaria se acontecesse. Mas havia ao menos de tentar. Decidiu então que seria melhor pôr as cartas na mesa. Não seria a primeira vez, afinal, e pelo visto nem a última. Ele apagou a luz do quarto e fechou a porta lentamente, pensando no que dizer. Uma vez no andar de baixo, ele encontrou Tony sentado à mesa. Seu olhar não saía de seu prato, mas estava muito longe dali.
Stark não queria parecer tão frágil e tão irritante, mas era mais forte do que ele. Fosse como fosse, Bucky apresentava uma ameaça para si. Com ou sem memória. Controlado pela Hidra ou não. Mesmo que no fundo ele tivesse a certeza dos sentimentos do Capitão. Mesmo que no fundo soubesse que o que eles tinham possuía um lugar reservado no coração do maior, que ninguém em hipótese alguma poderia tomar. Nem mesmo Bucky. Tony nunca fora ensinado a compartilhar, a dividir. Ele sabia dar a quem precisava, sabia doar dinheiro, bens materiais. Mas sentimentos, não. Ele nunca os teve, nem enquanto crescia, nem depois de crescido. Como poderia dividir o que nunca antes tivera o prazer de sentir? Parecia injusto. E doloroso demais — mais até do que a falta de carinho. Mesmo com Pepper, ele nunca se sentira verdadeiramente desejado apesar de tê-la amado sem limitações.
Então Steve aconteceu, beijou-o naquele dia e tomou consigo o coração do gênio sem pedir permissão. E Tony, que nunca havia experienciado aquela sensação de sentir-se tão amado e desejado, viu-se fascinado. Apesar de nunca realmente ter admitido. Mas a questão era que Tony não queria o assassino de seus pais entre Steve e ele, só que queria muito menos o melhor amigo de infância do Capitão que sempre tinha-o correndo como um bobo atrás de si. Não importava quão Steve fosse fiel a ele ou quantas vezes ele deixasse claro que amava Stark, Tony nunca iria sentir-se seguro sabendo que Bucky estava entre eles. Era dele. Estava nele. A insegurança, o medo — muitas vezes disfarçado de ironia e egocentrismo. Steve era seu bem mais precioso, era o único que fazia-lhe sentir-se importante. Mais do que um herói que salvava o mundo, ou mesmo um bilionário exaltado pela mídia e instituições de caridade.