À noite, já devidamente prontos para dormir, Steve e Tony assistiam a um filme qualquer. O loiro tinha Stark confortavelmente acolhido em seus braços, seus cabelos castanhos fazendo pequenas cócegas no queixo do maior. O sofá era grande o bastante para que sentassem um ao lado do outro, era um fato, mas Steve sentia a necessidade de ter Tony por perto. Não só consciente de sua presença bem do lado; mas o mais perto que pudesse.
Desde que se conheceram naquela ocasião peculiar que Loki trouxe à Terra, Steve sentia no fundo que o mundo tinha uma ideia errada da pessoa que Tony realmente era. Ele mesmo, ainda que ocasionalmente tentasse convencer-se do contrário, sabia que lutava para esquecer ou somente ignorar o fato de que Tony não era, na verdade, Tony Stark gênio-playboy-bilionário-e-filantropo também conhecido como a faceta por trás do Homem de Ferro™. Ele era apenas Tony, “Stark” como um peso morto na forma de sobrenome. Apenas Tony, filho de Maria e, para todos os efeitos, Howard. Na mais humilde das hipóteses, um mero mecânico que havia passado por maus bocados, mas conseguiu vencer com ajuda de suas ferramentas. Um homem comum, tanto quanto era Steve Rogers. Um suspiro contente e ligeiramente aliviado visitou os lábios de Steve por enfim poder pensar em Tony como alguém igual a ele — nem mais, nem menos. Ele apertou o menor contra seus braços, fazendo-o erguer o rosto para fitar os olhos azuis e sonhadores do Capitão.
— Tudo bem? — questionou Tony, por puro impulso. A pergunta soava presunçosa e falseada demais, proferida por quem fosse, porém fora o primeiro seguimento de palavras que ascendeu em sua mente normalmente tão mais racional do que aquilo. Steve apenas sorriu diante de sua expressão pensativa, consciente de que Tony estava mais preocupado em não soar estupidamente sem rumo do que, de fato, procurar um.
— Claro. — respondeu Steve, correndo um polegar pela bochecha do menor. Havia aquele fragmento indecifrável no castanho de seus olhos, como se lutasse contra si mesmo para ficar calado e não proferir nenhuma idiotice que fosse resultar em uma discussão. Steve não poderia ter a certeza de que aquele olhar merecia mesmo uma oportunidade naquela ocasião, mas preferiu não comentar nada.
— Sabe. Naquele dia, que eu disse que você era um babaca. Pois é. Parece que você não é. — disse Tony, pausadamente. Não havia nervosismo em sua sentença, entretanto, apenas uma gota de incerteza em cada sílaba. Quase como se Steve fosse lhe dar um soco no nariz por suas palavras com um grande potencial de destruir aquele momento tão sereno de agora há pouco.
— Desculpe? — Steve questionou, seus cílios batendo rapidamente em confusão. Demorou algum tempo até que Tony percebesse que ele não estava se desculpando do que quer que fosse, mas literalmente expressando sua reação what-the-fuck de uma forma bastante educada (nível Steve Rogers).
— Oh. — fora tudo que Tony “disse”, fazendo Steve soltar uma risada que potencialmente acalentou o momento um pouco estranho.
— Não, não. Eu não quis dizer isso. É que... Deus, Tony, você é tão confuso às vezes. — confessou acompanhado de um suspiro e Tony riu baixo.
— Tudo bem. Já ouvi isso de muita gente, por muitos motivos, em várias situações. Mas essa sem dúvidas é a minha preferida. — Steve sorriu, ainda acariciando seu rosto de maneira leve. O silêncio pairou no ar até que o maior remexeu-se desconfortável, atraindo o olhar indagador de Tony.
— Você também. Digo, você não é um babaca. Como eu falei, naquele dia. — Tony meneou a cabeça com escárnio.
— Não, olha, eu sei que sou estúpido. Não precisa me retribuir o... Reconhecimento? Não sei. Steve, eu sei que sou uma pedra no sapato. Mas. Eu não quero ficar longe de você. Deus, eu nunca quis. — disse rapidamente, sua mente como sempre tomando as rédeas da situação. Steve achava toda sua loucura de gênio fofa, atrativa e charmosa, mas na maioria das vezes aquilo lhe dava uma dor de cabeça indesejada.