técnica de combate

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— Michelle. — decretou Tony, como se só agora percebesse o que estava acontecendo. Steve já havia se afastado dele e encarava o rosto confuso da menina, tentando de alguma forma manter a calma e não pensar em quão estranho seria se aquela história se espalhasse pelos corredores da “firma”. Tony, por sua vez, apenas adotou sua típica pose de gênio-playboy-bilionário-e-filantropo e aproximou-se da criança, ficando de cócoras para olhá-la: — Michelle, o que você acabou de ver não foi nada de mais. Steve estava apenas me mostrando uma... Técnica de combate. Só isso. Eu estava fazendo seu lanche, o que você quer? — os olhos da menina oscilaram entre Stark e Rogers, que possuía uma expressão séria no rosto e os braços cruzados.

— Ouvi alguém fazendo barulhos estranhos com a boca. Achei que tinha acontecido algo — Tony assentiu e ergueu-se novamente, trocando um olhar de relance com o Capitão enquanto voltava a preparar o lanche.

— Bom, não aconteceu nada. Pode voltar a assistir, já vou levar seu lanchinho. Tudo bem? — Michelle apenas balançou a cabeça em concordância e saiu inocentemente da cozinha a passos rápidos e ansiosos para voltar a ver seu programa favorito na TV. Tony virou-se para Steve, que o encarava em silêncio e completamente sério: — Melhor você ir fazê-la companhia. — Rogers não hesitou em obedecê-lo e caminhou para fora do cômodo, fazendo com que Tony soltasse a respiração que nem percebera estar segurando.

Mais tarde, depois de Michelle finalmente comer seu lanche e seu programa favorito acabar, estava na hora de dormir. Já passava das sete e Fury ainda nem havia dado sinais de que estava voltando, frustrando ainda mais os planos de Stark de fugir de Steve o mais rápido possível. Ele de alguma forma se arrependia do que havia acontecido, por ter se entregado com tanta facilidade e por ter esquecido completamente o que Steve havia lhe feito e dito meses atrás. Não foi lá algo tão fácil de esquecer, muito menos para alguém tão sensível como Tony. Talvez Rogers ainda tivesse em mente a personalidade de Stark como uma válvula de escape de seus problemas emocionais e psicológicos, mas não uma armadura. E quem não tem uma armadura, é porque não precisa de uma. Faz sentido, até. Mas infelizmente não era assim com o gênio.

Steve, Steve. Sempre rondando a cabeça de Stark como um leão ronda sua presa. Ele não atacava, contudo, mas àquela noite havia sido diferente. Aconteceu alguma coisa pra que ele cedesse definitivamente a seus desejos carnais — e, quem sabe, até emocionais. Porém, como entender uma pessoa congelada no tempo? Como entender o que as carícias de logo cedo queriam dizer? E o mais importante, como saber o que responder àquelas carícias? Tony sentia tanto sua falta. Não poderia negar. Não havia por quê. Mas era perigoso demais baixar a guarda, por isso ele preferia permanecer em silêncio e em pânico.

Um barulho despertou Tony de seus pensamentos e ele quase agradeceu de joelhos por ser finalmente Fury, chegando daquele jeito dramático e imponente. Ele trocou um olhar com os dois heróis que permaneciam no sofá em silêncio a uma distância saudável um do outro, e apenas subiu as escadas sem dizer uma palavra. Talvez fosse melhor assim, Tony pensou. Quanto menos desculpas esfarrapadas e discussões sem futuro, menos pensamentos sem conclusão e perguntas sem resposta para a cabeça dele.

Steve levantou-se de abrupto e caminhou até a porta rapidamente, mas parou quando estava prestes a sair. O coração do gênio palpitou com a atitude, achando que por um milagre Steve finalmente lhe diria o que realmente queria e porque havia adotado aquele silêncio filho da puta logo depois de pegar na porra do seu pau. Mas conforme a cena desenrolou-se aos olhos de Tony, ele sentiu seu insignificante sentimento de esperança se esvair aos poucos. Dois passos para a esquerda. Um braço estendendo-se até o cabide para apanhar um casaco. Dois passos para a direita. Três passos para a frente e uma porta batendo num baque forte e alto. Então era isso. Mais falta de comunicação para sua estante, mais um período concluído no seu curso de trouxa e mais um ponto na carteira de babaca de Steve Rogers.

BABACA | 𝘀𝘁𝗼𝗻𝘆Onde histórias criam vida. Descubra agora