Capítulo trinta e cinco.

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Ryan esperou até o fim do show. Sua cabeça doía, seus olhos ardiam e seu peito estava apertado. Com as horas do dia que se passou, Ryan só acumulava perguntas. Ajudou os meninos na passagem de som, ajeitou mais algumas pendencias, e conviveu normalmente com Luke. Luke parecia apreensivo, mas aliviado por achar que Madison não havia falado nada. O show correu normalmente, com Madison e Ryan tensos no camarim, juntos com Mary que sabia que estava acontecendo algo, mas que tinha medo de perguntar. Quando o show terminou, e os meninos chegaram no camarim ainda com a adrenalina de um ótimo show, Ryan aguardou o momento. Esperou que eles bebessem agua, que fossem ao banheiro e que se acomodassem. Luke e Michael sentados no chão ainda rindo de algo. Ashton e Calum no sofá com Mary. Madison ficou de pé, encostada na estante com a televisão.

- Aconteceu alguma coisa? -Calum perguntou, puxando Mary para seu colo e beijando seu rosto-

- Aconteceu. -Ryan falou respirando fundo, absurdamente tenso- Aconteceu, meninos, e eu juro que não queria estar tendo essa conversa. -ele falou, esfregou as mãos uma na outra e balançou a cabeça- Quando... Quando eu comecei a empresariar a banda, algumas pessoas me falaram que vocês eram muito... Crus. E elas não falavam da música de vocês, mas sim da essência. E eu via vocês, e eu sabia que essas pessoas estavam certas. Vocês não estavam prontos para vida entraram.

- Do que você tá falando, cara? A banda é um sucesso. -Michael falou confuso-

- Sim, a banda é um grande sucesso e vocês conquistaram isso. São fortes, e eu me orgulho muito disso. -ele disse e olhou o chão por alguns segundos- Eu não quero me enrolar muito, e não queria estar nessa situação. -ele falou e olhou brevemente para Luke que parecia mais tenso ainda, mordendo o lábio inferior e olhando o chão- As vezes eu noto que vocês preferiam ainda estar em Sidney, nas suas casas, vivendo suas antigas vidas. -ele murmurou- E não estão errados, meninos. É normal sentir isso, é aceitável, e é... É bom. -ele deu de ombros- E eu sei que vocês gostam da vida que têm agora, mas é muita pressão diariamente, e vocês não estavam prontos. -ele disse e fungou levemente, olhando brevemente para os meninos que pareciam apreensivos. Seu olhar paro em Luke e nos olhos vermelhos do loiro- Eu tenho vocês quatro como filhos para mim. Eu poderia ser só mais um empresário mercenário que não se importa com a saúde mental e física de vocês, mas eu não sou esse cara. Eu sou o cara que se preocupa, se importa, e que sente por vocês o que deveria sentir por um filho. -ele balançou a cabeça-

- Ryan, o que tá acontecendo? -Ashton perguntou apoiando os cotovelos nos joelhos e encarando o empresário- Tá assustando a gente. -ele falou e Ryan assentiu-

- Um dia antes da turnê ser iniciada, eu prometi para as mães de vocês que eu cuidaria de cada um. Prometi que cuidaria de vocês como meus filhos e eu falhei, meninos. -ele falou e olhou Luke novamente- Não vou continuar falhando. Vou cuidar de vocês. -ele falou sem deixar de olhar Luke, mas o loiro se recusou a devolver o olhar- A turnê foi cancelada hoje. -ele disse e ouviu exasperações de todos, surpresos e indignados- Hoje foi o último show, eu já entrei em contato com todos os assessores dos outros locais que fariam shows, já está tudo acertado, e amanhã a notícia será divulgada. Quem comprou ingresso, poderá receber o dinheiro de volta. -ele explicou e olhou o chão-

Ashton se levantou, passando as mãos pelos cabelos e começou a caminhar pelo camarim, com o semblante fechado e em choque. Calum tirou Mary do seu colo e se sentou ereto, passando as mãos pelo rosto. Mary estava muda, pálida, sem entender nada. Michael olhava Ryan, esperando o momento em que Ryan diria que era uma brincadeira. Madison olhava o chão, concentrada em não começar a chorar. E Luke? Luke se levantou e caminhou até a morena, parando na sua frente.

- Eu pedi para você não contar. -ele falou e ela o olhou, erguendo uma sobrancelha- Isso que está acontecendo é culpa sua. Eu pedi para você não contar e você prometeu que não contaria. -ele disse com a voz rouca pela raiva, os olhos vermelhos e a mandíbula trincada-

- Isso é minha culpa, Luke? Mesmo? -ela disse com a voz embargada-

Luke grunhiu, passando as mãos pelos cabelos, agoniado, e quando se virou, todos olhavam para eles. Os meninos pareciam atordoados, confusos e precisando urgentemente de respostas.

- O que Madison prometeu não contar? -Calum tomou coragem de perguntar e se levantou, assim como Michael- Mad... -ele chamou e Madison fechou os olhos com força, balançando a cabeça e chorando- Madison, fala com a gente. -ele passou por Luke e abraçou a amiga- Luke? -ele olhou Luke que encarava Madison, escondida nos braços de Calum- Ryan? -ele chamou quando viu que Luke não responderia- Seja claro, Ryan. O que tá acontecendo? -ele perguntou, acariciando os cabelos de uma Madison aos prantos-

Quando Ryan se levantou e caminhou para perto de Luke, Luke quis sumir. Queria que um buraco se abrisse no chão e ele caísse. Ryan segurou o rosto de Luke e olhou nos olhos dele. Luke queria chorar como Madison, mas não podia. Não tinha esse direito. Sabia que era o culpado. Sabia que era o causador de tudo isso. Ryan o soltou, se afastou, olhou todos e respirou fundo.

- Luke... Ele... -ele tentou falar, mas parou, não se sentindo capaz de contar-

- Eu estou usando cocaína. -Luke falou e olhou para o chão, não querendo olhar todos- Desde o começo da turnê, mas... Mas as coisas estão fugindo do controle. Já fugiram do controle. -ele falou e balançou a cabeça- Não tem mais volta. Eu... -sua voz embargou- Eu estraguei tudo. Desculpem. -ele disse limpando uma única lágrima que escorreu-

Os meninos e Mary ficaram sem palavras. Sentiram quase o mesmo que Madison sentiu. Um vazio fundo no coração. A sensação de ver alguém que ama se matar. A sensação de perder alguém.

Michael e Ashton se aproximaram devagar. Ambos sentindo a mesma coisa. Tristeza misturada com raiva. Mas eles amavam Luke. Michael foi o primeiro a abraça-lo e Luke então começou a chorar. Ashton era o mais sensível, e já chorava também. Mary, ainda no sofá, tinhas as mãos na cabeça e parecia muito em choque. Ryan estava encostado num canto, segurando o choro. Calum soltou Madison para abraçar Luke também. Eram irmãos, precisavam estar unidos. E o que Luke pensou que havia estragado, nunca seria. Uma amizade como essa é eterna. Os problemas e os obstáculos só servem para fortalece-la. Eles não iam julgar o Luke antes de uma conversa. E independente do que Luke explicaria, eles ainda assim o apoiariam. Isso que irmãos fazem.

- E agora? -Mary perguntou olhando Ryan-

Os meninos se soltaram. Os quatro com caras de choro, assim como Madison que ainda soluçava. Ryan olhou em volta por alguns segundos antes de responder.

- Luke vai para uma clínica de reabilitação. -ele respondeu e passou seu olhar em cada um- Em Sidney. Nós vamos para casa.

All That Matters. Livro dois. (L.H)Onde histórias criam vida. Descubra agora