Capítulo 27

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   As suas mãos agora quentes, confortam as minhas, apesar dos seus lábios delicados e apetecíveis estarem cerrados, a sua mão quente que agarrava a minha de forma firme conseguia transmitir todos os seus sentimentos. A multidão tinha acalmado, tinha-mos chegado a um pequeno parque, as pétalas de cerejeira eram levadas com o vento pousando no chão e preenchendo o mesmo. O clima frio e o vento leve faziam os nossos cabelos dançar ao seu som, as suas mãos que apertavam fortemente as minhas aqueciam todo o meu corpo, o seu rosto estava sereno, um pequeno sorriso destacava-se na sua expressão, o ar estava cheio do seu perfume, o seu cheiro forte, doce e irresistível.


   Caminhava-mos tranquilamente sobre as inúmeras pétalas que se encontravam no chão, as suas palavras, a sua voz profunda e doce, soavam como música, eram harmoniosas e embalavam os meus pensamentos. Olhar para a sua face trazia tranquilidade, cada palavra pronunciada era aceite e ouvida atentamente por mim. Caminha-mos pela cidade o dia inteiro enquanto eu ouvia atentamente a história de cada uma das suas recordações dos locais por onde passava-mos. Já havia escurecido, ao longe podia-mos ver um carrossel iluminado pelas luzes, estava vazio. Um casal de idosos estava sentado num banco em frente ao carrossel, depois de horas em contacto, ele larga a minha mão e aproxima-se do casal dizendo algo que era para mim impercetível, entrega-lhes o seu telemóvel e caminha de volta na minha direção.



   -Vem cá.- diz segurando o meu braço, colocando os sacos no chão e caminhando comigo para a frente do carrossel iluminado.



   As suas mãos encontram-se com a minha cintura e os nossos corpos ficam próximos, o rosto dele veio lentamente ao encontro do meu, os nossos lábios encontravam-se agora levemente encostados como se nos fosse-mos beijar, os seus olhos olhavam diretamente para os meus como se penetrassem a minha alma e a invadissem. O casal de idosos que já teria provavelmente tirado a dita foto, encarava-nos com um sorriso. Olhei em volta, o parque onde nos encontrava-mos era o mesmo de sempre, o carrossel estava instalado ao lado da grande cerejeira que acolhia os meus pensamentos. 



   Estava uma brisa a soprar no meu pescoço, eu estava nervosa, não sabia o que esperar. Mal conseguia pensar em algo que não fosse aquele momento. A única coisa que acompanhava os meus pensamentos e me acalmava, era aquela cerejeira, era ver as suas pétalas caírem lentamente e serem levadas pela brisa...



   O olhar dele encontrava-se agora focado unicamente nos meus lábios, lentamente os seus lábios gélidos aumentavam o contacto com os meus envolvendo-os num beijo. Um beijo calmo, que inicialmente frio foi aquecendo com o contacto com a minha boca. Lentamente, trocava-mos sentimentos, verdades, calor, a sua mão acariciava os meus fios de cabelo que esvoaçavam com o vento. O casal filmava aquele momento com um enorme sorriso, assim que o beijo terminou, ele afastou-se um pouco do meu rosto presentando-me com um enorme sorriso e envolvendo-me nos seus braços. 




   -Amo-te...- sussurrou baixinho deixando as suas palavras serem acolhidas pela brisa...

Pétalas de CerejeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora