Capítulo 32

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   Após o sucedido não trocamos uma única palavra. Nem uma palavra sobre os beijos doces que recebera, nem sobre as caricias que o fizeram cair no sono minutos a seguir. Ainda antes do filme terminar, fechei-me no quarto. Por alguma razão sentia-me frustrada, bem lá no fundo, sabia que estava chateada porque o desejava, porque não queria que ele parasse e, que o meu pai não estivesse na sala, aliás, em casa e, ao mesmo tempo, chateada por estar a sentir aquilo, mesmo depois de me ter induzido a esquece-lo. No entanto, superficialmente, o meu eu superficial, aquele que era incapaz de admitir tal coisa em voz alta, decidira que estava chateada porque ambos me deixaram plantada, adormeceram ao meu lado... Que desculpa mais ridícula, ridícula, mas a única que era capaz de pronunciar em voz alta.


   No meio dos meus devaneios ouço a porta a abrir lentamente. Um vulto encontra-se do outro lado. Um vulto atraente e sensual, demasiado para o conseguir verbalizar. A manta não estava com ele, suponho que a tenha deixado no sofá. O seu olhar sonolento deixava-o sensual de alguma maneira, mas pensando bem no assunto, qualquer detalhe que ele pudesse aparentar iria parecer atraente aos olhos de qualquer um.


   -Porque é que estás a olhar para mim dessa maneira? Tenho baba em algum canto da minha cara? Ou marcas de tecido estampadas em algum lado? -o olhar dele parecia demasiado confuso, sinceramente fico grata por ele não se ter apercebido que estava a apreciar os seus braços fortes que eram bastantes marcados pela camisola, ou a pensar no quão doces os lábios dele eram. Mas eu não podia pensar isto, pelo menos não o queria fazer, mas isso já era outra história.


   Com tantos devaneios esqueci-me de lhe responder, sei que é estranho da minha parte, mas responder-lhe não estava na minha lista de prioridades no momento. Digamos antes que estava mais concentrada em engendrar uma fuga rápida do quarto para não ter de ficar vermelha que nem um pimento assim que os meus sentidos voltassem. Surpreendentemente ele não pareceu importar-se com o facto de ter sido ignorado. O barulho da chuva que voltara a cair e a sesta da qual tinha acordado há poucos minutos no ombro do meu pai, pareciam ainda estar a afetá-lo. Sem dizer mais nada, deitou-se no pequeno sofá que havia no meu quarto, colocou-se em posição fetal e fez sinal para que eu arranjasse algo para o cobrir. Fiquei perplexa, não esperava este tipo de ação vinda dele, estava a espera que ele se atirasse para a minha cama e me levasse com ele, com a desculpa que eu o tinha provocado por apenas ter respirado ou algo parecido. 

No meio do constrangimento, o seu telemóvel toca...


*Taichi*

   Não sabia onde me esconder, estava tão feliz, mas tão envergonhado ao mesmo tempo. Na altura pareceu me algo apetecível e aceitável de fazer, esquecera todas as barreiras, simplesmente segui o que o meu instinto pedia. O seu pescoço parecia tão apetecível,  o toque das suas suaves mãos pelo meu cabelo era tão confortável. Assim que acordei e me deparei com o seu pai a ocupar mais de metade do sofá, pressionando-me contra as bordas, apercebi-me que tinha cometido um erro, ela não estava mais ali e o bonitão sensual ainda não tinha pedido a inocente protagonista em casamento. Só podia significar uma coisa. Ela estava chateada. 


   A maneira como me encarou assim que entrei deixou-me confuso, talvez estivesse mesmo chateada, no entanto não queria que ela mo disse-se na cara, então achei melhor ignorar a situação. Para deixar o clima mais tenso, ouço o meu telemóvel tocar e, isso só podia significar duas coisas.

    1- A minha mãe tinha acabado por entrar em total colapso e decidira ligar-me para contar que se ia mudar para a China com um nome falso e recomeçar do zero, algo que ela já tinha afirmado querer fazer um número indeterminado de vezes.

   2- Alguma das raparigas da minha escola arranjara o meu número, de alguma forma inexplicável. Mudei de número vezes o suficientes para perder a maioria dos meus contactos, no entanto, elas ainda conseguiam ligar-me. Não me vou queixar, no entanto, não era algo que me agradasse, nunca tive muito interesse por qualquer ser do sexo feminino, tentava sempre comparar qualquer conquista com ela... Nenhuns lábios conseguiam ser tão doces, nenhum sorriso conseguia deixar-me tão tranquilo. Nunca consegui tirá-la da cabeça por algum motivo, no entanto, tentei fazê-lo algumas vezes, vezes o bastante, pois pensara que nunca mais a iria ver e teria de seguir em frente.


   Finalmente, um pouco assustado, decido atender o telemóvel, por mais incrível que pareça, não era nenhuma das opções. A voz que soou do outro lado era doce, meiga e feminina, mas não era nenhuma que eu conhecesse, nunca a tinha ouvido e estava certo de que não conhecia a pessoa que me ligou. Não era tão doce como a dela... Porque é que não consigo mudar.


   "- Taichi?"
   "-Sim, quem é? E como conseguiu o meu número?"
   "-Bemm... Não nos conhemos infelizmente, sou uma amiga do teu pai"- e prontos... foi aí que me apercebi que não deveria ter atendido.
   "- Estou apenas a ligar para perguntar se está tudo bem. O teu pai recusou-se a fazê-lo porque disse que não irias sequer atender para lhe responder. Ele está preocupado sabes..."


   Não queria mais ouvir nem uma palavra relativamente ao meu pai. Desliguei o telemóvel. Assim que o fiz esquecera-me de onde estava e simplesmente gritei. Gritei bem alto, não sei o que me deu para ser honesto... Assim que me apercebi, a Yoona estava a olhar seriamente e com um ar um tanto assustado para mim. Não sei o que me causou tanta raiva mas o meu rosto ficou imediatamente vermelho e eu não conseguia pensar. Ela parecia tão assustada que podia apostar que estava a pensar que eu lhe ia bater ou algo do género. Nunca seria capaz de o fazer.

Pétalas de CerejeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora