Capítulo 37

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   O dia estava calmo, o sol brilha novamente, acordando-me do meu sono. Tento colocar os meus braços em volta do seu corpo, mas tudo o que consigo alcançar é uma almofada. Surpreendida, abro os olhos inchados lentamente e dirijo o meu olhar para o lado oposto da cama. Vazio. Ele não estava lá. Nada estava lá. As suas roupas tinham desaparecido. Os preservativos tinham desaparecido. Não havia qualquer sinal da sua presença. Sinto que tudo foi um sonho. Visto-me apressadamente e desço as escadas, a cozinha estava perfeitamente arrumada, não haviam sinais de toda a confusão que tinha-mos feito no dia anterior. Nada. Não estava lá ninguém nem sinais de que alguma vez tivesse estado. Olho em volta e vejo um pequeno papel cor-de-rosa.

"Não precisas de te preocupar, mas peço que tentes, por um momento, esquecer completamente quem sou. Suponho que te sentirias triste por esquecer-me não? Para onde irias se te sentisses triste e sozinha? A vida é cheia de coincidências, tal como o momento em que nos conhece-mos, no passado, há muitos anos atrás, como o nosso reencontro, quero que o nosso destino, no futuro, possa também ser uma coincidência feliz." - Taichi.


   -O que é isto? - estou tão confusa, o que é que ele pretende fazer com isto? Agora que tinha decidido manter tudo tal como estava...


   Sem poder pensar muito, fui para o local mencionado na nota, o local para onde iria caso me sentisse sozinha. Corri o máximo que consegui. Depois de alguns minutos de corrida intensiva, cheguei ao parque onde se encontrava a minha enorme cerejeira. Não estava lá ninguém, as bonitas folhas e ramos da árvore, estavam, na sua maioria, despedaçados no chão, ou a flutuar sobre a água. Não consigo entender, porque é que ele mencionou este local se não estaria aqui. Liguei-lhe, uma, duas, três vezes, a minha chamada não foi atendida e nenhuma das mensagens visualizada. Porque é que ele está a fazer isto comigo, logo agora. Em que é que eles tá a pensar. Corri mais uma vez, desta vez até conseguir encontrar um táxi, para poder ir a sua casa, o único local onde me ocorria que ele poderia estar. Assim que cheguei, toquei freneticamente na campainha, até uma mulher e meia idade, com alguns cabelos brancos, frisados e despenteados,  olheiras enormes e rosto magro, abrir a porta. 


   -Yoona? És mesmo tu querida? Não te via há imenso tempo! Não acredito que estás aqui, o Taichi recusou-se a trazer-te aqui, sobre qualquer circunstância. Não entendo o que se passa na cabeça daquele rapaz ultimamente.

   -Ah, Senhora, desculpe aparecer tão de surpresa, mas por acaso viu o Taichi? Ele está em casa?

   -Esse rapaz, em casa? Não pára aqui mais de dez minutos, raramente o vejo em casa ultimamente, ele não disse que iria ficar em tua casa?

   -Sim, mas não faço ideia de onde ele esteja. Por acaso não o viu?

   -Ele veio a casa com alguns sacos na mão, não disse muita coisa, limitou-se a entrar no quarto e sair. Não sei para onde possa ter ido. 

   -Obrigada, provavelmente está na escola, não me deveria preocupar tanto. Até mais. - ela não parecia mais a mesma. Lembro-me perfeitamente dos seus longos cabelos lisos e negros, o seu corpo não excessivamente magro, o seu sorriso brilhante e o seu olhar doce. Tudo nela parecia completamente vazio agora, não esperava encontra-la neste estado.



   Procurei em todos os lugares onde já estivemos, não sei porque estou tão preocupada, mas,  depois do bilhete, fiquei confusa, não sei o que ele quis dizer com aquilo. Nada. Não estava em nenhum dos lugares. A escola é o único lugar onde me resta procurar. Duvido que ele tenha ido para lá numa situação destas. Assim que cheguei à escola, a Jiwoo esperava por mim com um ar furioso.


   -Porque não respondes ás minhas mensagens? Faltas-te o dia todo ontem. Passa-se algo? - ela parecia extremamente furiosa comigo.

   -Desculpa, os últimos dias têm sido um pouco confusos. Por acaso não viste o Taichi? - independentemente do facto da Jiwoo estar chateada comigo, preciso de encontrá-lo. Tenho de o fazer antes de falar com ela.

   -Taichi? De novo o Taichi? Porque é que estás tão preocupada em saber dele? - ela falou alto o suficiente para que todas as pessoas que estavam à nossa volta olhassem para nós. Mais especificamente, para mim, a estudante suada e cansada que estava a perguntar desesperadamente pelo Sr. Bonitão da escola.

   -Prometo que te explico tudo mais tarde, mas preciso que respondas.

   -Não o vi, estive até agora aqui à espera que aparecesses com uma desculpa para teres ignorado as minhas mensagens, no entanto, ele não passou por aqui, teria notado caso ele o fizesse, as estudantes iriam fazer um monte de barulho desnecessário. 


   Saí da escola, corri mais uma vez até ao parque, na esperança de que ele pudesse lá estar. Mais uma vez, desperdicei energia em vão. Estou cansada, não faço ideia do que se passa na cabeça dele, estou confusa com tudo isto. Pensei que tudo estivesse bem, no entanto cá estou eu, suada, cansada e com fome. Não comi nada o dia todo, corri por todo o lado e gastei todas as minhas energias. Não sei onde procurar mais, voltar para casa parece-me o destino mais correto neste momento. 


   Cambaleei pela rua, lentamente, sem energias para mostrar qualquer tipo de emoção. Algumas pessoas atarefadas fizeram questão de gritar comigo para que me apressa-se ou saísse do caminho. Comboios. Conseguia ouvir o apito alto dos comboios vindo da estação, era quase hora de ponta, suponho que tudo vá encher em breve. O apito continua a atrair-me, sinto falta de ir lá, de olhar para o rosto das pessoas, de tentar compreender os seus pensamentos. Sem me aperceber, já estava lá. Dei por mim em frente a um enorme comboio cheio de pessoas que estavam ansiosas para sair. Assim que as portas abriram, todos saíram, num enorme alvoroço, empurrões por todo o lado, barulho e rostos por toda a parte. Tentei sair do meio da multidão, no entanto senti um empurrão forte no meu ombro, o que fez com que todas as forças que ainda me restavam desaparecessem. Sinto o meu corpo a cair, não estou consciente o bastante para me preocupar, apenas aceito e deixo-me levar.  Assim que fecho os olhos, na tentativa de me privar da vergonha que iria passar, depois de ter todos os olhos sobre mim, sinto algo a segurar-me. Consigo sentir dois braços fortes a agarrarem o meu corpo, impedindo-o de colidir com o piso sujo e gelado. Assim que abro os olhos, apesar de estar um pouco inconsciente, vejo dois olhos brilhantes e um lindo cabelo preto, perfeitamente penteado. Era ele, finalmente era ele. 


   -A menina está bem? Magoou-se? - estou ainda mais confusa, acho que o confundi com alguém, apesar de parecer impossível, estava quase certa de que as feições desfocadas que vi, lhe pertenciam. Não consegui conter as lágrimas com a desilusão que senti.

   -Sim, estou bem, obrigada. - ainda um pouco tonta, tento levantar-me. 

   -Ainda bem que tudo está bem. Sou o Taichi, prazer em conhecê-la menina bonita. - assim que se apresentou, abraçou-me com força e deu-me um beijo rápido na testa. Quase como quando nos conhece-mos pela primeira vez...

   -Eu sou a Yoona. - sorri.

Pétalas de CerejeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora