Capítulo 33

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   *Yoona*

   Tenho de admitir, assustou-me, ele estava vermelho e conseguia ver uma veia pulsar na sua testa. A maneira profunda como gritou estremeceu todo o meu corpo. Sabia que não estava chateado comigo, mas ainda assim assustava. Já o tinha visto assim algumas vezes, mas não o novo Taichi, o Taichi de agora, alto, sensual, musculado o suficiente para dar cabo de mim com um toque, aliás, bastava um só olhar. Ele nunca me tinha magoado, estava certa de que não o iria fazer, aliás, eu não tinha feito nada para tal. No entanto, aquilo era algo que desconhecia nele, ainda para mais vindo de um só telefonema. 


   Assim que se apercebeu que estava assustada com tudo aquilo, aproximou-se de mim, o seu rosto voltou a ser pálido de novo, mas com cor o suficiente. Aproximou-se demasiado. Depois dos acontecimentos anteriores, dos beijos doces, dos lábios grossos e apetecíveis e a língua molhada a percorrerem o meu pescoço depositando carinhos e procurando pela minha atenção, até ao grito de raiva e a veia pulsante que me assustara de morte. Olhou fixamente para mim, não parecia estar mais nervoso.


   -Posso perguntar o que se passou? -eu tinha de saber.
   -Nada de mais pequena, peço desculpa por te ter assustado, está tudo bem. - ao dizer isto, colocou uma mão sobre o meu cabelo, acariciando-o, na tentativa de me demonstrar que estava tudo bem.


   Após isto, o sono passara-lhe, então sugeriu jantar. Concordei, depois de ele dizer, com um enorme sorriso que iria cozinhar. Cheira-me que foi uma tentativa de me pedir desculpa de modo mais discreto, sem ter de falar no assunto. Fiquei sentada a olhar para ele, enquanto este exibia as suas habilidades culinárias. O meu pai... bem... se aquele grito não o acordou, nada o faria, decidi apenas deixá-lo mais um pouco no sofá até o jantar estar pronto. Assim que o cheiro preenchia toda a casa, ele próprio se ofereceu para ir acordar o meu pai. Este pareceu um pouco confuso ao olhar para ele, o seu rosto gritava confusão. Acho que até se deve ter perguntado quem era o homem, sim homem, (não conseguia considerá-lo como um rapaz), que o acordara do seu sono profundo. Quando recuperou os sentidos e sentiu o cheiro da comida, levantou-se imediatamente, como se nada tivesse acontecido. Farta-mo-nos de comer, ele tinha cozinhado bastante, sabe exatamente o que está a fazer, pois era a melhor maneira de se desculpar com alguém, dando-lhe comida, bastante. O meu pai elogiara tudo e encarou-me a refeição inteira com a tal expressão, a expressão do "Estou prestes a fazer com que a tua vida acabe, como qualquer bom pai, completamente responsável, faria". 

   Um telemóvel toca de novo, desta vez era o do meu pai.


   Após alguns minutos ao telemóvel, e das únicas palavras que conseguiu dizer, que eram "sim", "claro" e "compreendo" , decidiu fazê-lo finalmente, aquela atitude ou decisão que tomava que destruía sempre qualquer pedaço de sanidade e amor próprio que eu ainda conseguia ter. 


   "-Bemm, rapaziada, parece que hoje não vou poder dormir em casa, a minha secretária ligou-me, vou ter de ir a Tokyo durante uma semana e, pelos vistos, tentaram ligar-me a tarde inteira para me relembrar que teria-mos de ir hoje à noite, no entanto, por alguma razão não ouvi, já nem me lembrava disto, mas é de facto importante, não posso faltar" - e foi a frase que me ia levar à loucura. Tinha vários apontamentos a fazer, não sabia por onde deveria começar. Talvez pelo facto de que ele não ouviu o telemóvel porque estava quase em estado vegetativo no sofá, ou talvez devesse referir primeiro o facto de que ele se esqueceu de algo importante e nem sequer fez as malas. Acho que é melhor não falar no assunto


   Ainda mal tinha acabado de ditar a minha sentença de morte e já estava a subir as escadas apressado para preparar as malas. O olhar do Taichi parecia confuso, quando o meu pai abrira a boca, a sua refeição estava a meio do trajeto para a sua boca, foi aí que ela ficou o tempo todo, como se tivesse congelado. Não conseguia ler-lhe os pensamentos neste momento, por mais que tentasse. Num ato quase instantâneo, o meu pai desceu as escadas com apenas uma pequena mala que, pelo seu aspeto, tinha todas as suas camisas boas de trabalho dentro. Ainda mais rápido do que desceu as escadas, disse algo que vou entender como uma despedida e saiu. Simplesmente saiu, como fazia sempre que arruinava a minha vida. A comida que ía em direção à sua boca, acabou por ficar no prato, mais nada se moveu, ele mal pestanejava. 


   Antes que a minha vida resolve-se mostrar-se mais estranha, decidi voltar a subir as escadas, sem dizer nada. Apercebendo-se da minha ação, ele chamou-me... Chamou pelo meu nome, aquele que me soava extremamente bem vindo da voz dele. Eu voltei-me para trás.


   -Não vás já dormir, vamos ver um filme, prometo que desta vez não adormeço, não precisas de ficar chateada! - disse ele.


    Várias coisas deixaram-me confusa, como é que ele sabia que eu estava chateada? E a que tipo de chateada ele se referia, aquele que era aceitável o suficiente para conseguir ser dito com palavras, ou aquele que eu verdadeiramente sentia, bem no fundo, mas não queria admitir. Fiquei confusa, ainda assim acenei-lhe, como se lhe pedi-se para esperar e, fui vestir um pijama. Quando revistava o meu armário, apercebera-me de que todos os pijamas que poderiam cobrir o suficiente a minha pele para que não congela-se, estavam na maquina de lavar... Revistei as opções que me restavam, calções, calções, calções. Nem pensar... Revistei os sacos de compras que tinha-mos feito e decidi vestir um pijama do Taichi. Grande o suficiente para me cobrir e me manter quente, grandes de mais. As suas camisolas ficavam-me como vestidos e as calças deixavam-me com um ar horrível e caiam sempre que eu dava um passo. Não parecia ter grande saída... calções. 

Pétalas de CerejeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora