Capítulo 14

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  *A minha mãe havia morrido... Ela tinha ido resolver um problema de trabalho fora do país, na viagem de volta para casa, o avião despenhou-se, ela e mais algumas dezenas de pessoas morreram naquele dia. Eu, o meu pai e as famílias de quem havia morrido estávamos desolados, a cidade onde a tragédia tinha acontecido resolveu fazer uma homenagem ás pessoas que morreram, eu e o meu pai fomos de comboio até à mesma, e lá estivemos alguns dias em luto. Quando voltamos eu e o meu pai estávamos completamente perdidos, o meu pai não sabia o que fazer pois tinha perdido o amor da sua vida, e teria de cuidar de uma criança completamente sozinho, já eu estava apenas a aperceber-me da pura realidade da vida, ninguém nasce para ter uma vida feliz, afinal, ninguém nasce com um propósito na verdade, o ser humano veio de um acaso, e continua sem ter qualquer propósito no mundo, procriar para manter a espécie, é apenas algo para desculpar a necessidade de aproveitamento dos poucos prazeres da vida, para que serve a procriação? Para trazer mais seres humanos ao mundo, que mais tarde ou mais cedo vão se aperceber do quão insignificantes eles e as suas vidas são, o quão desnecessários... Enfim, toda a gente acaba por perceber isso mais tarde ou mais cedo, não precisamos de nos preocupar com nada, afinal, nada é importante, tudo se vai, nada, nada dura, a solução para a desolação humana é simples, nada de apegos, se te apegares muito a algo, se fores como todos os iludidos que dizem que vai ficar tudo bem,  se fores inocente o suficiente para isso e se a vida ainda não te ensinou nada então a solução é simples, mentaliza-te, nada vai correr bem, tudo vai contribuir para o fim, tudo vai acabar, aceita, quanto mais rápido te mentalizares menos vai doer. No dia de regresso, assim que a porta do comboio se abriu, estava um menino sentado num dos bancos da estação, quando eu sai com o meu pai ele dirigiu-se a mim, eu estava a chorar desesperadamente, ele simplesmente me abraçou e me beijou. Eu parei de chorar, e toda a estação parou para apreciar o quão querido o momento era. A partir desse dia o menino começou a vir brincar comigo todos os dias, o nome dele era "Tae" era assim que queria que eu o chama-se, fazia me sentir sempre melhor e foi graças a ele que consegui passar tão bem pela perda da minha mãe. Os anos foram passando, ele não deixou nunca de vir todos os dias ter comigo, mesmo eu já tendo conseguido acostumar-me ele não me deixava, era mos muito próximos, nunca houve um pedido de namoro oficial, mas sinto que não foi necessário, namoramos até aos 13 anos, a única razão pela qual acabou foi porque ele iria-se mudar para o Japão. Apesar de novos, tinha-mos uma relação um tanto "adulta" conhecia-mo nos à bastante tempo, ele cuidava de mim quando o meu pai tinha de ficar alguns dias fora a trabalho. Surpreendentemente, depois que ele se mudou não voltamos a falar, e com o tempo tornou-se apenas mais uma lembrança, e mais uma prova de que nada dura tempo suficiente. *

Pétalas de CerejeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora