Capítulo 35

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   Dói-me imenso o abdómen, foi o primeiro pensamento que me veio à cabeça. Estava bastante sonolenta, não fazia ideia de que horas eram, sentia-me apertada. Ao inicio não dou muito por mim, mas, à medida que vou recuperando os sentidos, vou me apercebendo de pequenas coisas. Coisa número um: Eu não estava no meu quarto. Estava na sala. Coisa número dois: Conseguia sentir um cheiro extremamente intenso no ar. Desagradável. Coisa número três: Tinha um braço à volta do meu corpo. Sabia perfeitamente a quem ele pertencia. Coisa número quatro: conseguia ver seis preservativos usados espalhados pelo chão da sala. Sabia perfeitamente porquê. Porque a caixa tinha acabado, o que na altura o deixara bastante frustrado. E porque tinha acabado de ter a melhor noite da minha vida. 


   -Bom dia pequena. - a voz sonolenta, profunda e rouca do costume.

   -Bom dia. - não consigo esconder o sorriso na minha cara. Era impossível. Tinha passado a noite inteira e uma parte da manhã, a ter sexo do bom. Coisa que não tinha há muito tempo. Por surpresa minha, acabava sempre daquela maneira, a última vez que o tinha-mos feito, fora na sala, no sofá, da minha antiga casa. Desta vez tinha sido de longe, muito melhor. Deu para perceber, com apenas uma noite e parte de uma manhã, que eu não tinha sido a última com quem ele tinha tido este tipo de intimidades. Por alguma razão isso incomodava-me. 


   Tentando ignorar o alarme de stop que ecoava na minha cabeça, causado pela conclusão a que tinha acabado de chegar, pensei um pouco. Não me sentia arrependida. Não me sentia culpada. Sentia-me segura e confortável. Não estava sequer preocupada em arrumar tudo loucamente para que o meu pai nunca descobrisse, pois sabia que, tal como ele havia dito na noite anterior "Estamos sozinhos. Por uma semana". Não entendo o porquê de ele não regressar a casa, o braço dele estava perfeitamente bem, pude confirmar isso na noite anterior, e numa parte da manhã. Agora que penso melhor no assunto, a ida repentina no meu pai foi estranha. Ele tinha por hábito esquecer-se de coisas importantes, mas ainda assim tinha sido estranho. Várias hipóteses passaram pela minha cabeça. A que mais se fez soar foi a hipótese de que "Tokyo" era uma nova namorada dele, com a qual ele tinha ido passar uma semana. Não me importava que ele tivesse outra namorada, nem que casasse de novo, sempre lhe disse que ele deveria seguir em frente, estava viúvo há anos e raramente me apresentara namoradas durante todo esse tempo e, as que eu cheguei a conhecer, não duraram mais do que dois meses. Nenhuma. Ainda assim, essa hipótese parecia-me pouco provável. Muda-mos de país por causa da empresa, ele não iria deixa-la por uma semana inteira para ir para os braços de uma das namoradas de dois meses que raramente existiam. De qualquer maneira, não era com meu pai nem as suas conquistas amorosas breves que estava preocupada neste momento.


   -Vamos tomar um banho, depois arrumo isto tudo, não te preocupes.- a voz de sempre que arrepiava cada pelo do meu corpo nu, sempre que soava.


   Era segunda-feira. Não sabia que horas eram, mas sabia que já tinha-mos faltado a um monte de aulas. Decidi não ir à escola hoje, com a desculpa de que apanhei uma constipação com toda a chuva do fim de semana. Já o Taichi, disse-me que ia apenas de tarde, para poder passar a manhã comigo. Toma-mos banho. JUNTOS. É Estranho pensar nisto assim.

  A mesma conclusão à qual cheguei quando acordei, ainda não saíra da minha cabeça. Não deveria estar incomodada, mas oficialmente, nunca chegamos a acabar. Nem mesmo a começar. Nunca. Eu já tinha beijado outros rapazes, admito, mas nada de sério, não passara de um beijo. Com ele, já tinha feito praticamente de tudo, podia até dizer que na altura vivia-mos praticamente juntos, já que ele passava mais tempo em minha casa no que na dele. Tal como agora. Os mesmos comportamentos estão a repetir-se. Sinto-me relaxada o suficiente para falar abertamente com ele. Depois de tomar-mos banho, deita-mo-nos um pouco na minha cama, mais quente e confortável.

Pétalas de CerejeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora