Prólogo: Sem Contos de Fadas

1.4K 72 7
                                    

As crianças terminaram de confeccionar seus cartões de São Valentim e a professora sugeriu que a ordem do discurso fosse por fileiras. Os alunos aceitaram e um a um foram se levantando e dizendo a qual colega queriam dar o presente. Todos iam bem até que chegou na vez dela. A pequena loirinha de olhos azuis levantou da cadeira um pouco desajeitada e mostrou o cartão que havia confeccionado. A professora olhou para a menina que contava animadamente como tinha feito seu cartão. Todos estavam curiosos em saber para quem a marrentinha de menos de um metro ia dar seu cartão, até mesmo a professora estava curiosa. A loirinha abriu um sorriso ao dizer para quem daria seu cartão de São Valentim: A ela mesma. Ela explicou que sua tia sempre lhe dizia que ela devia se amar mais que tudo e também sempre reconhecer seu valor. A professora ficou em silêncio após o discurso, ela jamais esperava ouvir aquilo de uma criança. A loirinha abriu um sorriso ao terminar de falar e voltou a sentar com seu cartão. Um garoto no canto da sala cochichou alguma coisa com sua melhor amiga, que riu. A loirinha encarou os dois, que tinham trocado cartões, e voltou a olhar para seu cartão. Ela tinha em mente que era a única que merecia alguma coisa vindo dela mesma. A pequena não tinha tantos amigos, apenas duas e por insistência de sua tia. Mas ela sempre soube que não precisava de ninguém além dela mesma para conseguir alcançar o que queria.

Âmbar não era uma criança como as outras e todos sabiam disso. Ela sempre se colocava na frente de todos e custava muito sentir empatia. Tudo devia ao fato de ter sido criada por sua tia Sharon, que sempre tentou fazer dela um robô perfeito. Por conta de toda sua história sem esperança, Âmbar nunca acreditou em contos de fadas, no amor ou em príncipe encantado. E por trás daquela imagem de menina perfeita se escondia uma princesa que não queria ser resgatada, mas queria se resgatar. Ela sabia que vivia numa espécie de torre da Rapunzel pelas imposições e expectativas que sua tia colocava em cima dela. A loira tinha para si que devia sua vida a Sharon e por isso, sabia que nunca poderia decepcioná-la, mesmo que isso custasse não ser quem queria de verdade, nem realizar as próprias vontades ou agir da forma que queria. Além de tudo, Sharon era a única pessoa com laço de sangue que ela conhecia. Irmã de sua mãe, que nunca contou o nome de seus pais e que ela também nunca se interessou em abrir essa ferida.

Ela estava prestes a fazer dezoito anos e queria começar a realizar pelo menos alguns de seus sonhos, já que sabia que outros eram impossíveis. Era seu último ano no colégio e ela tinha alguns meses para convencer Sharon que ela deveria cursar a faculdade de moda e não a de direito. Âmbar viu seu reflexo no espelho e tocou calmamente o vidro que refletia sua imagem. A loira se encarou por alguns instantes e fechou os olhos, querendo se livrar logo daquela imagem de garota perfeita.

Crime Perfeito | SimbarOnde histórias criam vida. Descubra agora