Cheguei ao Roller e vi Simón parado em frente ao lugar. Desci do carro e pedi que meu motorista me esperasse, já que estava tarde e não ia demorar. Simón abriu um sorriso ao me ver e caminhei na direção dele o abraçando. Demos um abraço rápido e entramos no lugar. Fomos até a área dos armários, abrimos e colocamos os patins e equipamentos. Caminhamos em silêncio até a pista e dei algumas voltas voltando a me familiarizar com aquilo. Quando já estava acostumada novamente, fiz algumas manobras e Simón aplaudiu. Ele estendeu a mão para mim, eu a agarrei e demos voltas juntos pela pista. Sorri ao voltar a sentir aquela sensação boa ao patinar. Ele parou de repente e eu franzi a testa. Simón se aproximou de mim e me beijou sem esperar minha reação. Cheguei a corresponder ao beijo, mas parei quando percebi o que estava fazendo.
- Você tá louco? – Parei o beijo e o empurrei. – Me responde, você tá louco?
- Por que? – Ele perguntou como se eu estivesse fazendo a pergunta mais estúpida do mundo.
- Você ainda pergunta o motivo? – Sorri ironicamente.
- Eu só pensei que... – Ele parecia confuso.
- Pensou errado! – Interrompi, não deixando que ele terminasse de falar. – O que você tem na cabeça? Eu achei que você fosse meu amigo.
- E eu sou. – Ele respondeu confuso.
- Só amigo. – Voltei a encará-lo. – A Delfi tinha razão. Você quer algo a mais de mim.
- Você também quer isso de mim. – Ele protestou.
- Eu não quero nada de você! – Neguei. – Eu só queria ser sua amiga porque você é uma pessoa que me faz sentir bem. Ou, pelo menos, fazia antes de invadir o meu espaço dessa forma.
- Não adianta negar, Âmbar. – Simón se aproximou e olhou no fundo dos meus olhos. – Eu sei que você sente o mesmo por mim. – Ele tentou colocar a mão em meu rosto e eu me afastei.
- Eu nunca sentiria alguma coisa por você. – Disparei. – Você tá confundindo as coisas e tá estragando uma amizade.
- Relacionamentos começam a partir de uma amizade.
- Entre a gente não! – Gritei. – Você não entende, né? Eu não gosto de você dessa forma, não sinto nada por você que passe de uma amizade, Simón. Com você eu me sentia à vontade, sentia que poderia falar tudo da minha vida, achei que podia confiar em você. Eu até aceitei vir aqui, correr o risco de que alguém nos visse, mas eu vim porque eu confiava em você. E porque eu achava que o nosso era coisa de amigos. Mas não.
- Você não consegue enxergar, né? – Ele balançou a cabeça negativamente. – Você não consegue ver seus próprios sentimentos.
- Quem não consegue enxergar é você! – Voltei a gritar. – Você não consegue enxergar que estragou o que a gente tinha e que isso aqui pode estragar outra coisa. – Me referi a minha amizade com Jazmín. – Eu nunca sentiria nada por você. Ainda mais sabendo que uma das minhas melhores amigas gosta de você.
- Não tem nada de errado em você se apaixonar por alguém, Âmbar. – Ele voltou a insistir no assunto. – Você não vê que tudo que você me disse aquele dia sobre o garoto que você queria na sua vida, era, na verdade, uma descrição sobre mim?
- Você só pode estar louco. – Não acreditava que aquilo estava realmente acontecendo. – Você deve estar querendo me manipular como todo mundo. Mas eu tô mais esperta, Simón, não vou deixar que ninguém me manipule.
- Pode até estar esperta e não deixar que ninguém te manipule, mas você tá tentando manipular os seus próprios sentimentos. Você tá fazendo com você mesma o que não quer que ninguém faça com você. – Ele saiu andando e eu franzi a testa sem acreditar que tinha escutado aquilo.
Fiquei um tempo parada na pista sem conseguir aceitar que aquilo tinha acontecido. Fui até os armários e guardei meus patins e equipamentos. Sai do lugar e vi Simón parado, esperando que eu saísse para fechar a porta. Não consegui olhar para ele e segui até onde meu motorista estava me esperando. Entrei no carro e bati a porta com força. O motorista subiu os vidros e acelerou. Eu só queria chegar logo em casa.
Ao chegar em casa, me joguei na cama e não me permiti chorar. Eu não tinha motivos para chorar, mas queria. Jazmín não merecia que aquilo tivesse acontecido. Ela gostava de verdade dele e sei que a machucaria muito se descobrisse que ele estava interessado em mim. Ela era uma das minhas melhores amigas e não queria que saísse machucada nessa história. Conclui que Delfi tinha razão. Eu devia ter me afastado antes de Simón para que isso tudo fosse evitado. Eu sabia que, agora mais que nunca, devia me afastar dele, mas só de pensar nisso sentia um aperto no peito.
Era verdade o que eu tinha dito a ele. Eu me sentia à vontade em contar tudo pra ele, achava que podia confiar e de repente, sentia como se tivesse sido esfaqueada pelas costas. Isso tudo nunca devia ter acontecido. Eu nunca devia ter dado confiança e deixado que ele entrasse em minha vida. Eu estava dividida já que devia ficar longe dele, mas só de pensar nisso, me entristecia.
Apaguei as luzes do quarto e fechei os olhos. Mesmo que meus olhos estivessem fechados, não conseguia parar de repetir aquela cena na minha cabeça. Abri os olhos e respirei fundo. Ainda não tinha parado para pensar como me senti em relação ao próprio beijo e decidi que não era uma boa hora pra refletir sobre aquilo. Era estranho, mas não me sentia mal. E sim, culpada. Não sabia como iria olhar para Jazmín sem pensar no beijo que Simón tinha me dado. Franzi a testa ao perceber que só estava pensando no que Jazmín poderia sentir. Desde quando eu tinha ficado tão pensativa nos sentimentos alheios? Até pouco tempo atrás eu não me importaria, mas algo dentro de mim estava mudando. Talvez a idade, talvez o último ano da escola ou talvez algo a mais.
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Crime Perfeito | Simbar
Teen FictionSinopse: Prestes a completar dezoito anos, Âmbar quer terminar a escola e se livrar da imagem perfeita que sua tia a impôs desde pequena. Ela nunca acreditou em conto de fadas, em príncipes encantados ou no amor. Criada em meio a um mundo de luxo e...