Capítulo 8: Uma garota como você

578 46 5
                                    

No dia seguinte ao chegar a escola, Jazmín disse que concordava em fazer a entrevista com Nico desde que eu estivesse junto. Acabei por concordar. Não sabia o que Nico queria exatamente comigo, porque me parecia raso demais que ele me ameaçasse por uma pulseira. Então, logo depois de almoçar com minha tia, que havia resolvido aparecer em casa, fui ao Roller acompanhar Jaz. Delfi tinha mandado uma mensagem dizendo que não iria porque estava de encontro marcado com Pedro. Quando cheguei, Jazmín já estava com as câmeras montadas e Nico estava de braços cruzados a encarando.

- O que aconteceu? – Questionei, percebendo o clima tenso no ar.

- Sua amiga não quer me maquiar. – Nico descruzou os braços e Jazmín riu.

- Por que você quer ser maquiado? – Perguntei sem entender. – Você só vai gravar uma entrevista pro canal. Não é televisão ou algo do tipo.

- Eu levo meus compromissos a sério, Ambar. – Ele respondeu me encarando.

- Isso é ridículo. – Também o encarei. – Tudo por uma pulseira?

- Jazmín, pode nos dar um minuto sozinhos? – Nico pediu e ela me olhou, concordando.

- O que você quer? – Não me intimidei e também encarei o garoto a minha frente.

- Eu aposto que a Jazmín não sabe que o Simón te deu as flores. – Ele sorriu vitorioso e eu engoli a seco. Então, era essa a ameaça. – E eu sei que ela não iria gostar disso.

- Se você quer a maldita maquiagem, eu vou te maquiar. – Disse entredentes. – Mas você sabe que essas ameaças vão ter volta, não sabe? Parece até que você não sabe com quem tá se metendo.

- E você sabe? – Ele ergueu uma das sobrancelhas e respirei fundo saindo de perto dele.

Conversei com Jazmín e pedi que ela me ajudasse a maquiar Nico. Quando ele sentiu que estava satisfeito, concordou em começar a gravar a entrevista. Jazmín sentou à frente do garoto e eu fiquei atrás das câmeras, observando tudo sem falar nada. Simón parou ao meu lado e cruzou os braços.

- O que tá rolando aí? – Ele questionou e continuou com os braços cruzados.

- O seu amiguinho quer pagar de estrelinha. – Respondi e Simón riu baixinho.

- Você parece irritada. – Simón fez uma observação e eu apenas concordei, balançando a cabeça positivamente.

- Não sei como você aguenta o Nico.

- Tenho uma ideia. – Simón olhou para mim e eu fiz o mesmo. – Vamos tomar um milk-shake pra você ficar mais calma. Mas com uma condição.

- Qual condição? – Franzi a testa e ele ficou sério de repente.

- Eu escolho o sabor. – Ele respondeu ainda sério. – Lembro que você tem um sério problema de indecisão.

- É verdade. – Concordei, rindo. – Mas não sei se é uma boa ideia.

- Por que? – Simón interrogou surpreso com minha resposta.

- Prometi que ficaria aqui com a Jazmín. – Disse sem jeito. – Não acho uma boa ideia deixar ela aqui sozinha com o Nico.

- Posso considerar que você tá me devendo uma companhia de milk-shake? – Simón questionou e eu acabei concordando.

- Tudo bem. Eu te devo um milk-shake. – Sorri e ele olhou fixamente para mim.

- Nico tem razão. Seus olhos são ainda mais bonitos de perto. – Simón elogiou e saiu andando, me deixando sem palavras.

Sorri com o elogio assim que ele saiu e balancei a cabeça negativamente sem deixar de sorrir. Olhei para Jazmín e Nico e os vi entretidos. Ela não ligaria se eu saísse um pouco, certo? Sai andando atrás de Simón tentando não chamar atenção da ruiva.

- Simón! – Chamei o garoto quando estava fora da vista de Jazmín.

- Ei. – Ele se virou em minha direção.

- Eu te devo um milk-shake, certo? – Perguntei e ele concordou sorrindo.

- Eu escolho. – Simón repetiu e foi minha vez de rir.

Não sabia o motivo, mas me sentia bem perto dele. Mais tranquila. Mais leve. Mais eu mesma. Alguma coisa nele me deixava confortável e eu sentia que poderia ficar horas conversando ou até mesmo sem falar nada. Só em estar com ele, já me sentia mais... Não sei. Ele me fazia bem.

Sentamos em uma das mesas e Simón fez o pedido ao garçom. Dois milk-shakes de sorvete de creme e chocolate. O garçom saiu e ele voltou a me olhar fixamente.

- O que foi? – Questionei.

- Acertei no pedido? – Simón perguntou parecendo inseguro. Apenas assenti. – Da próxima vez, talvez, eu deixe que você escolha o sabor.

- Tá certo. – Eu não sabia se teria uma próxima vez e poderia ter dito que não teria uma próxima vez como normalmente responderia. Mas apenas concordei. Talvez tivesse uma próxima vez.

- Então, como o Nico conseguiu a entrevista solo? – Simón disparou de repente.

- De verdade?

- Sim. – Ele assentiu. – Não é uma coisa que pareça normal.

- Ele me ameaçou. – Respondi naturalmente. – Primeiro com a pulseira e depois em contar pra Jazmín que você tinha me dado as flores.

- Eu só não entendo onde a Jazmín se encaixa nisso.

- Você só pode estar brincando. – Ri sem humor. – A Jazmín é louca por você.

- Nossa. – Ele pareceu engasgar com a própria saliva ao ouvir aquilo. – Você tá falando sério?

- Sim. – Concordei.

- É por isso que você ficou apreensiva quando eu disse que elas tinham visto a gente conversando. – Ele concluiu e eu fiquei quieta. – Ela é muito bonita, inteligente, engraçada, mas nunca me interessaria por ela.

- Nunca é uma palavra tão forte, Simón.

- Você não entende, Ambar. Eu nunca me interessaria por ela. Jazmín não faz meu tipo.

- Vocês formariam um casal bonito. – Disse e o garçom colocou os dois milk-shakes em cima da mesa.

- Eu não consigo ver ela de outro jeito que não seja como amiga. – Ele afirmou e dei um gole em meu milk-shake.

- Mas os casais sempre começam como amigos. – Insisti.

- Alguns sim, outros não. – Ele parecia desconfortável com minha insistência no assunto.

- Como você pode dizer que nunca se interessaria por ela de outra forma?

- Porque eu sei o que sinto. – Ele também deu um gole em sua bebida. – Quando eu me interesso por alguém, acontece na primeira vez que eu vejo a garota. Eu olho nos olhos dela pela primeira vez e sei que é ela.

- Nunca senti isso por ninguém. – Suspirei. – Acho que o amor não foi feito pra mim.

- Talvez. – Ele suspendeu um dos ombros e voltou a tomar o milk-shake.

- Não acredito muito nessas coisas de à primeira vista, de se apaixonar perdidamente ou de saber que é a pessoa certa. – Confessei. – Nunca acreditei em contos de fadas, nem em nenhuma história de amor.

- E não tem nenhuma ideia de como gostaria que fosse a pessoa certa pra você?

- Uma pessoa que me entendesse, que soubesse me aceitar como eu sou sem querer mudar nada em mim e que me fizesse sentir bem sendo eu mesma. – Refleti. – Acho que a aparência não importaria desde que ele me fizesse bem.

- Hm. – Ele resmungou e continuou a tomar seu milk-shake.

- E você? – Perguntei o encarando. – Como seria a sua garota perfeita?

- Não diria perfeita, mas, sim, a certa. – Ele me corrigiu. – Acho que seria uma garota como...

- Ambar! – Delfina interrompeu Simón. – Simón. – Ela olhou para nós dois sem entender.

- E aí? – Pedro também olhou para nós e dei um gole em meu milk-shake tentando não me alterar com a situação. Éramos apenas dois amigos tomando um milk-shake. Difícil seria Delfi acreditar naquilo.

Crime Perfeito | SimbarOnde histórias criam vida. Descubra agora