Capítulo 11: Você chegou

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Cheguei ao colégio no outro dia de manhã com um sorriso estampado no rosto. Vi Delfi e Jaz em um canto e fui até elas. Delfina me encarou e Jaz nos olhou sem entender.

- Por que o sorriso? – Jazmín questionou e eu balancei a cabeça negativamente. – Pensei que éramos suas melhores amigas, Ambar.

- Não aconteceu nada. Acordei de bom humor. – Menti. – Hoje o céu está bonito e o sol tá brilhando mais que o normal.

- Tem certeza que é só isso? – Delfi perguntou provocando e eu assenti. – Eu preciso conversar com você, Ambar.

- Por que vocês estão tão misteriosas? – Jaz interrogou e Delfi forçou um sorriso.

- Não estamos misteriosas. – Delfi mentiu. – É que é uma coisa que só a Ambar sabe.

- Obrigada por me deixar de fora. – Jazmín saiu andando e Delfi cruzou os braços.

- É assim que ela vai se sentir quando souber. – Delfi me encarou. – Traída e passada pra trás. Mas você não pensa em ninguém além de você mesma, né?

- Eu não sei do que você tá falando. – Olhei para outro lado. – Eu não tenho nada com o Simón. Somos só amigos.

- Você acha mesmo que eu vou acreditar nisso depois de ter visto a forma como vocês dois se olham? – Ela insistiu.

- Delfi, se tivesse alguma coisa, eu te contaria. Não sinto nada por ele além de uma amizade. – Afirmei. – Eu sei que a Jazmín gosta dele e eu não faria isso com ela.

- Fico feliz em ouvir isso. – Delfi suspirou. – Mas se quer um conselho, se afasta dele.

- Pode deixar. – Resolvi concordar e senti uma coisa estranha no peito. – Eu vou me afastar do Simón se isso faz com que você não insista em coisas idiotas.

- É o melhor mesmo, Ambar. – Delfina piscou um dos olhos.

- Vamos. – Desviei o olhar e Delfi assentiu, entrando na sala de aula.

As horas passaram devagar nesse dia. No final da aula, me despedi de Delfina e Jazmín e fui até onde o motorista estava me esperando. Entrei no carro em silêncio e fechei a porta. O mau pressentimento continuava em mim e parecia ficar mais forte a cada segundo. Cheguei na mansão e vi o almoço servido. Não quis almoçar. Peguei meu livro dentro da mochila e tentei estudar. Me senti estranha e fechei os olhos. Voltei a tentar ler as frases no livro, mas não consegui. Desde que Delfi tinha dito que o melhor era me afastar de Simón, meus sentimentos se embolaram e eu já não sabia o que sentir. Relaxei as costas na cadeira e guardei o livro dentro da mochila. Subi as escadas da mansão e abri a porta de meu quarto. Tomei um banho tentando organizar meus pensamentos e me senti mal ao não chegar em nenhuma conclusão. Eu não devia me importar tanto assim com isso. Vesti uma roupa qualquer e resolvi sair da mansão. Assim que pisei os pés fora da casa, senti o vento violento bater em meu rosto e bagunçar meu cabelo. Não sabia para onde ir, mas decidi caminhar. Andei até uma praça que tinha a dois quarteirões e sentei no banco de madeira.

- Não sabia que você vinha pra cá. – Ouvi uma voz conhecida.

- Eu precisava andar. – Respondi sem me virar na direção dele. – Não tô me sentindo muito bem.

- Ainda com o mau pressentimento? – Simón questionou e eu assenti. – Quer conversar?

- Acho que não. – Rejeitei. – Talvez o silêncio seja o melhor agora.

- Quer ficar sozinha? – Ele me olhou sem graça.

- Não. – Suspirei. – Podemos ficar aqui sem falar nada?

- Como você preferir.

- Obrigada. – Agradeci e forcei um sorriso. – Sabe, eu tô cansada de não poder ser quem eu gostaria. As vezes sinto que até minhas amigas tentam me manipular. Até o Nico se aproximou de mim pra me manipular.

- Eu não quero te manipular. – Ele afirmou. – Se é isso que você tá pensando...

- Não. – Neguei. – Com você é diferente. Eu me sinto à vontade. Sinto que posso ser eu mesma, sabe? Não sei o que você fez pra que eu confiasse em você, mas deu certo.

- Enquanto você permitir, ficarei aqui. – Ele procurou minha mão e a segurou. – E se não quiser falar, eu estarei aqui com você em silêncio. Mas se quiser falar, te escutarei.

- Pode só me dar um abraço? – Pedi sem jeito e ele concordou.

Simón me puxou para perto de si e me abraçou. Eu coloquei minhas mãos em suas costas e o puxei para mim. Abracei o garoto a minha frente como se precisasse daquilo pra viver. O vento bateu em meu rosto e repousei minha cabeça em seu ombro.

- Não sei porque você se aproximou de mim, mas obrigada por estar aqui. – Continuei abraçada a ele. – Obrigada por ter chegado.

- Vai ver eu sempre estive aqui. – Ele brincou e me soltou.

- Vai ver você sempre devia ter estado aqui. – Corrigi.

- Quem sabe? – Ele deu de ombros e eu assenti.

- Preciso voltar pra casa, mas, obrigada. – Levantei do banco um pouco zonza e caminhei de volta para casa.

Voltei para a mansão e percebi que os empregados estavam estranhos. Lavei as mãos, sentei a mesa e almocei. Levantei da cadeira ao terminar de comer e procurei por Sharon. Não encontrei minha tia no primeiro andar. Subi as escadas e abri a porta do quarto dela. Sharon também não estava lá. Desci as escadas com o coração disparado e fui até os empregados.

- Alguém viu a Sharon? – Perguntei e eles negaram. – Mesmo?

- Sua tia fez uma viagem, senhorita. – Um dos empregados respondeu e eu apenas concordei.

Sharon tinha feito uma viagem? Por mais que ela sempre fizesse viagens de emergência, alguma coisa me dizia que era mentira. Ela andava mais estranha que sempre era. Meu péssimo pressentimento só se fortaleceu e respirei fundo, apertando minha própria mão.

Estudei um pouco a tarde, tentando tirar meu foco da viagem de minha tia. A campainha da mansão tocou e um dos empregados abriu a porta. Delfina e Jazmín entraram sem cerimônia e foram até mim.

- Que surpresa. – Disse, fechando o livro e olhando para minhas duas amigas.

- Te senti meio estranha durante a aula. – Jazmín disse atenciosa. – Aí conversei com a Delfi e resolvemos vir te fazer companhia.

- Sua tia tá? – Delfi perguntou e eu neguei.

- Ela fez uma viagem de emergência.

- Quer fazer compras? – Jaz me perguntou não contendo a animação. – Sinto falta de fazer compras com vocês.

- Acho uma ótima ideia. – Delfi rapidamente concordou. – Assim a gente coloca a conversa em dia e ainda faz compras.

- Vamos, Ambar. – Jazmín segurou minha mão quase suplicando. – Você tem as melhores opiniões sobre moda.

- Vou me arrumar. – Acabei concordando depois da insistência de Jaz.

- Eu disse que ela ia aceitar. – Ouvi Jazmín falando com Delfi enquanto eu subia as escadas.

Escolhi uma roupa qualquer e a vesti. Meu celular começou a vibrar e eu estranhei. Quando vi que era uma ligação, atendi.

- Oi. – Disse ao atender.

- Ei, Ambar. – Simón disse do outro lado da linha.

- Ei. – Respondi.

- Você quer patinar hoje? Tava pensando nisso desde ontem. – Ele perguntou.

- É que...

- Vamos, Ambar. – Simón insistiu.

Suspirei e rolei os olhos. Eu queria patinar, já que fazia muito tempo que não fazia aquilo, ainda mais com Simón. Mas não podia desapontar minhas amigas. Era como estar entre a cruz e a espada. Por mais que elas fossem minhas amigas há mais tempo, me sentia mais a vontade com Simón.

- Então? – Ele voltou a insistir. O que eu devia fazer?

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