Capítulo 15: Afaste-se de mim

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Simón tentou colocar a mão em meu ombro, mas desviei. Olhei para ele sentindo tanta raiva que não sabia nem que conseguia sentir. Eu tinha que dar um basta naquilo de uma vez por todas. Encarei Simón e forcei um sorriso.

- Você não vai falar nada, né? – Perguntei e ele ficou calado não parecendo entender.

- Eu não tô entendendo onde você quer chegar, Âmbar. – Ele se defendeu da forma mais patética possível. – Me diz o que eu fiz de errado.

- Você armou toda essa situação pra Jazmín acreditar que existe alguma coisa entre a gente. – Disparei. – Claro, eu disse ontem que não magoaria minha amiga e você fez esse favor por mim. Você só me manipulou como todos os outros fazem.

- Eu juro que não fiz nada. – Simón insistiu em se defender. – Âmbar, eu não tenho nada a ver com isso. Nem sabia que a Jaz estava aqui.

- Claro que não sabia. – Sorri, debochando. – Você jogou baixo demais, Simón.

- Eu não fiz nada. – Ele me encarou. – E também não fizemos nada de errado. Só demos um abraço, Âmbar.

- Você sabia que se a Jazmín visse, não ia acreditar que era só um abraço. – Balancei a cabeça negativamente. Estava decepcionada demais. – Eu não esperava que você fosse jogar tão baixo. Mas quero que saiba uma coisa: não adianta você tentar tirar a Jazmín do caminho, eu nunca ficaria com você ou sentiria alguma coisa por alguém como você. Você não é do meu nível, não merece estar no meu círculo social. – Dei um sorriso debochado. Eu precisava acabar com aquilo de uma vez.

- Âmbar... – Ele estava sem reação para tudo que eu disse.

- Afaste-se de mim. – Pedi e sai correndo atrás de Jazmín.

Não encontrei Jazmín por nenhuma parte no parque e resolvi sair. Vi Jazmín sentada num banco, chorando, enquanto era consolada por Delfina. Aquilo doía mais em mim que nela. Não gostava de saber que era o motivo da tristeza de uma amiga.

- Jaz... – Chamei, me aproximando das minhas duas melhores amigas.

- Sai daqui, Âmbar. – Jazmín pediu, apontando para longe. – Eu não quero te olhar nunca mais. Você é uma mentirosa.

- Eu não tenho nada com ele. – Afirmei. – Somos amigos.

- Se fossem só amigos, por que você me esconderia isso? – Ela questionou. – Estava muito feliz ultimamente e eu sabia que tinha alguém. Só nunca esperei que você fizesse isso comigo.

- Éramos só amigos. – Insisti. – Só demos um abraço.

- Me diz se não era com ele que você tava saindo ultimamente. – Jazmín pediu. – Não era com ele que você foi se encontrar ontem?

- Não fica calada, Âmbar, responde. – Delfi me encarou. – Você me disse que não existia nada entre vocês. Não foi o que pareceu.

- Você não gosta de abraços. – Jaz secou as lágrimas. – Você tá fazendo isso pra me atingir ou você realmente gosta dele? Você tá apaixonada por ele?

- Não. – Neguei. – Eu não tô fazendo isso pra te atingir e nem estou apaixonada por ele. Eu não sinto nada por ele.

- Não é o que parece. – Ela encarou o chão por alguns segundos. – O que me deixa triste é que você mentiu esse tempo todo. Sempre estive com você até quando você era uma criança insuportável. E mesmo quando eu já sei de tudo, você continua negando que sente alguma coisa por ele.

- É porque eu realmente não sinto. – Continuei a insistir. – Eu já dei um basta nisso, Jazmín. Disse ao Simón que eu nunca me interessaria por ele porque ele não é do meu nível. Eu não vou mais falar com ele, eu juro. E ele armou tudo isso pra que a gente brigasse.

- Se você repetir várias vezes, talvez você mesma comece a acreditar nisso. – Jaz levantou do banco. – E ele não armou nada. Foi uma triste coincidência. – Ela saiu andando e Delfi a seguiu.

Balancei a cabeça negativamente tentando fazer com que tudo aquilo sumisse da minha frente. Eu tinha sido injusta com Simón e também tinha falado coisas que não deveria. Suspirei, não sabendo o que fazer. Simón e Jazmín saíram machucados dessa história e eu não sabia com qual dos dois devia consertar as coisas primeiro. Meu celular tocou e vi que era meu motorista. Franzi a testa e atendi a ligação, ele disse que estava passando pra me buscar e levar para um lugar que Sharon tinha pedido. Apenas concordei e desliguei a ligação. Vi Simón, Pedro e Nico saindo juntos do outro lado da rua e resolvi não falar nada. Observei os três indo embora enquanto esperava meu motorista.

Meu chofer chegou e abriu a porta do carro. Questionei para onde ele me levaria, mas ele não respondeu. Ele fechou a porta do carro e acelerou, saindo depressa de lá. Encostei a cabeça no banco e pensei em tudo que estava acontecendo nos últimos dias. Se tivesse uma família de verdade, gostaria de deitar no colo da minha mãe e contar tudo que tem acontecido. Senti as lágrimas se formando e sorri, eu não ia chorar por isso. Já estava acostumada a não ter uma família.

Voltei a encostar a cabeça no banco e aguardei ansiosa o destino para onde minha tia havia pedido para me levar. Mesmo com todas nossas desavenças, ela continuava sendo a única família que eu tinha. E tudo que desejei nesses anos era que ela fosse mais presente na minha vida. Tudo que ela me ensinou era que devia ser forte, não podia chorar, nem me envolver profundamente com ninguém. E durante anos, segui essas regras à risca. Só que não deixar que eu cursasse a faculdade que queria foi o estopim para desencadear o meu verdadeiro eu. Passei a pensar mais nos outros e em mim mesma. Me perguntava: Eu realmente queria aquilo ou não? E minhas amigas aos poucos perceberam que aquela menina fria e egoísta estava dando lugar a uma nova pessoa. Minha tia nunca percebeu porque, na frente dela, continuava a ser aquele robozinho que ela tinha programado.

O carro, enfim, parou e estacionou a frente de um lugar. O motorista abriu a porta do carro e estendeu a mão me ajudando a sair. Olhei para onde estava e entrei em choque. O que eu estava fazendo ali?

Crime Perfeito | SimbarOnde histórias criam vida. Descubra agora