Olhei Simón ainda um pouco desconfiada, mas sentei a frente do advogado. Simón me lançou um olhar encorajador e sentou ao meu lado. O advogado continuou a mexer em vários papeis.
- Âmbar, é a sua última chance de tirar seu amigo daqui. – O homem forçou um sorriso. - Há coisas muito sérias em jogo e não acho que ele devia escutar.
- Não vou tirar ele daqui. – O homem deu de ombros. – Fala de uma vez. Não vou ficar sozinha com você.
- Bom, Âmbar, o que eu tenho aqui vai mudar a sua história pra sempre. Então, seja forte. – O advogado pediu e me estendeu um papel. Era um certificado de adoção. Eu estava como filha adotiva de Sharon. Mas...
- A Sharon é minha tia. – Olhei para o papel sem entender o que estava acontecendo. Simón fechou os olhos como se já imaginasse o que vinha pela frente.
- Não, Âmbar. – O homem negou. – Eu disse que isso ia mudar a sua vida.
- Eu não tô entendendo. – Larguei o papel em cima da mesa com lágrimas nos olhos. O que era aquilo? – Seja mais claro.
- A Sharon nunca teve irmã. – O advogado revelou e senti minha cabeça começar a doer. – Ela perdeu a família quando era mais nova. A Sharon era filha única com uma herança milionária. Ela sempre quis ter uma filha, mas era estéril. Então, ela foi até um hospital, subornou um médico e acompanhou a gestação de uma das mulheres. No dia do nascimento desse bebê, ela pagou o médico para que dissesse aos pais que a menina estava morta e a adotou. – Ele fez uma pausa. – Essa menina era você. – Simón segurou minha mão antes que eu pudesse sair correndo.
- Por que ela nunca me disse isso? – Perguntei. – Por que ela me fez viver numa mentira por tanto tempo? Por que ela fez isso comigo? Nunca me contou a verdade.
- Ela não tinha coragem. – O advogado defendeu Sharon.
- Ela nunca me amou! – Gritei. – Ela me roubou dos meus pais e nunca me deu amor. Ela só ficou comigo por um maldito capricho. A Sharon tirou a oportunidade que eu tinha de ter uma família que me amasse. Ela me criou como se fosse um robô ou uma imitação dela mesma. Ela nunca me teve como filha, nunca me teve como sobrinha, nunca me teve como nada além de um robô.
- Eu sei que é difícil, mas... – O homem tentou demonstrar solidariedade, mas era visível que ele estava do lado dela.
- Não, você não sabe. – Neguei, deixando que as lágrimas caíssem e Simón apertou minha mão. – Eu não acredito que ela fez isso comigo. – O silêncio no lugar foi absoluto, até que eu o quebrei. – E ela deixou escrito quem são os meus pais?
- Não, ela só deixou o hospital, mas acredito que você consiga encontrar.
- Eu quero encontrar os meus pais! Nem pra dizer quem são eles, ela serviu.
- Talvez com um detetive particular... – O advogado tentou guardar o certificado de adoção em sua maleta, mas não deixei e puxei para mim.
- Arranje um detetive. – Impus. – Eu quero encontrar os meus verdadeiros pais. Aqueles que eu pensava que já estavam mortos e que nunca veria.
- Entrarei em contato com um amigo, senhorita Âmbar. – O homem concordou e eu suspirei.
- Nos deixe sozinhos. – Simón disse autoritário. Nunca tinha o visto daquele jeito.
- Só vou deixar o testamento e o inventário pra você dar uma olhada. – O homem nem olhou para Simón. – Mas saiba que tudo é seu. Não há outros parentes vivos.
- Tá. – Apenas concordei, tentando me fazer de forte.
- Vai. – Simón voltou a dizer autoritário e o advogado o encarou.
O advogado deixou os papéis em cima da mesa e saiu com sua maleta. Simón me abraçou assim que o homem saiu da mansão e eu deitei minha cabeça em seu ombro. Ele fez carinho em meu rosto enquanto minhas lágrimas caíam.
- Ela destruiu a minha vida. – Disse, me agarrando a gola da camisa dele. – Foi por isso que ela não quis me ver. Não quis me contar a verdade.
- Eu tô aqui com você. – Ele me confortou e me segurou mais forte.
- Eu só quero encontrar os meus pais. – Sussurrei.
- Eu vou te ajudar no que for preciso. – Ele prometeu. – Não tô dizendo isso da boca pra fora, tô prometendo de verdade. Vou fazer tudo que estiver ao meu alcance.
- Eu gosto tanto de você. – Abracei Simón abrindo um sorriso. – Se você não estivesse aqui, ninguém estaria. Você viu hoje.
- Não pensa nisso. – Ele pediu. – E eu gosto muito de você também.
- Como será que eles são? – Me referi aos meus pais.
- Sua mãe deve ter olhos claros e seu pai deve ser muito elegante. – Ele sugeriu.
- Não falo disso. – Suspirei. – O jeito deles, sabe? Eu cresci com uma pessoa que pode ser completamente diferente do que eles são. E se eles não gostarem de mim?
- São seus pais. – Simón forçou um sorriso. – Lógico que eles vão gostar de você.
- Será? – Voltei a questionar, insegura. – Eles pensam que eu morri. Não estão me procurando.
- Mas se soubessem que você está viva, estariam. – Ele afirmou. – Mas a gente vai encontrar os dois e vocês vão ser uma família, como nunca deveriam ter deixado de ser.
- Eu tô em choque com toda essa história, mas, ao mesmo tempo, tô feliz em saber que eu tenho pais vivos. – Fiz uma pausa. – Sempre quis uma família e sempre achei que nunca teria uma. Só fico pensando se ela nunca iria me contar isso, Simón.
- Eu não sei.
- É meio difícil saber que tudo que eu acreditava saber da minha vida é uma grande mentira. – Balancei a cabeça negativamente. – Espero um dia poder perdoar a Sharon.
- Claro que vai. – Ele disse convicto. – Não faz bem guardar mágoas de ninguém. Guardar sentimentos ruins só fazem você ficar angustiado.
- Mais uma vez, obrigada. – Olhei na direção dele. – Agora quero descansar. Boa noite.
- Boa noite. – Ele acenou quando eu estava na escada. – Até amanhã.
- Tá. – Concordei e subi as escadas.
Cheguei em meu quarto e sentei em minha cama. Onde será que meus pais estariam naquele momento? Recomecei a chorar e levantei indo até meu guarda-roupa. Escolhi um pijama e entrei no banheiro. Tomei um banho demorado enquanto chorava embaixo do chuveiro. Desliguei a água quando acreditava que não teria mais lágrimas e me vesti. Apaguei as luzes, me joguei na cama e fechei os olhos. Pela primeira vez em minha vida, conversei com o Ser Superior e pedi que me ajudasse a encontrar meus pais e também, que fizesse com que eu perdoasse Sharon. Já não estava chorando e pensei em tudo que Simón tinha feito por mim. Eu tinha sorte em ter alguém como ele ao meu lado. Sorri e senti meu coração bater mais forte. Respirei fundo, acalmando meu coração e voltei a fechar meus olhos. Não queria acreditar que aquilo estava acontecendo.
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Crime Perfeito | Simbar
Teen FictionSinopse: Prestes a completar dezoito anos, Âmbar quer terminar a escola e se livrar da imagem perfeita que sua tia a impôs desde pequena. Ela nunca acreditou em conto de fadas, em príncipes encantados ou no amor. Criada em meio a um mundo de luxo e...