Capítulo Um

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* * *

        Meia hora. Fazem trinta minutos que estou sentada na espera de que meu amigo Jacke chegue. Por um momento passa em minha mente que devemos mudar nosso local de encontro, já que o meio da floresta não é um lugar extremamente seguro para se estar sozinha.

Sinto que meus sentidos são totalmente apurados quando estou aqui. Eu posso ouvir mais, ver e perceber com mais clareza. Talvez tudo seja um grande efeito do medo, já que agora ele me assombra durante o dia e a noite.

Tento me concentrar nos pássaros que cantam, como se cantassem para me entreter e, logo ouço passos a distância, que se aproximam com rapidez.

- Princesa! Como vai nossa futura rainha? – Jacke fala quando chega e desce de seu cavalo.

- Decidiu adicionar princesa ao seu dicionário? Como se somente meu pai não bastasse – reclamo e puxo Jacke para um abraço.

- Ah, me desculpe, princesa.

- Irá continuar com essa brincadeira? Nada contra princesas ou rainhas, só quero me livrar pelo menos desse nome quando estou com você.

Princesa. Eu sei que sou uma, não preciso que as pessoas estejam constantemente me relembrando disso. É um apelido carinhoso para alguns e, muitas das vezes até acho fofo, mas hoje, eu quero simplesmente me livrar desse fardo.

- Está com medo das responsabilidades, não é? – ele se senta e o acompanho.

- Talvez um pouco. Não tenho medo das responsabilidades, tenho medo de serem muitas, eu sei que serão. Imagine se não consigo governar Noquia como todos esperam?

- Elise, você é a garota mais forte que já conheci, você irá conseguir, vai ver. Seu pai lhe ensinará tudo que é necessário, além de que não precisa fazer isso sozinha, terá um marido para ajudá-la – Jacke segura minha mão com carinho. – Mas, pode me dizer por que me chamou até aqui?

Posso sentir meu suco gástrico atacando todo meu estômago, então minhas mãos começam a tremer e posso jurar que minha respiração está irregular. O que vou declarar a Jacke, não é uma coisa fácil de se compartilhar, ainda mais quando toda a covardia vem da boca da própria filha do rei.

- Por favor, eu peço que antes que me julgue ou faça declarações precipitadas, veja pelo meu lado primeiro – engulo em seco. – Eu pretendo fugir.

Aguardo a reação desproporcional, os gritos ou mesmo a raiva, mas nada acontece. Jacke mexe em seus cabelos com um sorriso de canto e volta a me encarar. Não era isso que eu esperava.

- O que foi princesa? O que espera que eu diga?

- Quero sua opinião Jacke. Lhe chamei para isso, porque queria compartilhar o que sinto com você, preciso da sua ajuda.

- Elise, isso não é uma brincadeira? – indaga, fechando todo aquele sorriso bobo que cobria seu rosto.

- Por que brincaria com algo tão sério Jacke? Eu preciso mesmo de sua ajuda.

Ele me olha com incredulidade, fazendo minha bochecha queimar de vergonha. Era essa reação que eu temia. Tinha medo de que ele, meu melhor amigo, me julgasse e me olhasse como se fosse louca. Eu não sou insana.

- Antes que possa criar inúmeras ideias em sua cabeça Elise, descarte essa possibilidade. E agora me diga, por que quer fazer isso?

- Nós acabamos de falar Jacke, eu tenho medo de ser rainha. Sei que devo herdar o trono apenas quando papai morrer, mas ele diz não aguentar mais, tenho medo de que ele se vá – olho nos olhos de meu amigo, na esperança de que ele me entenda. – Esse dia chegará Jacke e quero estar pronta, se eu fugir estarei preparada.

A Garota da Capa Azul - RevisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora