Capítulo Dois

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Entro na enorme sala batendo os pés. Avisto Karmen sentada em um pequeno sofá enquanto tomo seu chá. Como sempre, está apenas parada e esperando para ser servida, seguindo sempre sua rotina diária de não fazer nada útil. Creio que exatamente a falta do que fazer, abre espaços para que sua mente viaje para lugares extraordinários, como por exemplo, querer lutar novamente para ter um rio.

- Elise querida, onde estava? Pedi que os guardas a procurasse, porém disseram que havia sumido de vista a minutos atrás.

- Eu? Bem... estava comprando alguns pães – minto.

- Mas isso não é serviço seu Elise, os criados são feitos para isso. Mas já que fez o grande favor de ajuda-los, diga-me, onde está o pão?

- Alguns ingredientes estão em falta, sendo assim, sem pão.

Faço a reverencia necessária e ameaço deixa-la para trás, mas Karmen percebe minhas intensões de sair da sala e me chama novamente.

- Sente-se, querida – ela pigarreia, me fazendo imaginar o que irá dizer. – Queria conversar sobre sua posição na guerra.

Sinto raiva. E medo.

No meu pensamento, não pode existir guerra mais inútil que está. É claro que é comum países lutarem por território e riqueza, porém, algumas coisas podem ser resolvidas facilmente e sem grandes alarmes.

Guerra dos Fios se trata de uma batalha antiga onde o país vizinho, Avardam, e o nosso, Noquia, lutam para conquistar o rio que nos divide em parte. Alguns dizem que dentro dele possui ouros e pratas, mas o que o faz ser tão disputado é sua incrível fertilidade. Com ele, o país vencedor pede usufruir de tudo de bom que o rio possui, enquanto o perdedor, perde toda a riqueza que ele poderia os dar um dia.

Por que não podemos simplesmente dividir de uma maneira que ambos possamos utilizar do maldito rio?

- Kar... Majestade, eu já lhe disse o que penso sobre isso. Não quero que haja uma guerra, não quero ver pessoas machucadas e, pior, não quero perder pessoas que amo, novamente – abaixo a cabeça, relembrando meu passado.

Karmen abaixa sua mão que indicava um sofá para mim e respira fundo, buscando paciência em seu interior.

- Elise, preciso apenas que se acalme, eu já falei a você que ninguém morrerá, tudo ficará bem. Teremos nossos homens, eles não deixaram que nada aconteça a ninguém, muito menos seu pai, que é o rei.

Sinto meu sangue borbulhar e percebo que mais uma vez, minha madrasta consegue tirar minha paciência.

- Se quer tanto isso, por que não luta sozinha? Tudo estava indo bem, até você chegar e decidir que quer esse maldito rio para Noquia, trazendo esse assunto de guerra à tona novamente.

Desde que entrara na sala, Karmen não havia mexido seu corpo por um segundo, a não ser para voltar sua xicara ao prato e para indicar-me uma cadeira, agora não seria diferente.

Ela me encara com indiferença e raiva e, faço o favor de retribuir o olhar.

- Com licença, Majestade – faço a reverencia e enfim os guardas permitem minha passagem.

- Toda.

[...]

Deitei pensando no meu futuro, dormi pensando no meu passado e fui obrigada a acordar pensando no meu presente.

Os raios de sol entram por minha janela e decido me levantar antes que algum criado venha fazê-lo, afinal, preciso escrever para Jacke. Junto o papel de carta que deixo separado em meu quarto, assim como a tinta preta e a pena.

A Garota da Capa Azul - RevisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora