Capítulo Oito

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Acordo cedo na intensão de ir até Boquia para saber o que Jacke decidiu fazer, ir ou ficar.
Ouço uma batida ritmada na porta, sei que é meu pai, essa é nossa batida nem tão secreta, pois quase todos que moram aqui sabem sobre ela.

- Posso entrar pequena?- Ele abre uma fresta da porta.

- Sem dúvidas, meu rei. - Sorri ao dar-lhe um abraço.

- Bom dia. - Ele retribui o carinho com um beijo em minha testa.

- Entreguei todos aqueles papéis que o senhor pediu.

- Claro que entregou você é minha pequena obediente, mas como vão as coisas?- Meu pai se senta na cadeira de minha penteadeira.

- Lembrando-se da guerra, ou não?

- Sem lembrar-se da guerra será melhor.

- Porém lamento informa-lhe de que isso é impossível, tudo gira em torno disso. - Faço biquinho.

- É verdade, mas tirou aquele plano fora do comum da cabeça?

É ruim, mas não o tirei da cabeça, meu pai apenas não sabe que pretendo ir até Avardam com Marcelo e Jacke.

- Claro que tirei. - Minto.- Seria loucura.

- Seria suicídio. - Completa.

Dou um sorriso zombador, não considero isso algo tão grave.

- Suicídio é aceitar ir até essa guerra pai.

- Porém, infelizmente não temos escolha.

- Mas e seu plano pai? Talvez possa funcionar, deve informa-me sobre isso.

- Elise, toda aquela papelada de ontem foi à confirmação de que eles não aceitaram dividir o rio. Então tentei a segunda opção, nem todos acham uma boa ideia ir até lá.

- Pai eu acho uma ótima oportunidade, podemos ir eu, você, Jacke e Marcelo. Sei que vai dizer que precisamos de mais pessoas, chamamos os soldados.

Meu pai sorri o que acho estranho, porque o sorriso? Talvez ele duvide de nossa capacidade.

- As coisas não são assim... Se conseguir convencê-los, posso até aceitar.

- Você... Está falando a verdade?- Duvidei.

- Sempre cumpro com o que digo, pode confiar. - Não sei por que, mas não é o que me parece, provavelmente ele acha que não irei convencê-los, mal sabe que já convenci, ou estou quase lá.

Meu pai se levanta para me dar um abraço, mais uma vez a porta bateu, abri devagar, é Antônia.

- Majestade, Karmen solicita sua presença no salão. Elise, Jacke e Marcelo está a lhe esperar no jardim.

Assim que termina ela sai do quarto, meu pai encarou-me curioso para saber o que Karmen quer, mas não tanto quanto eu estou curiosa para saber o estranho fato de Jacke e Marcelo estarem respirando o mesmo ar. Passo correndo por meu pai até chegar ao jardim, e é verdade, aqui estão eles.

- Vocês dois? Já podem começar a explicar. - Exclamo sorridente.

- Bom dia princesa. - Jacke me dá um beijo na testa.

Marcelo continua sentando em seu lugar, mas faz uma reverência com a cabeça, mas quem ele acha que é para não me dar bom dia?

- Bom dia para você também. - Faço uma reverência irônica a ele.

Ele sorri logo em seguida se levanta para beijar minha mão, como ontem, não tira seus olhos dos meus.

Ainda sem saber o porquê dos dois estarem juntos em plena manhã a esperar, eles parecem querer tentar explicar e mesmo não se dando tão bem, fazem o possível.

- Acontece que eu pensei sobre sua proposta, e concordo. Vou com vocês. - Jacke fala envergonhado.

Sorri, sabia que meu plano iria dar certo, seu ciúme não me deixaria ir sozinha.

- Sério Jacke? Não está brincando comigo, está?- Pulo em seus braços.

- Sim eu vou. Estarei com você para proteger-lhe do que precisar, nunca deixaria ir sem mim.

Jacke me aperta mais em seu corpo, me passando todo o conforto que eu preciso, mas esqueci-me de Marcelo, que está a nos observar, o que me faz sair dos braços de Jacke.

- Não se incomode comigo, podem continuar. - Marcelo fala, irônico.

Trocamos alguns olhares desconfortáveis, mas acabo abrindo um pequeno sorriso que se fecha ao ver como Jacke olha para Marcelo, como se estivesse a me disputar, não gosto disso, por mais que não goste de Jacke realmente, ele ocupa um enorme lugar em meu coração.

- Na verdade, temos que começar a agir não é mesmo? Podemos sair hoje mesmo. - Falar isso me fez lembrar do trato com meu pai.- Não, tem meu pai, preciso convencer algumas pessoas a mais a irem conosco.

- Elise, como assim seu pai?- Jacke indaga.

- Como assim mais pessoas a irem? Achei que íamos apenas nós, não que o rei Mick seja uma má ideia. - Marcelo completa.

- Fiz um acordo com meu pai, se convencesse três pessoas, ele iria comigo, mas precisaremos de mais. Acho que meu pai e a nossa principal peça, ele deve ir.

- Estou de acordo. - Marcelo se levanta novamente.

Olhamos para Jacke esperarando sua resposta.

- Claro princesa, estando com você está ótimo.

Marcelo revira seus olhos rapidamente, o que me fez sorrir por dentro, mas não demostro.

- Jacke, preciso que volte a Boquia e pergunte ao seu pai se ele deseja ir, o plano vemos aqui.

- As suas ordens. - Ele sai em passos rápidos, talvez tão ansioso quanto eu.

- Vou subir e arrumar algumas coisas. - Disse a Marcelo.

- Deseja uma companhia?

- Hã... Claro, porque não?- Talvez seja legal, conhecê-lo melhor, o problema é se Jacke chegar.

Subimos as escadas em silêncio até chegar ao meu quarto. Abro a porta e o convido, como sempre meu quarto está perfeitamente organizado. Ele diz muito sobre mim, papéis sobre os planos sobre a escrivaninha, um quadro da minha mãe, que não me faz chorar, mas sim sorrir por saber que ela sempre foi uma guerreira.

Marcelo fixa seu olhar na pintura de minha mãe.

- Seus olhos parecem com o dela. - Marcelo se vira para mim, o que me faz ficar sem graça. Abaixo a cabeça e acabo sorrindo.

- Muitas pessoas dizem isso.

Marcelo levanta meu olhar novamente com suas mãos em meu queixo.

- Mas o seus são mais... - Ele para seu olhar no meu, assim como eu.

- Mais..?

- Puxados. - Ele volta à realidade e se vira mexendo em alguns papéis, eu não ligo que ele toque neles.

- Meu pai diz que minha personalidade também é como a dela, forte, guerreira, impaciente... - Sorri ao me lembrar de seu sorriso.

- Não lhe acho impaciente.

- Marcelo, sobre o primeiro dia que te vi, bem... Queria pedir perdão, acho que tirei conclusões precipitadas a seu respeito.

Ele sorri ao se sentar na minha cama.

- Talvez só esteja apaixonada, e não queria contar a ele. - Me assusto.- E alias, eu achei engraçado.

- Como? Ele?- Gelei.

- Jacke, claro.

Sinto minhas bochechas ferverem como nunca, jamais falei de meus sentimentos com um menino.

- Hm... - Ele me pega totalmente desprevenida.

- Há quanto tempo se conhecem?- Marcelo indaga.

- Uau. - Sorri nervosa.- Antes mesmo de nascermos.

- Formam um lindo casal. - Mas ele só pode estar brincando comigo.

- Você acha?

- Já estou de saída, irei até seu pai informar as novas, não se preocupe.

Marcelo se levanta e faz uma rápida reverência, dou um leve aceno com a mão, até que a porta se abre batendo em sua testa, o que me faz gargalhar, mas vou ajudá-lo.

- Está tudo bem com você?- Digo entre sorrisos.

- Sim, quer dizer, foi uma leve batida, apenas um pouco tonto. - Ele tenta rir, mas não adianta.

- Me deixe ver, retire sua mão. - Pedi.

Ele tirou, não tem nada, apenas uma vermelhidão, mas logo irá passar talvez lhe dando um pequeno galo.

- Não tem nada aqui.

Ouço um barulho vindo do fundo da garganta, querendo chamar atenção. Esquecemos-nos da porta, é Karmen.

- Uhum. - Ela me abraça rapidamente, o que me fez abrir um sorriso.

- Bom dia a vocês dois. - Ela fala.

- Bom dia tia Karmen. - Marcelo faz uma reverência, logo em seguida beija sua mão.

- Espero que esteja tudo bem. - Karmen não é de vir até meu quarto, e se vem, deve haver um
bom motivo.

- Tudo ótimo Elise. Passei aqui apenas para avisar de não esquecer suas roupas na costureira.

- Roupas? Que roupas?- Indago confusa.

Marcelo faz uma breve careta para si mesmo.

- Na verdade eu me esqueci de avisar a Elise sobre o baile tia. Desculpe-me.

- Avise agora então, ainda tem tempo. - Karmen responde.

- Elise, aqui no palácio será realizado um baile antes da guerra, você sabe... Para descontrair.

- Sério? Nossa, que... Legal. - Não é nada legal, teremos que adiar a fuga.

- Ótimo, meu aviso era apenas esse. Fiquem bem. - Karmen deposita um beijo em nossas testas.

Olho para Marcelo, ele tem que ter alguma explicação para isso.

- Desculpe, me esqueci totalmente. As coisas com você passam tão rápido.

- Está tudo bem. Acha que devo chamar Jacke?

- Deixe que ele lhe chame princesa, tudo bem?

- Obrigada. - Sussurrei.

Ele se retira do quarto, já que vai resolver as coisas com meu pai, posso pensar em outras coisas.

Será que Jacke sabe do baile? Talvez sim e queira me fazer uma surpresa.

Por enquanto não podemos fugir, teremos que esperar o baile acabar, então assim, ninguém perceberá.

A Garota da Capa Azul - RevisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora