Capítulo Dez

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Quase não dormi, estava com insônia. Meus pensamentos estavam a mil, não parava de pensar em Jacke e nos meus sentimentos, nem em Marcelo. Resumindo, estou totalmente confusa. Fui dormir tarde, queria acordar cedo para tirar logo um compromisso da lista.

Tenho a sensação de que ele acordou primeiro, logo cedo ouvi uma batida na porta, e senti que estava sendo empurrada. Ainda estou com os olhos fechados, mas não quero parecer mal educada por ignorar o fato de alguém ter ido até o meu local de descanso e me encontrar tomando um cochilo, então os abro, esfregando os dedos levemente nos olhos e cabelo.

- Você por aqui? - Fiz o mesmo que ele fizera.

- Quer dizer que a princesa está acordada, mas está com preguiça de levantar?!

- Confere. - Sorri sem graça.

- Seria interessante se apressar em se arrumar.

- Prometo que serei rápida. Pode ter gentileza de trazer meu tira jejum até o quarto por favor?

- As suas ordens.

Assim que Marcelo saiu tratei de começar a me arrumar, não poderia falhar. Troquei meu vestido, colocando agora um branco decotado, que fora inspirado em alguns dos vestidos que mamãe usava e coloquei minha capa azul. Por minha sorte quando estava tentando encaixar o sapato apertado em meus pés, Marcelo deu uma leve batida e permiti sua entrada.

- Poderia colocar em cima de minha escrivaninha por favor? - Esperei que ela o fizesse. - Estou realmente muito agradecida.

- Quer ajuda? - Se referiu aos sapatos.

Com o sorriso nervoso que dei, não precisei responder nada. Ele se ajoelhou e o observei enquanto me ajudava com tudo, com tanta paciência.

- Princesa, se me permite dizer, estais deslumbrante.

- Agradecida. - Me levantei e deu um pequeno giro.

- Sinceramente, tenho a sensação de estar vendo um anjo. - Se encostou na escrivaninha.

- Por favor Marcelo. - Sorri. - Não estou nem perto de ser como descreve-me.

- Talvez para alguns, você seja mais que isso. - Concentrei meus olhos em seu oceano.

- Não imaginei que falavas no sério, pensei que estava a brincar.

- Nem mesmo eu achei que falava sério, até lhe conhecer melhor. - Desviou seu olhar. - Não acha que devemos ir pegar nossas vestimentas?

Quando ele mudou de assunto, minha cabeça ainda repassava o antigo assunto. Era da personalidade de Marcelo ser charmoso, o que não era legal era o fato de ele achar que não poderia usar isso comigo, então sempre joga um charme e depois o desfaz.

- Você também é muito...

- Charmoso e tenho o sorriso delicado?

E ele também se lembra do nosso primeiro encontro, então se lembra do quanto fui uma boba.

- És isso também...

- Tem mais? - Ele soltou uma gargalhada.

A porta de abriu em um chiado alto e Antonia colocou sua cabeça para dentro, nos olhando com cara feia, afinal, ainda não fomos pegar nossas roupas. Trocamos alguns olhares, Antônia não precisou falar nada para que nos apressássemos em sair, esquecendo até meu lanche da manhã.

Saímos pelos fundos para encontrar logo os cavalos, onde descobri que Marcelo acabara pegando um pão para mim, caso ficasse com fome no caminho. Não demorou muito para chegarmos, seguindo eu as instruções de Marcelo, já que Floor, nossa costureira, sempre mudava de lugar.

- Bom dia Alteza. - Floor fez uma reverência.

- Bom dia. - Marcelo e eu respondemos juntos como um coral.

- Rainha Elise e Rei Marcelo. - Floor fez um breve comentário enquanto procurava nossas roupas em um baú grande de madeira.

- Na verdade, eu não sou Rei. - Desapertou levemente sua gravata.

Ela parou o que estava fazendo e olhou para nós dois com um sorriso, o que me deixou sem graça e me fez afastar de Marcelo.

- Alteza, aqui está. - Entregou para cada um.

Fiz que ia abrir, mas Floor não permitiu, segurou minha mão, o que me deixou um pouco chateada, mas estava ansiosa para vê-lo.

- É bom que todos, inclusive Vossa Alteza, vejam apenas a noite.

Sorri sem graça e concordei. Montei em Hina novamente, acariciando brevemente sua crina e encaixando o vestido de uma maneira que não amasse, o que me fez pensar o porque de Karmen, ou meu pai, não terem mandando uma carruagem em busca disso.

- Aceite nossos agradecemos Floor. - Disse por mim e Marcelo. Ela sorriu e acenou com suas mãos já enrugadas do tempo.

Seguimos o caminho de volta, ou tentamos, já que tenho a sensação de que entramos em uma floresta mais escura, silenciosa.

- Princesa acho que não estamos no caminho certo. - Marcelo segurou a corda de Hina, pegando seu controle.

Antes o sol da manhã estava bem exposto, agora as árvores fizeram algo como uma grande sombra, fazendo também com que fique frio por falta de exposição ao calor.

- Não, existem várias maneiras de chegar ao palácio, esse casinho pode ser um, venha. - Peguei o controle e continuei.

- Não acho uma boa ideia Princesa, não é todo mundo que tem boa alma.

- Não é bem assim... - Descordei.

Marcelo respirou fundo e continuou comigo, mas entrou em minha frente e disse que era melhor daquela maneira.

Sento que devo obedece-lo, ele não é como eu, que geralmente sou presa o bastante para não conhecer o mundo, mas não vejo problema, mesmo que as vezes senta que estamos sendo vigiados.

Para piorar Marcelo decidiu não falar muito comigo, deixando muito silêncio, constrangedor demais. Ouvi um grito, talvez um pouco abafado e olhei para Marcelo.

- Foi Floor. - Arregalei meus olhos e fui em direção de onde estávamos voltando.

- Não Elise. - Marcelo gritou. - É uma armadilha. - Ouvi os trotes de seu cavalo atrás de mim.

Mas eu não consigo parar, o meu instinto maior é seguir em frente e ir até o comércio de Floor. Cheguei rápido já que tínhamos andando pouco e eu corri, mas estava perfeito, tudo calmo, o grande campo à frente tranquilo e Floor sentada olhando a paisagem.

- Ah! Que bom que está bem. - Dei um grande suspiro de alívio. - Tive a sensação de ter ouvido...

Parei de falar. Ela não parecia bem, parecia estar aceitando, sendo forçada, porque seus olhos apavorados diziam muito, mas queriam dizer mais.

- Um grito? - Um homem forte, com sua identidade escondida, saiu de dentro de comércio, o que me assustou.

Ele andou em minha direção devagar, que não tenho nenhuma reação, estou assustada demais para fazer qualquer coisa.

Ouvi novamente um grito, mas estava chamando meu nome, mas foi interrompido bruscamente. Era Marcelo.

- Um grito como esse?

A Garota da Capa Azul - RevisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora