Durante todo o caminho Jacke não parou de falar, mas odeio admitir que eu estava ouvindo poucas das coisas, minha cabeça estava no mesmo lugar de sempre, guerra.
- Devíamos fazer isso mais vezes princesa.
Sempre gostei da maneira como Jacke me trata, carinhoso e sempre presente, mas talvez por agora toda essa proximidade não seja tão boa, e se eu morrer? Imagino que ele sofrerá muito.
-Talvez não. - Não foi a melhor a resposta, mas falei sem pensar.
Jacke me encarou com seus braços cruzados a espera que eu fale mais algo, posso ver a dor em seu olhar ao pensar que o que eu falei é verdade, não posso fazer isso com ele, nada melhor do que fingir de que tudo não passa de um mal-entendido.
- É brincadeira seu bobão, devemos fazer isso sempre que pudermos, me faz lembrar o passado e como tudo era perfeito. - Pulei de Hina e lhe dei um abraço apertado assim que ele também desceu.
- Eu já sabia. - Ele respondeu com um sorriso.
- Chato.
- Olha quem fala, chata.
Percebi que estava chegando em Boquia quando vi uma pequena Vila, como a de Noquia, algumas crianças brincavam ao redor de poços da água e outras ficavam sentadas entediadas em suas portas, uma vida comum, sem segredos, porém ter inveja da vida deles é muito egoísmo da minha parte, contando que suas preocupações são: onde irão arrumar comida para o próximo dia, e as minhas são: que vestido usarei para uma reunião.
Alguns minutos depois já estávamos na mansão de Gerald e sua esposa, que também havia morrido na guerra, como minha mãe. Era ruim ir até lá e não ver minha mãe conversando com a mãe de Jacke sobre vestidos e cabelo, mas o que preciso fazer é apenas seguir em frente.
- Boa tarde senhor Gerald, como andam as coisas por aqui? Parece tudo muito bem, bom, pelo menos na Vila. - Disse assim que me aproximei.
- Boa tarde senhorita Elise, a situação da Vila anda muito boa sim, porém, não espero que melhore com o passar do tempo.
Eu sei do que se trata, guerra. As pessoas estão bem até se verem perdidas novamente, sem seus filhos, pais ou parentes.
- Parece que você e Jacke voltaram a ser os grandes amigos que eram antes, achei por um bom tempo que haviam perdido toda essa proximidade, não quero isso. - Gerald disse dando alguns tapinhas no braço de Jacke, o que me deixou constrangida por algum motivo.
- Afastar? Não mesmo, amigos hoje, amanhã e sempre. É um juramento.
- Ah, isso é ótimo Elise. Então espere até conhecer...
- Espere até conhecer o jardim que fizemos ali atrás, se você ainda é como antes, irá adorar. - Jacke interrompeu a fala de seu pai.
- Claro. - Sorri.
- Eu sabia que viria até aqui, já sei que Karmen convidou os Lorz para jantar conosco e já sei que está ou estava chateada comigo por não ter lhe avisado que viria, mas irá me perdoar agora quando eu disser, amo você princesa. - Meu pai discursou ao me ver conversar, eu sei que ele sempre pensa em mim, então sorri, ele sempre me faz sorrir.
Almoçamos com todos da Vila, como uma pequena confraternização, com certeza foi o almoço mais agradável que eu já participei, todos pareciam felizes ao nosso lado, eles sorriam e dançavam mesmo com medo do futuro, pareciam ignora-lo, coisa eu, e ninguém da realeza consegue fazer.
♕ ♕ ♕
Assim que chegamos ao palácio tudo estava lindo, Karmen arrumou a mesa como se fosse uma reunião muito importante, além de que a comida está com um cheiro maravilhoso, mas algo me diz que todo esse clima não é para mim ou para os Lorz, é para ela.
Assim que nos sentamos, meu pai fez uma oração e Antônia serviu a todos nós e pedi que ela se sentasse também, Karmen pareceu não gostar, mas eu não me importo.
- Então, Jacke Lorz, você é jovem, parece gostar de novas aventuras. - Ela iniciou o assunto.
- Claro alteza, uma aventura sempre é bem-vinda.
- Ah, ótimo saber... Senhor Lorz, se importaria então que Jacke ficasse logo a frente com nossos guardas?
Gerald que estava a comer, pareceu dar uma leve engasgada com sua comida e respirou fundo antes que pudesse responder.
- Não se preocupe, não é tão na frente assim, sabemos que os primeiros são mais afetados, porém, Elise estará lá, o que fará com que todos ao redor tenham mais cuidado na redondeza. - Karmen completou sem graça.
- Elise lutará em meio aos primeiros? Um minuto, Elise lutará? - Jacke parecia incrédulo, e esse era meu medo. - Achava que ela estava com medo pois ficaria distante e talvez, somente talvez pegasse na espada.
O pai de Jacke fez um breve barulho com sua garganta, que eu entendi com uma advertência por estar falando daquela maneira com Karmen.
- Hã, mas o que acharam desse frango? - Meu pai interrompeu o assunto.
- Me desculpe, com licença. - Ele levantou e saiu da mesa.
Me levantei sem falar nada e segui Jacke até o quarto de costura onde ele havia entrado, esclarecer as coisas não seria tão fácil.
- Então quer dizer que você lutará de verdade e não me fala nada? Como Karmen pode permitir isso? Elise, você tem apenas dezessete anos.
- Eu tentei falar a você, mas é que...
- Deixa eu adivinhar, estava esperando o momento perfeito? Vou acertar mais uma, você iria falar no dia da guerra, mas olha só, parece que alguém acabou de estragar seus planos. - Ele gritava comigo enquanto andava de um lado ao outro, com certeza, de todas nossas brigas, essa parecia a pior.
- Olha, eu também tenho capacidade de lutar, você fala como se tivesse trinta anos, mas você é apenas um ano mais velho que eu. - Respirei fundo. - Por favor não piore as coisas para mim, até agora você só me ajudou.
Ao passar as mãos em seus cabelos algumas vezes ele pareceu se acalmar um pouco.
- Se voltarmos da guerra talvez possamos marcar outro piquenique e você pode esconder tudo de mim, de novo.
- Ah por favor, eu amo você e não quero que as coisas fiquem assim, você consegue me entender?
- Eu também amo você e por esse motivo quero te proteger, mas se não me contar seus medos, seus segredos, duvidas, não poderei.
- Você sabe, tenho medo de ir para guerra e perder as pessoas que eu amo, e sem seu apoio, as coisas não melhoraram.
Jacke se aproximou e segurou meu rosto com suas mãos quentes.
- Estou do seu lado Elise, não se preocupe, você acabar com isso.
Antes que eu pudesse responder algo meu pai abriu a porta do quarto nos trazendo de volta a realidade.
- Espero ter interrompido a briga de vocês. - Meu pai disse ao entrar.
- Não precisava senhor, já estou de saída.
- Jacke...
Ele nem se quer teve a coragem de olhar para trás, apenas seguiu em frente com seus passos firmes. Meu pai me abraçou e senti estar no melhor lugar do mundo, o melhor conforto.
Lei 9.610- Diga não ao plágio!
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A Garota da Capa Azul - Revisão
Adventure#5 Aventura em 05/04/2017 Capa por Carolina Florenço ♕ ♕ ♕ Coisas inesperadas acontecem na vida de muita gente e no caso de Elise Dukman, futura rainha de Noquia, foi perder sua mãe e seu irmão aos cinco anos de idade para uma guerra que ela ac...