Capítulo Quatorze

7.3K 457 51
                                    

Acordei, logo olhei em volta já com a certeza de que todos estavam dormindo, mas na verdade todos estavam acordados e só eu estava dormindo. Não estou com vontade de conversar com ninguém por agora, não quero receber mais informações, as de ontem já foi o suficiente para um ano inteiro.

O dia anterior não podia ser mais cansativo, presos em uma cela o dia todo, recebemos o pior almoço imaginável, mas em compensação jantamos muito.

Queria dar um tempo para mim, poder pensar em tudo e em todos, eu sei que não sou o centro do mundo e que cada um tem sua vida, mas essa é a minha realidade agora, viver presa em uma cela sem saber exatamente o que pretendem fazer comigo. Mas é apenas eu pensando em mim mesma, enquanto o meu povo de Noquia estava lá, sem seu rei, rainha e princesa para receber ordens e intrusões. Com certeza todos estão perdidos, queria estar com eles, queria estar na guerra. Agora eu imagino que não tenho mais medo dessa guerra, agora o que eu mais quero é lutar por meu país, e vencer.

Estou tão perdida em meus pensamentos que nem sequer notei que alguns dos guardas chegaram, junto com Sara, e já estavam dentro da cela.

- A Senhorita Sara deseja conversar com vocês, será breve.

- Karmen mandou avisar que vocês participarão da guerra. - Sara disse

Ergui minha sobrancelha, porque ela permitiria que nos lutássemos?

- Ótimo, poremos lutar com nosso povo e por nosso país. - Meu pai sorriu rapidamente, se animou.

- Não Mick, vocês iram lutar, mas irão lutar por Avardam. - Sara disse calma.

- Como? - Marcelo se aproximou. - Não podemos fazer isso, e nossa lealdade? Lutar contra o povo que acreditou em Mick e em seu governo? Jamais, eu prefiro morrer.

- Puf, o que você está dizendo? Nem é um príncipe. - Jacke provocou.

- Jacke, por favor, agora não.

- Silêncio por favor. - Sara pediu, era perceptível que estava incomodada com algo, provavelmente com os guardas ouvindo nossa conversa.

- Vocês ouviram Karmen os chamando? Eu ouvi. - Menti.

Todos pararam para ouvir, mas nada aconteceu, nenhum som, nenhum sinal de vida de Karmen.

- Tudo bem para mim se ficarem, será dois a menos.

Eles trocaram alguns olhares rápidos e trancaram a porta da cela novamente, deixando apenas Sara de fora. Esperamos que eles saíssem.

- Precisamos de uma senha para quando eu chegar na porta da escada, saber se tem guardas aqui ou não.

Aparentemente todos estavam pensando, mas nenhuma ideia ainda.

- Que tal um espirro? Você espirra lá em cima nós retribuímos se a área estiver limpa, caso contrário nós retribuímos com uma tosse. - Meu pai deu a ideia.

- Ótimo Mick. - Minha mãe elogiou.

- Sara, não entendi a parte que lutaremos por Avardam?

Os guardas voltaram e Sara ficou ereta novamente, com um ar superior. Não queria estragar o disfarce.

- Me desculpem, mas quem manda aqui é Karmen.

- A rainha Karmen não estava nos chamando. - O guarda mais alto falou.

- Eu a ouvi.

- Senhores podem, ir estou aqui para substituí-los. - Outro homem entrou. - Troca de turno.

Que guarda é esse? Tenho a sensação de que já o vi em algum lugar, olhos verdes, cabelo bagunçado, além de que ele me encarou por alguns segundos. Será que eu o conheço e ele será meu meio de saída daqui?

Sara e os dois vigias saíram e o substituto parece que espera ansiosamente para que eles subam o último degrau e fechem a porta.

- Princesa Elise?

- Sim, Elise Dukman. - Falei animada e me enchi de esperanças, corri para me aproximar das grades, sendo seguida por todos.

- Todos em Noquia estão totalmente desesperados, acham que os deixaram.

- Está se referindo ao país de Noquia ou a cidade de Noquia? Porque quero saber como estão em Boquia. - Jacke comentou.

- Estão da mesma maneira, talvez um pouco mais tranquilos por terem um líder, seu pai, que agora anda com seguranças, tentando controlar o país de Noquia.

- Quem é você ? - Meu pai indagou confuso.

- Morei por muito tempo na aldeia de Boquia, mas voltei para a de Noquia por minha mãe. Eu simplesmente imaginei que poderiam estar aqui em Avardam, fingi estar em busca de dinheiro. Karmen estava com falta de guardas e me contratou, sem nem mesmo duvidar de nada.

- Então veio nos ajudar? - Comentei ansiosa.

- Elise, nós primeiro precisamos de um plano, imagina só se algo da errado, como ele não ficaria nas mãos de Karmen? - Marcelo comentou.

- Marcelo está certo. - Jacke apoiou.

- Qual seu nome ? - Mick indagou.

- Ernesto, Vossa Majestade.

- Nós precisamos de um então, que inclua todos nós e minha mãe. - Admiti pela primeira vez que Sara é minha mãe. -

- Para começar precisamos de algum sinal secreto para ela saber quando aqui em baixo estiver com os outros guardas que não sejam eu. - Ernesto disse.

- Confere, já fizemos isso, espirro e tosse. Seria uma boa ideia, você conseguir avisar a todos de Noquia que estamos bem. - Jacke opinou.

- Mas nós não estamos bem. - Respondi.

- Mas nós precisamos acalmar o povo Elise, eles precisam estar preparados para a guerra.

- Eu não vou lutar pelo povo de Arvardam.

- Existe esse problema. - Mick suspirou.

Paramos de conversar, cansamos, mesmo existindo inúmeras coisas para serem discutidas, logo depois Ernesto se foi, era troca de turno.

- Vamos subir, você irão comer. - O homem disse rude.

Todos nós levantamos, tirando a sujeira da roupa.

- De dois em dois. - Ele quase gritou. - Esses prisioneiros acham que podem mandar em tudo. - Sussurrou para si, mas nós ouvimos.

Em uma troca de olhares eu e Marcelo nos entendemos, deixaríamos que meu pai e Jacke subissem para que conversássemos um pouco.

- Podem ir. - Olhei para meu pai e Jacke. Meu pai concordou tranquilo, mas Jacke nos queimou com o olhar.

Todos saíram e Marcelo me encarou, claramente esperando que eu comece a falar.

- Me perdoe por desconfiar de você. - Olhei para o chão sem graça.

Ele se aproximou e levantou meu rosto com um toque delicado em meu queixo.

- Sempre, sabia que não ia acreditar.

- Obrigada. - Sorri. - Por um momento eu acreditei, mas pensei bem no que me falou.

- Que bom que fez isso, mas se houver uma próxima, pense mais rápido, já estava com saudades.

Sorri e o puxei para mais perto, o que queria agora era aquela sensação de segurança e conforto que me passara aquele dia. Ele me segurou pela cintura e juntou nossos lábios, me beijando delicadamente, e posso dizer, foi muito confiante que da outra vez. Descolei nossos lábios e o dei um abraço apertado.

- Marcelo, não podemos deixar Jacke ver isso.

- Por que?

- Não importa agora.

Ele sorriu e me puxou novamente para outro beijo. Depois nos sentamos e começamos a discutir sobre nosso passado, esperando nossa vez de almoçar.


A Garota da Capa Azul - RevisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora