Nas Garras do Falcão

O Falcão

Jacob balançou a cabeça repetidamente em negação.
Ainda estava tentando falar com sua noiva após aquele tempo todo.
Pesou em várias formas "aliviantes" para ela não atender aquele maldito telemóvel.

Sabia que não devia ter permitido tal loucura acontecer. Essa viagem era realmente a pior artimanha de Karol , a má compania para sua Hadassa.
Carmem, sua secretaria pessoal , entrou na sala e fechou a porta devagar. A loira de olhos verdes tentava se manter a par de toda essa situação para "ajudar" seu patrão.
Seus interesses , obviamente, eram bem distintos desse.
Na real , era a oportunidade perfeita já que a noivinha estava longe.
- Sr. Campbell, precisa de algo? - A loira sorria insinuosa.
O homem de cabelos castanhos nem a olhou direito , o que a enfureceu um pouco.
- Não Carmem. Volte ao trabalho.
Ela estava com a faca e o queijo na mão. Não iria desperdiçar a oportunidade por nada.
Ignorou a forma com que foi tratada e prosseguiu, astuta.
- A senhorita Hadassa ligou a pouco. - Soltou e observou um ânimo em seu chefe.
Ele se pôs de pé e foi até ela, segurando seus dois braços e olhando fixo em seus olhos.
- O que ela disse?- Ele estava pronto pra sacudir a loira se demorasse a responder.
- Que estava tudo bem e que está se divertindo muito. - A loira viu um pouco de preocupação ao falar da diversão.
O homem queria acreditar em uma diversão sem bagunça e problemas. Na verdade queria acreditar que a diversão era dentro do quarto vendo uns prédios da janela do hotel.
Soltou Carmem.
- Obrigada. Pode ir - retornou ao seu lugar e se sentou.
Seu ciúmes estava começando a incomodar um pouco.
- Sim senhor.- Carmem se retirou se sentindo vitoriosa.

*******

Paramos em frente na eesquina antes da entrada do local da reunião. Um homem lá dentro falava algo na língua oficial, árabe.
Eu havia estudado hebraico a algum tempo atrás e na carreira peguei árabe também. Não era uma língua difícil. Do contrário, era linda e seu sotaque parecia a encher de flores.

-- Nem sei como te agradecer.- Aisha sussurrava ao pé do meu ouvido. - Espero que Deus te abençôe.

A menção de Deus me fez pensar em minha família. Eles enlouqueceriam se soubesse o que estava a acontecer.
Prestes a cair nas garras daqueles costumes orientais. Eu ouvi muitas historias daqueles homens e realmente me amedrontava.
Não podia fazer aquilo.
Estava prestes a dizer a mesma coisa para Aisha porém sua expressão tornou-se aflita e ansiosa ao mesmo tempo. Ela recuou um pouco.

Percebi que a voz do homem se calou e pareceu surgir um alvoroço de vozes. Indicava o término.

--- Entrarei em contato.--- a jovem muçulmana se afastou correndo até desaparecer de minhas vistas.

Era a minha chance de sair correndo também. Mas o que haveria com ela? O que aconteceria com Aisha?
Era só um mês afinal.
Deveria me preocupar comigo mesma. E se descobrissem quem eu era?

--- Asslamualykum Sheikha Aisha --- um jovem com turbante vermelho se aproximou --- Felicidades pelo casamento.

Fiquei sem saber o que dizer e somente respondi "Chukran" que é obrigada e fiz isso varias vezes para as várias pessoas que por mim passavam desejando Felicidades.

Havia muitos deles e em certo momento surgiu uma mulher com um véu semelhante ao que Aisha me dera. Porém seu rosto estava a mostra.

--- Onde você esteve filha?--- ela não queria esperar uma resposta --- Não interessa, vamos!

Aquilo era loucura. Meu coração batia desesperado a medida que ela me arrastava para perto de um homem que estava cercado pelos demais.
Sua manta tinha adornos dourados como de ouro, sua pele morena era perfeita e junto de suas maçãs estava uma barba impecável.
Parece que aquele turbante não era o bastante pra cobrir seus cabelos negros rebeldes. Ele era alto e apesar daquelas roupas todas, seu corpo forte se destacava.

Me vi presa em seus olhos com cilios grossos. De súbito, os dele encontraram os meus também.

Tremi.

As sobrancelhas dele se juntaram e seus olhos pairaram sobre os homens a sua beira.
Nem percebi que havia parado e que a mulher que me arrastava havia me deixado para se chegar aquele homem.

--- Sheikh Hamdan--- a mulher fez uma reverência
discreta --- Aqui está sua futura esposa.--- ela apontou pra mim.

Não havia volta aquele momento. A idéia daquele homem ser o Sheikh me fez sentir tanto medo a mais do que o simples arrepio.
Dessa vez ele não me fitou diretamente nos olhos, apenas se aproximou devagar e quando estava a minha frente se inclinou até meu ouvido.

--- Você parece assustada meu amor, o que foi?--- sua voz rouca me fez sentir um arrepio desconcertante.

Optei em ficar quieta e mesmo se não escolhesse isso não conseguiria falar nada.
Ter outro homem me chamando de meu amor me assustava e me fazia desejar que Jacob aparecesse para me salvar daquele homem desconcertante.

Ele se ergueu e sorriu para a mulher que eu começava desconfiar ser a mãe de Aisha.

--- Nós já vamos tia Shana--- seus dedos largos e quentes pegaram minha mão e apertaram contra eles. Ele me olhou sorrindo --- Minha esposa aqui parece cansada.

Manti minha visão sempre no chão me perguntando o que tinha feito a mim mesma. Ainda não era tarde para voltar atrás, eu pensava nisso o tempo todo.
Se eu não tivesse prometido a Aisha...

--- Minha filha --- a mulher confirmou minhas suposições dizendo isto. Ela me abraçou e quando se afastou suas duas mãos estavam em minhas faces cobertas pelo tecido negro.
Jurei por um momento que ela fosse derramar uma lágrima, mas não o fez.

Hamdan parecia incomodado com a demora. Suspirava alto várias vezes como se estivesse entendiado. Por fim ele me puxou para mais perto.

--- Vamos logo, as pessoas estão olhando. --- era uma ordem.

Shana me soltou e se afastou. O Sheikh então virou e e se afastou me levando junto.

*******

Karol abriu a porta do quarto e correu para dentro vasculhando todo o local.

--- Hadassa! --- chamava por onde ia , mas nada era respondido.

Levou as mãos a cabeça e se sentou na cama , onde horas antes estavam.
Era responsabilidade dela a jovem , ela era a mais velha e disse que cuidaria dela . Por mais que Karol fosse um pouco louca , amava a menina. Era como uma irmã mais nova.
Não podia ir até um local buscar ajuda pois eram ilegais no lugar e seria muito pior.

O toque do celular atrás da mulher tocou a música preferida de Hadassa , ela gostava do toque que surgia ao decorrer do som.
Karol pegou o aparelho e se viu ameaçada ao ver que Jacob ligava. Apesar do medo , ela precisava de ajuda e alguém deveria saber.
Ele não estava a par de toda a situação. Na real , como advogado nunca permitiria que sua noiva viajasse daquele jeito para outro lugar.
No início Hadassa se recusou a mentir para ele , mas por fim Karol a convenceu. Isso a fazia sentir mais culpada ainda. Tinha que assumir.
Atendeu a ligação e ouviu um disparate de perguntas preocupadas vindas de Jacob do outro lado. Esperou ele terminar primeiro para começar a dizer.

--- Jacob...é a Karol...

Um silêncio do outro lado.

--- Preciso...dizer...er --- ela não sabia como dizer

--- Onde está minha noiva? --- seu tom grave ia aumentando.

A mulher engoliu em seco.

--- Eu não sei.

-----------------------------------------------------

Obrigada por lerem amores. Espero que estejam curtindo. Perdoem os erros.