Pelo Falcão

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     Havia se passado apenas dois dias que eu havia saído do papel de Aisha, papel que foi atribuído a mim pela própria Sheikha. Uma armação.
     Mais ,as sensações que a experiência havia me proporcionado ainda estavam fluindo em minhas veias. Também permaneciam em meus longos pensamentos, até em meus profundos sonhos. A todo momento me perguntava sobre Hamdan.
   
   Como ele está?

Karol reparava em minha inquietação. As vezes eu pegava seus olhares sobre mim, em seus pensamentos eu acreditava estar sendo julgada. Ela mal falava comigo, dificilmente me olhava e na maioria das vezes me ignorava.         Normalmente quem agia daquela forma era eu. Sempre quando ela aprontava alguma nas festas em que ia.

Passei a mão em meus fios.

Eu me mantive tão acostumada com o véu,que era até estranho andar sem ele. Na verdade, era estranho quase tudo. Internamente me preparava para o encontro com Jacob,que estava a caminho de Dubai naquele exato momento. Seria estranho também reencontra-lo.
Como o encararia sabendo o que havia feito naquele deserto? Não foram toques sem intenções, foram maliciosos, e eu sabia. Eu quis.

  Refleti sobre os acontecimentos e descobri somente uma culpada: Eu.
Talvez Karol tivesse razão, eu tinha mesmo me apaixonado por Hamdan, e isso me fazia me sentir mal pela culpa que implicava. Eu me sentia tão baixa quanto qualquer mulherzinha por aí. Jurei amor ao meu noivo e troquei caricias com outro. Senti repulsa por mim mesma. Dentro de mim prometi que aquilo tinha chegado ao fim de uma vez por todas.

Karol entrou no quarto batendo a porta, chamando a atenção para si. A olhei, com o mesmo olhar daqueles dois dias em que havia deixado o Al Falasi , tristeza e culpa. Eu pensava no quanto ela foi dura com as palavras naquele dia, me doía só de lembrar. Mas eu sabia que ela tinha razão por um lado, porém estava completamente equivocada por outro.

  ---- Jacob logo estará aqui. ---- anunciou, com um tom seco. Era evidente a amargura.

Eu sabia que ela tinha o direito de estar magoada, mas não entendia o motivo de tanta repercussão da parte dela. Porque agir daquela forma? Felizmente,minha voz alcançou ela antes que pudesse sair de novo pela porta.

  ---- Você sente algo por Jacob?
---- Perguntei, vi minha "amiga"  ficar pálida e estática no mesmo lugar. Foi uma pergunta feita a partir de um pensamento momentâneo. Mas após ver a cara dela,realmente quis saber.

Ela pôs a franja atrás da orelha,formulando algo minuciosamente para me responder. Estava preparando seu testemunho de defesa,mas eu não queria ouvir. Assim que abriu sua boca minha mão também levantou,impedindo ela de começar a falar.

  ---- Quer saber? Eu não quero nem te ouvir! ---- Caminhei até ela ----  Todo esse tempo, manteve esse sentimento? Por isso sempre esteve tão proxima e sempre me fazia ir contra as vontades dele. Era pra o nosso relacionamento acabar né?

  ---- Eu não te devo satisfações da minha vida, muito menos de meus sentimentos. Se é isso que pensa,vai em frente. Só não quero que Jacob sofra.----
  Ela falou com um pouco de dificuldade,era evidente que não havia nenhuma desculpa melhor para dar.

  ---- Você tem razão. Não me deve mesmo.Assim como não devo a você.---- falei rispida passando por ela e me livrando daquela "prisão" mental.

Nunca imaginei que Karol sentisse algo por Jacob. Mais,por pior que isso seja,eu não conseguia sentir raiva ou ciúmes dela. É como se eu não ligasse mais. Me senti uma egoísta, assim como Aisha.

  Só não quero que Jacob sofra.

Tsc.

Desci até o saguão do Hotel e fiquei sentada por ali mesmo.Novamente lembrei de Hamdan e ,logo após, de Maj.
Seus fios negros desgranhados e seus abraços desajeitados. Eu havia passado a me acostumar em vê-lo todos os dias,falante como nunca, e com um sorriso sapeca.

Nas Garras do FalcãoOnde histórias criam vida. Descubra agora