Nas Garras do Falcão

O Falcão Prepotente

   Me espreguicei sobre a cama macia sentindo uma enorme onde de cansaço. Gastei muito tempo no dia anterior inventando detalhes e falas complicadas para uma história simples e pequena. Tudo isso para que o Sheikh não fizesse o que eu imaginava que ele ia fazer comigo.
Eu o amava muito, mas nem por isso permitiria que ele tirasse minha honra de mim sem ser totalmente meu, como eu era dele. O tempo passou e ele acabou se esquecendo do propósito que o levou até mim, assim como eu. Adormeci em seu peitoral músculo, ouvindo seu coração.
Me sentei sobre a cama e mais uma vez me vi deslumbrada com o quarto em que estava. Era tão lindo quanto qualquer lugar do novo Al Falasi.
 
  Olhei então para o lado e antes que me perguntasse por onde ele estaria, seu corpo atravessou as duas grandes portas brancas com detalhes dourados do quarto.

Estava normal com camisa e calça porém um turbante xadrez com vermelho e preto lhe cobriam os fios negros.
Ele não parecia o mesmo com quem dormi. Novamente ele voltou a ser o Sheikh prepotente, mal e amargurado.

Me levantei da cama e caminhei até ele.

   ---- O que houve?

Ele ignorou minha fala e me fitou diretamente em meus olhos.

   ---- Você vai dormir junto comigo aqui nesse quarto, vai se manter sempre no Al Falasi, sair só com seguranças ou comigo, pede ler, escrever, ou fazer o que quiser apenas aqui no palácio. ---- foi rispido.

Pisquei várias vezes.

  ---- Do que você está falando?

Ele estendeu o dedo como se tivesse esquecido de algo, assim que ele começou a falar entrou quatro serviçais atrás dele e um jovem que conhecia bem, Abud. Cada um trazendo algo consigo, roupas, jóias, etc.

  ---- Eles irão te servir em tudo que precisas. ---- ele se aproximou mais de modo que só eu o ouvisse quando falasse, deixando também seu doce perfume entrar em minhas narinas  ---- Esteja pronta está noite....E todas as da sua vida de hoje para frente.

  Então ele saiu com o passo pesado para longe de mim e a porta bateu com força. Fiquei parada com cara de ponto de interrogação.

  ---- Querida. ---- Abud me chamou a atenção, um brilho fascinante em seus olhos ---- Eu sou teu servo fiel.

  Ainda não entendia. Abud sorriu e completou.

  ---- O Sheikh a tomou como esposa Hadassa.

Admito que tudo o que mais desejava era Hamdan, mas naquele momento meus sentimentos de amor por ele se sentiram feridos. Desde mais nova sonhava em me casar com uma grande cerimônia e festa. Então naquele dia ele decidia me tomar como os guerreiros tomam despojo de guerra? Andaria e apresentaria ele como meu marido e de outras cem?

O dia passou rápido, entre o por do sol e o surgir da lua junto com a escuridão, eu me manti sentada na larga janela que dava para os jardins entre fontes. Evitava olhar para as roupas e adornos que me recusei a por mil vezes para Abud, até que ele desistiu e foi embora junto com as outras serviçais. A idéia de ser um despojo ainda martelava em minha mente.

Ouvi as largas portas se abrirem e fecharem. Não me virei para olha-lo entrar com seu ar  carregado de prepotência. Internamente desejei o Hamdan da noite passada novamente. Uma lágrima caiu de meus olhos, abri a boca e minha voz saiu tão rouca que até eu desconhecia.

  ---- Eu achei no começo que você era uma pessoa tão má  que não merecia o amor de ninguém, Hamdan.

  A respiração forte dele estava bem atrás de mim. Sua voz lançou-me um tom irônico.

  ---- Não é a primeira pessoa a pensar assim, Hadassa.

Tomei forças e o olhei. Seus fios estavam úmidos como quem sai do banho e sua roupa era a mesma que a de manhã cedo. Sua pele morena reluzia com a luz da lua. Sua barba estava perfeitamente feita e seus olhos tão escuros como antes. Ele me encarava severamente, apesar de soar irônico.

Manti um tom firme, apesar de querer desabar em seus braços naquele momento. Meus olhos percorrem tanto seu corpo músculoso quanto seus lábios viciosos.

   ---- Mas ao contrário dessas pessoas eu tive a oportunidade de conhecer você de verdade.

Ele sentiu receio ao ver outra lágrima cair sobre minhas bochechas. Minhas palavras lhe causaram um certo efeito fazendo-o perder a pose de durão pela primeira vez.Quando senti meu corpo enfraquecer suas mãos fortes me sustentaram, um arrepio pela proximidade de nossos corpos subiu minha espinha, mas não consegui erguer meus olhos para encará-lo.
Seus lábios então roçaram em meu lóbulo antes de mordiscalo devagar, após roçou sua barba em minhas maçãs do rosto.

  ---- Vamos adiar esta conversa. Gostaria de algo mais? ---- sua voz foi insinuosa.

  Quando abri a boca para responder sua pergunta, protestando contra sua proximidade, seus lábios tomaram o meu com muita avidez. Não consegui para-lo e nem falar o que pretendia. Quando enfim sua língua explorou a minha de forma sexi e ele se afastou para beijar-me em outra parte, me afastei esvairando de seu aperto.

  ---- Eu....eu...Eu não quero assim.

  Ele bateu com os punhos no corpo e vi suas sobrancelhas se unirem.

  ---- Não quer assim? Então como quer minha pequena virgem? Ainda espera por Jacob, seu noivo, vir busca-lá Hadassa? ---- zombou com desdém.

Me perguntei como ele sabia aquilo, mais não importava mais, a raiva tomava conta de mim.

  ---- Não somos mais noivos. ---- disse entre dentes.

  ---- Claro que não. ---- usou sarcasmo.

  Seu tom irônico me deixava possessa de ira, então num tom descontrolado desabafei o que sentia, sentindo em mim um profundo alívio.

  ---- Se estou aqui é porque te amo e não há mais nenhum lugar no mundo para mim. Mas não serei sua como despojo de guerra, sendo você Sheikh ou não, não será assim.

  Quando assimilei tudo o que falei senti minha pele corar de surpresa. Se minhas palavras causaram algum sentimento nele, soube esconder muito bem, pois mantinha-se impassível. Mesmo quando toquei seu braço, só pude sentir ele estremecer. Depois de um breve silêncio eu pude ouvir sua voz.

   ---- Você acha que vou me casar com você?

Meu coração percebeu o quanto soou engraçado para ele. Respirei fundo.

  ---- Então sendo assim, eu posso ir embora.

Sai da janela e caminhei rapidamente até a porta, imaginando que ele me deteria. Mas quando vi ele continuar no mesmo lugar onde estava parado, descobri que eu pouco importava para aquele homem.

  Mais tarde, um dia qualquer, descobri que uma pedra cristalina caiu de seus negros olhos.