As Lágrimas do Falcão

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  Quando Abud chegasse para trabalhar ia perceber o quanto falhei em nosso plano.

Ele balançaria a cabeça levemente em sinal de desaprovação. Pensaria que mesmo ele me avisando,havia me arriscado e tivera me dado mal.

Eu também pensei assim quando olhei o cano da arma em minha cabeça. Mas eu não era o alvo naquele momento,mesmo assim me entreguei. Mesmo assim também, temi. E muito.

Hamdan não tremia nem vacilava com a arma. Parecia que ele atirava o tempo todo, o que não deixava de ser verdade. Ele nem sequer chorava. Mesmo com seus olhos vermelhos, ele ria. Ria como um sádico, um louco psicopata.

  ---- Tudo isso as minhas costas. Os três me enganando. Nunca nem imaginei Aisha...Não é? Agora os três vão pagar por isso...Ou melhor...Os quatro. ---- cuspiu suas palavras com seu sorriso maléfico.

A intensidade do choro de Aisha aumentou.

  ---- Não, Não, por favor. ---- ela juntou suas mãos em sulplica.

A voz de Majid soou como um fio de esperança.

  ---- Hamdan não faça nada que se arrependa depois. Vamos entrega-los para serem julgados de acordo com as leis da  Sharia, mas por favor, não suje suas mãos.

O homem não deu ouvidos a seu irmão.

  ---- Esse filho que carrega nem sequer é meu, não é? ---- ele perguntou.

Ela assentiu com a cabeça, derrubando lágrimas, em sinal que era.

  ---- Mentirosa! ---- ele berrou balançando a arma.

  Algumas pessoas que assistiam a cena deram gritos e tamparam os olhos.

Em certo momento, eu consegui reunir forças e o olhar bem nos olhos. Os dele logo encontraram os meus e mesmo com tanta raiva e ódio, eu pude ver suas pupilas se dilatarem.

  ---- Não faça nada com eles. Eu carrego toda a culpa em minhas costas. Por Favor, eu te peço. Faça o que quiser comigo, mas não mate ninguém.

  Eu realmente só me sacrificava pelas pessoas erradas.Mas naquele momento eu não podia deixar Hamdan sujar suas mãos. E se Aisha realmente estivesse grávida e ele matasse seu bebe, suas mãos estariam carregadas de sangue inocente. Eu não queria isso.

Ele não parava de me fitar. Dentro de sua mente minhas palavras ecoavam. Sua raiva pedia alguém para pagar por aquilo. Ele necessitava ser vingado.

  ---- Eu faço o que quiser...---- minha voz saiu como um fiapo entre minhas lágrimas.

  ---- Hamdan pense bem... ---- A voz de Majid o alcançou também.

   Depois de um tempo, ele se moveu e bruscamente me arrancou da frente de Aisha e Nasser. Suas mãos apertavam meu braço com fúria. Ele me fez olhar em seus olhos enquanto disse entre dentes:

  ---- Você agora é minha.

Ele abaixou a arma para o alívio de todos. Pena que o alívio de Nasser e Aisha duraram pouco.

  ----  Assad cuide desses dois. Quero uma punição de acordo com a Sharia.

  O que a Sharia determinava para traição, era morte. Mas ninguém poderia mais fazer nada. Estava envolta em meus pensamentos quando a voz dele me atingiu.

  ---- Maryam, leve ela para aquele quarto isolado na área leste do palácio e a tranque lá.

  Maryam parecia ser a única satisfeita, até o momento em que ele falou isso. Ela olhou para mim com o olhar altivo e a contra gosto fez o que ele havia ordenado.

Mahra, Majid e Assad me olhavam torto. Cogitavam o que estavam acontecendo em sua mente e se tornaram descrentes.

  O quarto onde fui trancada era pouco iluminado e menos bonito que os outros. Havia lá apenas uma cama com colchão e um guarda-roupas antigo. Senti medo por conta do escuro que predominava. Me encolhi em um canto com a cabeça entre as pernas.

Era difícil não pensar em Hamdan e chorar.

...

  Quando Hamdan chegou em seu quarto ao nascer da alva, não havia mais paz e sossego em seu coração, nem na sua alma.

Ele sentiu-se o pior dos tolos, o mais fraco dos reis e o mais frágil das potestades.

Seu coração estava partido em mil pedaços. Aquele era o único lugar em que ele poderia chorar livremente, então o fez.

Seus joelhos bateram no chão e suas mãos foram a cabeça.

Porque?
 
  Ele quis saber o que havia acontecido ou que havia feito para merecer aquilo. Se perguntava se havia sido ruim demais com ela, se alguma vez a chateou ou se até a machucou. Mas não conseguia lembrar de nenhum momento em que havia feito isso.

Exceto um episódio.

Mas não havia sido culpa dele. Ele não pode fazer nada para evitar. Ele estava fora de si.
Não queria mais ficar ali em seu quarto, se sentindo um homem mal, da pior espécie. Ao seu lado estavam as garrafas de vinho vazias. Sua visão começava a embaçar, mesmo assim ele se levantou e seguiu até a área leste,cambaleante e o cabelo desgrenhado. Em sua mão a chave da porta que Maryam havia lhe entregado assim que a trancou lá.
A porta abriu sem muito barulho e ele a encontrou caída no chão. Seus longos fios de cabelo lhe cobriam o corpo ao mesmo tempo em que a aqueciam. Havia uma parte de seu rosto a mostra, estava quieta e serena. A raiva ia e vinha dentro de si.

Estúpido.

Repreendeu  a si mesmo por estar ali, observando aquela jovem, queria tanto odia-lá mais não conseguia. Via ela como uma garota ingênua realmente, alguém que se atira na frente de infieis é no mínimo louca.

Ia voltar a seu quarto mas antes disso, pegou Hadassa no colo e a levou até a cama, depositando seu corpo devagar. Olhou com atenção sua face quando estava perto, ajeitou seus fios de cabelo para trás temendo que eles entrassem em sua boca enquanto dormia e a cobriu com um lençol do guarda-roupas.

  ---- Você é tão estúpida quanto eu. ---- sussurrou.

As mãos dele se levantaram para tocar a face dela novamente involuntariamente, mas ele impediu abaixando ela. A raiva voltava a dominar seu corpo, ele saiu de perto dela bruscamente, quase caindo para trás. Ela mexeu a cabeça devagar como se fosse acordar, mas continuou dormindo. Ele saiu então após trancar a porta novamente.

...

Tá gostando do livro que está lendo? Eu to construindo um universo sabia? Que tal me da uma estrela. XD

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BEIJOS DE LEITE NINHO

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