Sem saída

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Não era bem o que Aisha me disse.
Não ia ser uma cerimônia e nem nada. Percebi na metade do caminho que quer o que seja os país dela já tinham assinado primeiro e isso valia.
Era aquela folha que ele carregava em sua mão, sentado ao meu lado no carro que me fez saber isso.
Pobre menina.
Apesar do arrependimento, eu no decorrer do trajeto fui conhecendo o desespero da jovem e a entendendo.
Me peguei olhando para ele e imaginando o quanto ele deveria ser como ela falou, mal.
De surpresa ,ele me olhou nos olhos e abriu um sorrisso largo revelando dentes brancos e retos.

Não podia negar , era um moreno fascinante.

--- O que se passa nessa mente ? --- sua voz grossa soou divertida.

Fiquei em silêncio e ele se chegou a mim mais.

Num momento seus dedos largos pressionavam meu queixo e bochechas me fazendo o olhar.
De perto aqueles cilios pareciam tão grossos e escuros como dantes. Sua expressão era séria agora.

--- O que há com você? Diga alguma coisa para seu esposo. --- sua voz se mantinha firme e seus dedos apertavam minha face mais e mais de uma forma que começava a doer --- Quando eu falar , de agora em diante é melhor que abra a boca. --- Suas sobrancelhas se juntaram --- Entendeu ?

Ele começava a se revelar a figura descrita por Aisha.

Cretino.

Se eu pudesse o mandava se lascar , porém, não era eu ali , era Aisha.

--- Sim...Meu senhor --- lembrei de umas formas de tratamento que a Sheikah havia me ensinado e uma delas era a forma certa de se dirigir o marido.
Aquilo me foi útil no momento. Ele pareceu satisfeito e vitorioso. Mas não largou meu queixo , o manteve perto para encostar seus labios nos meus por cima do tecido.

--- Ana Habik --- pronunciou em um árabe impecável.

Era visível que ele desconhecia o que dizia, aquele sentimento.
Mal acabara de se casar e pronunciava aquelas palavras.
A não ser se havia algo entre ele e a prima antes , o que pra mim estava fora de cogitação.

Ele se afastou e retornou para seu lugar anterior , porém sua mão cobriu a minha a viagem toda.

Fui perceber que estávamos dentro do terreno dos Al Maktoum , quando aquele carro parou .Percebi uma imensa vegetação com coisas ao qual não conhecia por ali.

--- Venha --- Hamdan já havia saído e tinha aberto a porta do meu lado.

O brilho do sol batia contra sua pele morena e percebi o quanto aquelas roupas o moldavam. Aquilo em sua cabeça parecia um véu , mas era elegante ainda assim.

Obedci a sua palavra e sai do carro já de queixo caído.

Aquilo era um conjunto de várias mansões juntas. Mas mesmo assim, nada se comparava. Sua arquitetura tinha traços árabes originais.
Por dentro ainda mantinha esses traços , mas também havia muitos modernos. Tapetes e cortinas continuaram a enfeitar o palácio dos palácios. Ou seria , Al Falasi ? dei de ombros.

Era muita coisa pra ver ali. Serviçais também eram muitos para tudo aquilo.

Chegamos em uma sala cheia de quadros com patriarcas pintados neles e para ela tinha várias entradas. Por uma dessas entradas entrou um homem mais velho acompanhado de uma mulher loira um pouco mais nova que ele.

--- Pai --- O Sheikh se aproximou e o beijou no rosto.

--- Que a paz esteja com você--
Ele também beijou o filho.

É um gesto comum entre homens nos Emirados , demonstra amor e respeito.

O senhor Al maktoum me olhou sorrindo.


--- Minha filha Aisha. Seja bem vinda a sua casa.

--- Obrigada....tio --- eu tentava soar o mais original natural possível , mas sempre mantendo o tom baixo.

Hamdan e o pai se entreolharam em silêncio , porém pareciam convesar daquela forma. Ambos sérios.

Depois de assentir com a cabeça ele veio até mim e segurou minhas duas mãos com as suas.

--- Habibi , eu tenho que resolver uns assuntos com os oficiais de Abu Dabhi. Me espere no nosso quarto.--- seu alito fresco entraram por minhas narinas.

Assenti de leve.

--- Haya vai lhe mostrar o quarto-- se referiu a mulher que acompanhava seu pai.

Sempre pensava na verdadeira Aisha. Queria muito que ela sumisse com seu amado , afinal meu sacrifício não seria em vão.

Segui Haya por algumas salas até atravessarmos uma porta larga e branca. O quarto era enfeitado com cortinas vermelhas e cobertores , havia rosas também. Em seu meio estava uma larga cama coberta por pétalas da rosa e percebi um caixinha de veludo preta lá também.

--- Tem umas roupas naquela porta --- ela apontou para uma que ficava perto da janela grande cobrida por cortinas.

Com certeza , aquilo eu nunca poderia ter na minha vida normal. Talvez eu devesse aproveitar mais do momento , como Karol sempre dizia.

--- A sim.--- caminhei até a cama devagar , visando a caixinha preta --- O que é isso?

Haya sorriu.

--- É um mimo do seu marido. Ele quer que use amanhã cedo na corrida de falcões.--- ela mantinham um olhar sereno.

Apanhei a caixa e abri.
Era um colar cheio de pedrinhas brilhantes e tinha um pingente em forma lua que parecia ser diamante.

Uma ricassa com outro ricasso parecia injusto para mim. Aisha realmente não precisava daquilo.
Fiquei tão fascinada que quando percebi já havia posto o colar.

--- Belíssimo --- Haya exclamou.

--- Tão injusto --- disse o que pensava minutos antes.

--- O que princesa ?

--- Nada --- respondi com a respiração presa --- Só acho um tanto injusto não poder beija-lo agora --- disse

Levei a mão a boca quando percebi o que disse. Mas Haya parecia tranqüila dando até uma risadinha.

--- Já vou indo Aisha --- ela caminhou em direção a porta e parou --- Ah, se seu esposo não vier hoje , não o amole.

Entendi bem aquilo. Era como se eu pudesse ficar ali o tempo todo sozinha porque o sheikh devia estar na farra ou no harém.
O que era ótimo.
Me deu um pouco de raiva imaginar como um marido fazia esse tipo de coisa , mas me recordei onde estava.

--- Não vou incomoda-lo com isso --- dei de ombros

Assim que assentiu e após saiu fechando a porta , corri até lá para tranca-lá.

Analisei o quarto procurando algo como um aparelho celular ou qualquer coisa e arranquei o véu de minha cabeça fazendo com que meus longos fios rebeldes caíssem sobre minhas costas.

Caminhei em direção a janela para observar a área de uma possível fuga e vi que era impossível. Entrei então na porta que estava perto dela e vi roupas , muita delas , porém todas compridas e longas.
Descobri umas camisas masculinas dobradas em baixo dessas roupas, peguei uma azul escuro e pus em mim eliminando a anterior.

Meu corpo ficou mais leve.

Voltei a busca pelo telemóvel e depois de um tempo cai sobre a cama cansada e convicta que não havia como achar um ali.


Horas depois acordei com uma mão em meu pescoço....

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* Ana Habik : Eu te amo

* Habibi : Meu amado / minha amada

Nas Garras do FalcãoOnde histórias criam vida. Descubra agora