Hamdan

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Senti minhas pernas formigarem por baixo do coberto espesso de lã, isso fez com que meus olhos se abrissem e de súbito encontrassem o nascer da alva. Mas do que isso, assim que me virei para o lado encontrei um rosto. Com as maçãs bem vermelhas em contraste com sua pele morena, lábios finos e cabelos pretos. Sem nome,sem idade,sem histórias, sem paradeiro. Eu não conhecia nada sobre ela, e sinceramente, não me importava. Só queria um rosto para tentar esquecer o que me atormentava internamente.
Esquecer o que o amor e a mulher em que havia passado noites em claro pensando e criando idéias para o nosso matrimônio fizera. Agora tudo não passava mais de uma grande mentira.

Senti meu sangue ferver.

A jovem ao meu lado começou a despertar devagar. Quando em fim seus olhos se abriram e ela recordou o que houve seu medo gritou por dentro de seu frágil corpo, eu pude ver suas mão trêmulas e além disso, o modo como seus olhos se arregalaram.

Todos comentavam sobre mim,o quanto eu era um sheikh tirano e ruim. Mais do que isso, eu ouvia murmurios sobre a traição de Aisha, alguns falavam que eu havia errado dando muita liberdade a ela, também falavam que o profeta ria de mim no paraíso. Porém havia também um grande número de pessoas que gritavam pela morte de Aisha e Nasser, eles tinham tanta sede de sangue como eu. Essas pessoas me olhavam com tamanho respeito quando me encontravam pelo palácio, as vezes pareciam até que eles queriam matar os traídores com suas próprias mãos.

  Mas na real, não. Eu não matei nenhuma jovem que deitou ao meu lado nessas noites. Mas era isso que todos falavam quando essas moças não retornavam para casa, quando na verdade, eles nunca pararam para pensar que elas estavam em meu hárem.

Esse pensamento me fez lembrar da jovem que eu havia tomado para mim como sacrifício por Nasser e Aisha, mesmo que eu não tivesse idéia do que fazer com ela. Ela sabia sobre  os comentários das jovens virgens e fez questão de deixar claro isso. Confesso que sua audácia me assustou ao mesmo tempo que me excitou, mas não me permiti deslumbrar ela mais do que isso. Porém tive que beija-la, inexplicavelmente, eu quis sentir o gosto de seus lábios, saber se eles eram tão audaciosos quanto suas palavras.

Um empregado apareceu auxiliando a moça a se vestir para levá-la até o Hárem. Quando percebi quem era levantei-me devagar da cama e caminhei até ele.

  ---- Abud, queira me desculpar pelo meu comportamento agressivo do nosso último encontro.

  Ele deu um sorriso rápido junto de uma reverência.

---- Não se preocupe meu senhor. Eu estou aqui apenas para servi-lo.

  Disse e após, encaminhou a jovem para a saída do quarto, me deixando sozinho novamente.

Era assim que eu passava a maior parte do tempo após descobrir a traição: Só e recluso. Saía apenas para as orações que fazia no dia ou para ir no quarto da jovem observa-la, mais do que isso, sentir calma. Olhar ela dormindo me proporcionava uma sensação tranquilizadora e prazerosa. Mas no fim eu acabo sentindo raiva por estar ali junto com uma traidora, saio lembrando das palavras que ouvi antes dela tirar o véu e mostrar quem realmente era.  
Na prática, perdoar a pessoa ingênua era bem mais difícil. Eu tinha que escolher entre mata-lá ou guarda-lá naquele cômodo para sempre.

Felizmente, eu começava a criar planos para aquela jovem.

Após a primeira oração do dia, segui para área leste e quando abri a porta ela estava em pé com os braços para trás.

Parecia estar me esperando.

  ---- Sheikh. ---- sibilou ela.

Fechei a porta e me aproximei.

Nas Garras do FalcãoOnde histórias criam vida. Descubra agora